19 Abril 2024
"Pastores incontestes das artimanhas guerreiras começam fazendo uma tremenda confusão entre governo israelense e povo judeu", escreve Edelberto Behs, jornalista.
O pastor sênior da Primeira Igreja Batista de Dallas, Robert Jeffress, 68 anos, declarou, com todas as letras, que cristãos têm “a responsabilidade moral e espiritual” de apoiar Israel, e quem não o faz está no lado errado da história.
“Estar ao lado errado de Israel não é apenas estar do lado errado da história, é estar do lado errado de Deus”, disse em entrevista para o portal The Christian Post.
E por que os cristãos têm esse compromisso moral? Porque “acima de tudo, Israel abençoou este mundo ao nos apontar para você, o único Deus verdadeiro, por meio da mensagem de seus profetas, das escrituras e do Messias”, alegou.
Esses ventríloquos do governo israelense conseguem justificar a matança de civis numa “guerra” de um exército, um dos mais bem treinados e equipados do mundo, que investe contra mulheres, crianças, idosos. E quem questiona isso, alegam os senhores da guerra, são antissionistas.
Pastores incontestes das artimanhas guerreiras começam fazendo uma tremenda confusão entre governo israelense e povo judeu. É a mesma coisa? Seria mais ou menos como afirmar que o governo do PT é o povo brasileiro! Absurdo, não é? De fato, não temos a trajetória milenar do povo judeu, mas ainda assim somos capazes de fazer tal distinção.
Ora, os próprios evangelhos apontam para o engano desses pastores que colocam os cristãos na “obrigação moral” de apoiar os desmandos israelenses em Gaza. Seria conveniente, já que gostam tanto de ressaltar aquelas passagens heroicas do Antigo Testamento sobre o Senhor da guerra, que atentassem também para passagens do Novo Testamento.
Os Evangelhos de Mateus (16.21), Marcos (8,31) e Lucas (9,22) narram o que Jesus passou a dizer “claramente” aos discípulos:
- Eu preciso ir para Jerusalém, e ali os líderes judeus, os chefes dos sacerdotes e os mestres da Lei farão com que eu sofra muito. Eu serei morto e, no terceiro dia, serei ressuscitado.
Jesus deixa claro quem serão responsáveis pelos acontecimentos: líderes judeus, chefes dos sacerdotes, mestres da Lei.
Os Evangelhos de Marcos (8,31) e Lucas (9,22) contam: “Assim que amanheceu, todos os chefes dos sacerdotes e os líderes judeus fizeram os seus planos para que Jesus fosse morto. Eles o amarraram, lavaram e entregaram ao governador Pilatos.
Mas talvez a passagem mais incisiva esteja registrada no livro dos Atos dos Apóstolos, capítulo 3, versículos 11 a 15. Depois de curar um coxo, e diante da admiração dos que viram o milagre realizado por dois discípulos de Jesus, Pedro discursou na parte do pátio do templo de Jerusalém, chamada “Alpendre de Salomão”.
- Israelitas, por que vocês estão admirados? Por que estão olhando firmemente para nós como se tivéssemos feito este homem andar por causa do nosso próprio poder ou por causa da nossa dedicação a Deus? O Deus dos nossos antepassados, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó, foi quem deu glória ao seu Servo Jesus. Mas vocês o entregaram às autoridades e o rejeitaram perante Pilatos; e, quando ele resolveu soltá-lo, vocês não quiseram. Jesus era bom e dedicado a Deus, mas vocês o rejeitaram. Em vez de pedirem a liberdade para ele, pediram que Pilatos soltasse um criminoso (...) Mas, meus irmãos, eu sei que o que vocês e seus líderes fizeram com Jesus foi sem saber o que estavam fazendo...
Talvez o apóstolo Pedro, um judeu exemplar, devesse aparecer mais uma vez a esses pregadores defensores da guerra para chamá-los à reflexão. Cabe todo apoio a segmentos da sociedade israelita, do povo judeu, que são CONTRA a guerra e externam isso em manifestações públicas. Afinal, sendo o cristianismo uma religião do amor, baseado nas ações do seu mestre Jesus, nenhum cristão deveria pregar a guerra, mas a paz.