13 Janeiro 2023
“Chegou o momento de agir face a este passado vergonhoso”, afirmou o arcebispo de Cantuária, Justin Welby, esta terça-feira, 10 de janeiro, depois de um relatório ter confirmado que a Igreja de Inglaterra (Comunhão Anglicana), da qual é o líder espiritual, teve ligações ao tráfico de escravos para a Europa e América do Norte.
A reportagem é publicada por 7 Margens, 11-01-2023.
A investigação, encomendada pela própria Igreja, concluiu que um antecessor da entidade gestora do seu fundo de investimento, o Queen Anne’s Bounty, aplicou, durante o século XVIII, quantias significativas de dinheiro na South Sea Company, uma empresa de comércio de escravos, refere a agência Reuters.
De acordo com o relatório, a South Sea Company terá transportado 34 mil escravos “em condições sobrelotadas, insalubres, inseguras e desumanas” durante os seus 30 anos de operação.
A atual entidade responsável por administrar os investimentos da Igreja, intitulada Church Commissioners, emitiu um comunicado em que “lamenta profundamente” o sucedido e promete um fundo de 100 milhões de libras (cerca de 112 milhões de euros) a ser usado nos próximos nove anos em prol de “um futuro melhor e mais justo para todos”, particularmente das “comunidades afetadas pela escravatura”.
Welby, líder espiritual da Comunhão Anglicana mundial e também presidente da Church Commissioners, considera ser necessário abordar o passado da Igreja que lidera com transparência para enfrentar o “presente e futuro com integridade” e assegura que serão financiadas mais pesquisas sobre a administração de fundos.
“É um enorme passo em frente”, afirmou o locutor e historiador David Olusoga à BBC Radio esta quarta-feira, a propósito do compromisso da Igreja de Inglaterra. “Durante 200 anos estivemos em negação, varrendo esta história para debaixo do tapete. E a ideia de que se herdarmos riqueza desta história, junto com essa riqueza também herdamos alguma responsabilidade – essa ideia foi descartada durante décadas”, sublinhou.
Como medida imediata, a Igreja de Inglaterra anunciou que irá ceder alguns objetos dos seus arquivos com ligações à escravatura para uma exposição em Londres, entre os quais se incluem uma petição escrita em 1723 por uma pessoa escravizada ao chefe da igreja.