Pautas de brasilidade: O maior espetáculo da terra

Arte: Marcelo Zanotti | IHU

Por: Marcelo Zanotti | 31 Mai 2023

O palhaço, figura icônica da comédia e do entretenimento, possui uma longa trajetória no Brasil. Presente nas memórias afetivas de várias gerações, esse personagem cativante despertou risos e emoções ao longo dos anos, consolidando-se como um símbolo da cultura popular brasileira. Neste artigo, exploraremos a história do palhaço no país, focando em duas de suas figuras mais emblemáticas: Carequinha e Arrelia.

O artigo é de Marcelo Zanotti, historiador e membro da equipe do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

Eis o artigo.

As raízes do palhaço no Brasil remontam aos primórdios do circo. No século XIX, o circo chegou ao país, trazendo consigo o estilo cômico dos palhaços europeus. Os primeiros palhaços brasileiros eram conhecidos como "caretas" ou "arlequins", inspirados pelos palhaços italianos e franceses. Esses artistas habilidosos, com suas maquiagens exageradas e roupas coloridas, encantavam o público com suas palhaçadas e acrobacias.

O auge do Circo Brasileiro

No início do século XX, o circo brasileiro vivenciou um período de grande expansão e popularidade. Nomes como Piolin, Carequinha, Torresmo e muitos outros tornaram-se famosos por suas performances cômicas. O circo, que era uma das principais formas de entretenimento da época, proporcionava ao palhaço um espaço privilegiado para brilhar. Com habilidades físicas, improvisação e interação direta com o público, esses artistas conquistaram os corações de crianças e adultos em todo o país.

A chegada da televisão e a reinvenção do Palhaço

Com o advento da televisão nas décadas de 1950 e 1960, o circo enfrentou um declínio gradual. No entanto, o palhaço não desapareceu, apenas se adaptou a essa nova realidade. Muitos palhaços migraram para a televisão, onde encontraram um novo público e se tornaram queridos por meio de programas infantis. Personalidades como Bozo, importado da TV americana, e Arrelia, conquistaram a atenção das crianças brasileiras. Essa nova forma de entretenimento popularizou o palhaço e consolidou-o como uma figura familiar e querida em todo o país.

Palhaço Carequinha

No Brasil, um dos palhaços mais queridos e icônicos que já pisaram nos picadeiros foi o inesquecível Palhaço Carequinha. Com sua maquiagem marcante, roupa colorida e um sorriso contagiante, Carequinha conquistou o coração de crianças e adultos, deixando um legado que perdura até os dias de hoje.

George Savalla Gomes, conhecido pelo nome artístico Carequinha, era natural de Rio Bonito, no Rio de Janeiro, nasceu em 18 de julho de 1915. Iniciou sua carreira aos cinco anos de idade proveniente de uma família circense, e teve a oportunidade de atuar em diversos circos tanto no Brasil quanto no exterior. Foi o primeiro palhaço a aparecer na televisão brasileira, sendo que na TV Tupi do Rio de Janeiro comandou o Circo Bombril por 16 anos, que posteriormente passou a se chamar Circo do Carequinha. Além disso, ele expandiu suas atividades para outras regiões, participando de programas na TV Piratini, em Porto Alegre, que contavam com apresentações ao vivo em várias cidades do interior do Rio Grande do Sul, como Caxias, São Leopoldo, Uruguaiana e até mesmo Riviera, no Uruguai. Ele também aparecia na TV Gaúcha, hoje RBS TV, e teve uma participação especial na Festa da Uva de 1972 que, transmitida pela TV Difusora de Porto Alegre e retransmitida por todas as emissoras do país, foi o evento que marcou o início da transmissão da TV colorida.

Além de cantor, ele gravou diversas músicas infantis, lançando 26 discos ao longo de sua carreira. Também atuou em vários filmes e teve sua marca associada a uma ampla gama de produtos infantis. Algumas de suas músicas mais conhecidas incluem Sapo Cururu, Marcha Soldado, Escravos de Jó e, especialmente, O Bom Menino. Essa última canção incentivava o bom comportamento infantil, destacando a importância de evitar comportamentos inadequados, respeitar os mais velhos e não agredir a irmãzinha, além de ressaltar a proteção divina para aqueles que obedecem sempre às mães. Carequinha foi recebido por vários líderes políticos, como Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, João Goulart, os presidentes militares e até mesmo Fernando Henrique Cardoso. Seu último trabalho foi uma participação especial no seriado Hoje é Dia de Maria, em 2005, na TV Globo.

Carequinha faleceu em 5 de abril de 2006, aos 90 anos de idade. É reconhecido por todos como um ícone da cultura brasileira e uma figura inesquecível para aqueles que tiveram o prazer de vê-lo em algum momento. Como desejava alegrar os mortos, foi sepultado vestindo sua roupa de palhaço.

Palhaço Arrelia

Waldemar Seyssel, conhecido como Palhaço Arrelia, foi uma figura icônica na história do circo brasileiro. Nascido em 31 de dezembro de 1905, e falecido em 23 de maio de 2005, Arrelia encantou gerações com seu carisma, talento e habilidades únicas. Sua trajetória artística se confunde com a própria evolução do circo no Brasil, tornando-se uma referência para muitos artistas que o sucederam.

O talento de Waldemar Seyssel ultrapassou as fronteiras do circo, levando-o ao sucesso no cinema e na televisão. Ele participou de diversos filmes, nos quais sua habilidade cômica e carisma brilharam, conquistando o público de todas as idades. Além disso, Arrelia também marcou presença na televisão, com programas próprios e participações especiais em programas populares da época, inclusive tendo apresentado por 21 anos o programa Circo do Arrelia na TV Record de São Paulo.

A música Como vai? é, de fato, uma das canções mais conhecidas e associadas ao Palhaço Arrelia.

Como vai? é uma composição alegre e divertida que se tornou um dos maiores sucessos do repertório musical de Arrelia. A letra da música transmite uma mensagem de otimismo e alegria, convidando o público a participar e se divertir junto com o palhaço.

A música Como vai? era frequentemente executada por Arrelia durante suas apresentações, tornando-se um dos momentos mais aguardados pelos espectadores. Sua interpretação carismática e animada da canção, combinada com sua habilidade em envolver o público, fazia com que todos se sentissem parte da celebração.

A melodia contagiante e a letra simples e cativante da música Como vai? contribuíram para que ela se tornasse um verdadeiro clássico na história do circo brasileiro. Até hoje, a canção é lembrada e apreciada como uma representação autêntica do espírito alegre e descontraído de Arrelia.

A história de Waldemar Seyssel, o Palhaço Arrelia, é um exemplo inspirador de como o talento, a dedicação e o amor pela comédia podem trazer alegria para o mundo. Sua trajetória de sucesso no circo e na televisão, aliada ao seu trabalho humanitário, deixou uma marca indelével na cultura brasileira. Mesmo após sua morte, em 23 de maio de 2005, seu legado continua vivo, e o nome Arrelia permanece sinônimo de risos e diversão.

E chegando nos finalmentes...

Atualmente, a figura do palhaço no Brasil continua a evoluir. Novos artistas têm surgido e trazem abordagens inovadoras para esse personagem icônico. O palhaço contemporâneo explora diferentes linguagens artísticas, como teatro, dança, música e performance, ampliando as fronteiras do que significa ser um palhaço. Esses artistas trazem reflexões sociais, políticas e existenciais por meio de suas performances, mostrando que o palhaço é capaz de transcender os limites da comédia para abordar questões mais profundas e complexas.

A história do palhaço no Brasil é uma jornada de risos, emoções e transformações. Desde suas origens no circo até o reconhecimento como uma forma de arte multifacetada, o palhaço tem desempenhado um papel importante na cultura brasileira. Seja nos picadeiros ou nas telas, o palhaço cativou e continua a cativar gerações, proporcionando momentos de alegria e reflexão. Sua capacidade de adaptar-se e reinventar-se ao longo dos anos é prova de sua relevância e vitalidade. O palhaço no Brasil é mais do que uma figura engraçada, é um símbolo de criatividade, expressão artística e conexão humana.

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