“A empatia é a base da proteção dos menores”, afirma Pe. Hans Zollner

Foto: CEphoto, Uwe Aranas / CC-BY-SA-3.0

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08 Março 2023

Durante sua recente visita à Austrália, para se encontrar com delegados da proteção de menores da Conferência Jesuíta da Ásia-Pacífico (JCAP), entrevistamos o especialista em salvaguarda internacional, Pe. Hans Zollner, SJ.

A reportagem é de David McMahon, publicada no sítio dos jesuítas da Austrália, 22-02-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Hipoteticamente, que conversa seria possível se um teólogo-professor-reformador alemão do século XVI repentinamente aparecesse diante de um teólogo-professor-reformador alemão do século XXI? Perguntamos ao especialista internacional em salvaguarda, Pe. Hans Zollner, SJ, como ele explicaria seu trabalho ao falecido Martinho Lutero.

Sem hesitar, ele respondeu: “Gostaria de explicar que estou empenhado em promover a conscientização entre a Igreja e fora da Igreja de que crianças e pessoas vulneráveis são preciosas e precisam ser protegidas. Além disso, eles precisam crescer e florescer em um ambiente seguro, e isso requer convicção, compromisso, educação e formação”.

O Pe. Zollner é diretor do Instituto de Antropologia e Estudos Interdisciplinares sobre a Dignidade Humana e o Cuidado (IADC) da Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. Como psicólogo e psicoterapeuta, ele é uma das principais vozes da Igreja Católica na salvaguarda e na proteção de menores e pessoas vulneráveis contra os abusos sexuais.

Em seu papel crucial dentro da Igreja, um de seus pontos de partida é a capacidade fundamental de empatia e identificação com as vítimas. “Precisamos ouvir as vozes dos sobreviventes e das vítimas de abuso. É claro que esse é um ponto de partida para todas as nossas atividades de salvaguarda. Decidimos estabelecer isso depois de décadas em que as notícias sobre a Igreja Católica e os abusos sexuais estavam circulando. A resposta tem sido muito inconsistente, especialmente quando olhamos para a comunidade de sobreviventes e suas expectativas.”

Nesse contexto, o desafio tem sido construir uma rede global de pessoas envolvidas com a salvaguarda, com uma compreensão profunda não apenas do que precisa ser feito, mas também de como fazê-lo.

“Procuramos fazer o que podemos, especificamente para uma instituição acadêmica, pois fazemos parte da Pontifícia Universidade Gregoriana. É uma instituição jesuíta fundada pelo próprio Santo Inácio e sempre foi pensada para atender todo o mundo católico e além. Nós formamos pessoas em Roma por meio de nossos cursos de graduação e mestrado, e também temos doutorandos. Além disso, temos um programa de educação híbrida, com unidades online que oferecemos a instituições educacionais e acadêmicas em todo o mundo e que precisam ser complementadas por atividades presenciais.”

Em 2020, o Pe. Zollner foi fundamental na criação da Global Safeguarding Alliance, uma associação voluntária de instituições, assim como de escolas profissionais orientadas para a prática e de especialistas individuais comprometidos com o objetivo comum da salvaguarda. Suas opiniões sobre a divulgação da mensagem são claras. “Também temos instituições jesuítas parceiras e temos um congresso internacional anual sobre salvaguarda. Tudo isso é impulsionado pela nossa consciência de que nenhuma organização sozinha consegue fazer tudo. Quando colocamos nossas cabeças e nossos corações juntos e trabalhamos juntos, podemos realmente fazer a diferença para as nossas crianças e pessoas vulneráveis, e também para a sociedade em geral.”

Como psicólogo e teólogo, esses dois aspectos da vida do Pe. Zollner convergem para definir a direção de seu trabalho nos últimos 20 anos na área da salvaguarda.

“Fui enviado a Roma pelo meu provincial há exatos 20 anos, para trabalhar no Instituto de Psicologia da Universidade Gregoriana. Eu tinha terminado o doutorado em teologia, mas, como psicólogo e psicoterapeuta licenciado, sempre quis trabalhar no acompanhamento de pessoas e no âmbito espiritual na capacidade psicoterapêutica que tenho. No entanto, quando tive um contato mais próximo com o sofrimento daqueles que haviam sido abusados no contexto da Igreja, ficou claro que precisamos fazer tudo ao nosso alcance e dentro das nossas capacidades para que o abuso não ocorra, em primeiro lugar.”

“O respeito pela salvaguarda surge da consciência de que esses crimes abomináveis têm o potencial de destruir a vida das pessoas. Pode-se também dizer que várias pessoas que passaram por traumas terríveis realmente encontraram uma forma de lidar muito bem com a ansiedade, a raiva ou o desespero. Mas precisamos calibrar nossas intervenções em termos de acompanhamento das vítimas e dos sobreviventes.”

“Quando ouvimos os sobreviventes, perguntamos como eles foram abordados e como o abuso de poder ocorreu. Aprendemos muito sobre como estabelecer relações de forma significativa e respeitosa, e como manter limites e exercer o poder de forma saudável. Sempre tentei ser o mais transparente possível com a mídia e com o público sobre o que fazemos, sobre onde estão as nossas limitações e sobre quanto ainda temos que fazer.”

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