Advento: mover-se na perspectiva do amor oblativo

Foto: Gime Salvatelli | Cathopic

10 Dezembro 2021

 

"Mover-se na perspectiva do amor oblativo significa oferecer-se voluntariamente a Deus e ao próximo. Como Adroaldo Palaoro explicou em outra ocasião: 'Trata-se de entrar em sintonia, de 'ajustar-se' ao modo de amar de Deus: amor descendente, amor sem fronteiras, oblativo, expansivo... e que se 'revela mais em obras do que em palavras' (S. Inácio)".

 

O comentário é de Patricia Fachin, jornalista, graduada e mestre em Filosofia pela Unisinos.

 

Em seu terceiro comentário do Evangelho sobre o tempo do Advento deste ano, publicado na página eletrônica do Instituto Humanitas Unisinos - IHU nesta sexta-feira, 10-12-2021, Adroaldo Palaoro sublinhou que "quem vive o clima do Advento" - e acrescentaria, o tempo litúrgico de cada ano - "não é prisioneiro da 'cotidianidade'" - ou não deveria sê-lo -, porque vive "de uma espera e de um encontro surpreendente". No encontro pessoal e incessante com Cristo na oração, já nos ensinou o Papa Francisco, "mudamos a realidade e nossos corações".

 

Da oração também brota em nós o desejo de nos mantermos fiel a Deus, tal como João Batista, o precursor de Cristo, conforme pontuou Palaoro, e a "pergunta concreta: 'Que devemos fazer?'". "Aqui", o jesuíta foi direto ao ponto, "não se trata propriamente de fazer coisas nem de assumir deveres, mas ser de outra maneira, viver de forma mais humana; em outras palavras, a partir do centro de cada um, despertar aquilo que é o mais verdadeiramente humano, para que flua humanidade em todas as direções. Que todo o nosso ser se mova na perspectiva do amor oblativo, que se expressa em 'entranhas solidárias'".

 

 

Mover-se na perspectiva do amor oblativo significa oferecer-se voluntariamente a Deus e ao próximo. Como Palaoro explicou em outra ocasião: "Trata-se de entrar em sintonia, de 'ajustar-se' ao modo de amar de Deus: amor descendente, amor sem fronteiras, oblativo, expansivo... e que se 'revela mais em obras do que em palavras' (S. Inácio)".

 

Por isso, aquele que se coloca a caminho como seguidor de Jesus, obediente aos dois mandamentos de Cristo, amar a Deus sobre todas as coisas e amar ao próximo como a si mesmo, explicou o jesuíta, "encontra-se, assim, envolvido pelo Amor transbordante de Deus e, ao mesmo tempo, entra no fluxo desse Amor criativo, 'descendo' à realidade cotidiana e ali deixando transparecer esse mesmo Amor através dos encontros com os outros". O ser humano, portanto, na mística cristã, continuou, "é o 'ponto' no qual convergem o Amor 'que desce do alto' e o Amor que flui para o outro, o Amor que vem do outro e o Amor que retorna à sua Fonte".

 

 

Sobre esta forma de amor e de amar, que caracteriza a própria missão da Igreja, o Papa Francisco nos incita:

 

"É importante sempre voltar a refletir juntos sobre o significado da própria palavra caridade. A caridade não é uma prestação estéril ou um simples óbolo a ser restituído para apaziguar a nossa consciência.

 

O que nunca devemos esquecer é que a caridade tem sua origem e sua essência no próprio Deus (cf. Jo 4, 8); a caridade é o abraço de Deus nosso Pai a todo homem, especialmente aos últimos e aos sofredores, que ocupam em seu coração um lugar preferencial. Se considerássemos a caridade como uma prestação, a Igreja se tornaria uma agência humanitária e o serviço de caridade seu 'departamento logístico'. Mas a Igreja não é nada disso, é algo diferente e muito maior: é, em Cristo, o sinal e o instrumento do amor de Deus pela humanidade e por toda a criação, nossa casa comum".

 

Sobre a nossa dificuldade ou indisposição de amar como Cristo nos amou em Sua própria oblação na cruz, Rilke instrui o jovem poeta:

 

"...o amor é difícil. O amor de duas criaturas humanas talvez seja a tarefa mais difícil que nos foi imposta, a maior e a última prova, a obra para a qual todas as outras são apenas uma preparação. Por isso, pessoas jovens que ainda são estreantes em tudo não sabem amar: têm que aprendê-lo. Com todo o seu ser, com todas as suas forças concentradas em seu coração solitário, medroso e palpitante, devem aprender a amar. Mas a aprendizagem é sempre uma longa clausura".

 

 

São João da Cruz, que se consagrou à Ordem ligada à Virgem Maria do Monte Carmelo, clarifica o significado do amor em Ditos de luz e amor:

 

"O amor não consiste em sentir grandes coisas, mas em ter uma grande desnudez e em padecer pelo Amado".

 

 

No Cântico espiritual, o Doctor Mysticus nos dá um conselho para sair do claustro em que na maioria das vezes nos encontramos:

 

"...enquanto a alma não chega ao perfeito estado de união de amor, convém exercitar-se no amor tanto na vida ativa quanto vida contemplativa".

 

E novamente nos Ditos, não usa meias palavras:

 

"Se queres ser perfeito, vende a tua vontade e dá-a aos pobres de espírito e vem a Cristo pela mansidão e humildade e segue-o ao Calvário e ao sepulcro".

 

 

 

 

Leia mais