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27 Mai 2022

 

"A Amazônia não é objeto que cada um o usa como bem entender. Sabemos das tentativas nessa direção, sentimos as dores, a destruição e as mortes provocadas pelos projetos autoritários aqui implantados", escreve Ivânia Vieira, jornalista, professora da Faculdade de Informação e Comunicação da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), doutora em Comunicação e em Processos Socioculturais da Amazônia, articulista no jornal A Crítica de Manaus, co-fundadora do Fórum de Mulheres Afroameríndias e Caribenhas e do Movimento de Mulheres Solidárias do Amazonas (Musas).

 

Há 522 anos, Sr. Elon Musk, os mais mirabolantes planos são desenvolvidos internamente e, com apoio externo, para entregar a Amazônia a um outro país, a grupos exploradores, a bilionários, como senhor. As motivações repetem enredos cansativos e reproduzem atos violadores dos direitos humanos dos povos amazônicos no Brasil.

 

O senhor acaba de ser parte, sorridente, de mais uma patética e dramática ação de violação. Poderá vir a ser responsabilizado por cumplicidade nessa tentativa criminosa de repasse e uso da região. É possível que possa vir a colonizar Marte e ampliar o império que domina; é provável a produção de pacotes com etiqueta ‘comunidades amazônicas’ para serem colocados na carteira dos negócios Musk/Bolsonaro. Afinal, há governos, no Brasil, como o de agora, dispostos a qualquer negociata para chamar atenção, mobilizar determinada mídia, reforçar cliques e robustecer algoritmos como esteio desse outro modo de êxito imediato da sobrevivência.

 

A Amazônia, sr. Musk, não é objeto que cada um o usa como bem entender. Sabemos das tentativas nessa direção, sentimos as dores, a destruição e as mortes provocadas pelos projetos autoritários aqui implantados; percebemos as estratégias para submeter e controlar, com cabresto, as populações da região. O sangue de inocentes, derramado em mais de cinco séculos, pinga na terra, nas águas dos rios e dos lagos, nas árvores que formam a outra feição amazônica e não será apagado por iniciativas como esta ora patrocinada pelo governo brasileiro.

 

Não o odiamos, sr. Musk, mas falta amá-lo porque não o conhecemos nem o senhor nos conhece. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, anfitrião do vergonhoso espetáculo do dia 20 de abril, mentiu ao declarar que o Brasil ama o senhor. Talvez, por ele falar do Brasil dele situado distante do nosso. Talvez por não saber o significado e a responsabilidade do cargo que ocupa e da importância da noção de soberania para as nações, Faria tenha aceitado extrapolar com tamanha e constrangedora naturalidade. Ou é essa mesma a condição de sujeito do ministro?

 

A Amazônia não necessita do monitoramento anunciado como um dos serviços que a sua banca de negócios realizaria nesta parte do território nacional. É o senhor quem quer apossar-se, como um dos escolhidos pelo governo federal, das informações sobre a região, como se aqui permanecesse uma capitania hereditária. Instituições brasileiras já fazem o monitoramento e os dados estão sendo apresentados embora o presidente da República os ignore e os negue porque o projeto dele é “civilizar e integrar a Amazônia”, reproduzindo uma intenção em todos os governos de raiz autoritária.

 

Volte ao Brasil, o mais rápido possível, venha à Amazônia e submeta-se ao tempo amazônico. Não decida sobre trabalhos nesta região a partir de São Paulo. Deixe-se ensopar de suor com o calor daqui também terá a oportunidade, deliciosa, de tomar banho de cachoeira e, se tiver coragem, nadar nas águas do rio Negro ou do rio Amazonas. A Amazônia quer sim firmar parcerias – dialogadas e tecidas com sua gente, com seus governos estaduais e municipais, com os representantes das instituições científicas, de pesquisa, educação e tecnológicas, empresariais e de trabalhadores - para ampliar suas interações. Que tal fazer uma viagem mais longa, profunda e mais respeitável para com o povo brasileiro e os povos amazônicos?

 

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