Hoje foi dia de grandes protestos em Glasgow e no mundo todo. Mais de 20.000 pessoas tomaram as ruas de Glasgow, e em mais de 200 cidades pelo planeta.
Essencial pressionar e protestar, pois a Rio 92 já ocorreu há 30 anos, e a Conferência de Estocolmo foi há 50 anos atras. Portanto a Ciência alerta há décadas dos riscos das mudanças climáticas, mas governos, empresas e corporações nada fizeram. Os lucros no curto prazo sempre falaram mais alto. Agora estamos a 1 minuto da meia noite, ou seja, na beira do precipício. É agir agora ou já era.
As mudanças que teremos que fazer no sistema sócio-econômico são enormes. Quem ganha dinheiro hoje, esgotando os recursos naturais do planeta não querem mudar de atitude. E os mais pobres e vulneráveis serão os que mais serão afetados pelas mudanças climáticas. É urgente mudar.
Urgência da mudança climática eleva pressões políticas e econômicas pelo mundo
Explicando o pacto Bolsonaro-Centrão
O interesse de Bolsonaro é sobreviver. O dos partidos centrônicos, engordar bancada. Sendo impossível engordar com Lula, que vai engordar só os partidos de esquerda e aliados (PSD, MDB), o Centrão tentará crescer com os 25% de Bolsonaro mesmo. O pacto envolve transfusão recíproca de grana com dinheiro do orçamento para a eleição. Bolsonaro e Centrão ganham palanques e verbas uns para os outros.
Pro Centrão é jogo de ganha-ganha. Se Bolsonaro perder, vai engordar do mesmo jeito e se venderá depois a Lula mantendo a relevância. Pra Bolsonaro, diante do desastre do seu governo, tornou-se o único jogo possível. Ele precisa vencer para continuar impune, sabotando o sistema de justiça, para não ir com a família para a cadeia.
Sem auxílio e muita grana para obra e propaganda, a derrota eleitoral de Bolsonaro seria inevitável. Ele teria de retornar ao golpismo para tentar meter medo nas instituições e barganhar uma saída. Mas os resultados seriam duvidosos. Por isso aceitou o pacto proposto pelo Centrão, intermediado pelo Temer, e ficou pianinho.
O pacto é bom para ambos e pelo visto irá até o fim.
Entrevista com Vladimir Safatle: ''não houve eleição em 2018''
“Ninguém ocupa o Estado brasileiro com 7 mil militares para sair no ano que vem”, diz.
“A ditadura militar terminou por negociação. Por isso ela nunca terminou. Por isso ela se preservou, por isso ela volta agora.”
“As Forças Armadas vão-se constituir em uma das castas que preservam o modelo da concentração de renda da sociedade brasileira. Esse projeto é de longa extensão. Ninguém ocupa o Estado brasileiro com 7 mil militares para sair no ano que vem.”
“Hoje a gente sabe que não houve eleição em 2018. Foi uma eleição de República Velha, completamente forjada. A gente viveu um golpe dito em baixa voz e prolongado. Não foi um golpe gritado. Foi um novo modelo de golpe. É um golpe em câmera lenta. Ele vai sendo feito durante anos.”
“Esse jogo do bom policial e do mau policial é o jogo das Forças Armadas brasileiras. E eles estão jogando de novo e a gente está entrando mais uma vez nessa mesma história. Não existe um lado bom das Forças Armadas. Quem tem um mínimo de responsabilidade sai do jogo, está fora do jogo. No entanto, eles são utilizados para que a gente tenha a impressão de que há uma divisão nas Forças Armadas. Bolsonaro é o projeto das Forças Armadas. Não vai haver cisão entre Bolsonaro e as Forças Armadas.”
“Quem mantém [o bozo] no poder são as Forças Armadas, o sistema financeiro nacional que teve lucros recordes em situação de crise mundial, os bancos privados tiveram lucros maiores e em plena pandemia. Isso demonstra o grau de obscenidade, Não é uma questão só de racionalidade econômica, é uma questão de saque. É uma lógica de saque e isto é garantido pelo governo. O agronegócio é um outro pilar. Devido à lógica da devastação da natureza eles conseguem tomar posse do que não era objeto de posse, terras que não eram
disponíveis, zonas de preservação ambiental. Eles impõem a lógica da propriedade num espaço onde não havia propriedade. O quarto apoio é o núcleo fascista da sociedade brasileira. A Nova República nos fez acreditar que ele não existia, o que era totalmente equivocado.”
“[bozo] é um caso absolutamente tipificado de fascismo. É um líder fascista no sentido clássico do termo. Todos os elementos estão lá. Você tem o culto à violência a partir da generalização da lógica miliciana, a indiferença e insensibilidade absoluta a setores da população que são completamente vulneráveis, a concepção paranoica de corpo social, onde a identidade aparece como estrutura defensiva, onde a fronteira, a imunização, o risco de contágio por um corpo estranho que nos irá degradar (os comunistas) desempenha papel fundamental. Por fim, você tem uma concepção de poder fundado em um liderança, além do bem o do mal, que sustenta com seus liderados uma identificação narcísica. Ele não é uma liderança paterna, mas é a imagem e semelhança daqueles que ele lidera: as mesmas fraquezas, a mesma violência, a mesma impotência. Ele é eles no poder. Não há nenhum elemento faltando. Só não vê quem não quer, ele é um caso típico de fascismo. Talvez o caso mais típico no mundo inteiro.”
“Por que a figura mais trágica da esquerda brasileira é o Marighella? Porque ele foi o sujeito que colocou isso na mesa. Ele disse : “A gente fez um pacto durante todo esse período de 1945 até 1964 de apoiar as reformas graduais dentro da estrutura republicana fazendo uma pactuação com o populismo de esquerda, com o trabalhismo e vejam o que deu. Teve um golpe. Ninguém estava preparado.” Isso demonstra a incapacidade de ler os reais perigos que a sociedade brasileira enfrenta. Lembro em 2012, 2013, quando fazíamos debates acalorados na universidade e havia quem dissesse : “O Brasil é a democracia mais estável dos BRICS.” Isso demonstra uma dificuldade de ver nossa realidade.”
Não dá, definitivamente, para entender essa posição do PT. Ortega é hoje, reconhecidamente, um ditador inescrupuloso. Estou com Ernesto Cardenal e tantos outros pensadores, que se colocaram nitidamente contra os rumos tomados pela Nicarágua. E o PT dourando a pílula...
PT celebra vitória de ditador Ortega em eleição de fachada na Nicarágua
Partido chama de 'grande manifestação popular e democrática' pleito sem opositores nem observadores internacionais
9.nov.2021 às 16h36
EDIÇÃO IMPRESSA
FSP
SÃO PAULO
Na contramão das principais democracias ocidentais, o PT (Partido dos Trabalhadores) divulgou nota na noite desta segunda-feira ( saudando as eleições de fachada na Nicarágua que confirmaram a permanência do ditador Daniel Ortega no poder.
No texto, a legenda classifica o pleito como "uma grande manifestação popular e democrática" e diz que o resultado confirma "o apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construção de um país socialmente justo e igualitário".
Ao lado da mulher, Rosario Murillo, que ocupa formalmente o cargo de vice, Ortega disputou o comando do país contra cinco outros candidatos —todos parte do teatro do pleito de fachada, já que são aliados do governo. Nos últimos seis meses, o regime prendeu outros sete postulantes de oposição, acusados de lavagem de dinheiro e traição à pátria.
Entre eles estão Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Chamorro, que derrotou Ortega em 1990; Miguel Mora, fundador do canal 100% Notícias, desapropriado pelo regime; e o ex-embaixador Arturo Cruz. Também estão detidos outros 32 políticos opositores e mais de cem sindicalistas, jornalistas e ativistas de direitos humanos.
O pleito também não contou com observadores internacionais, que, na visão da Justiça local, alinhada ao regime, poderiam intervir no processo. Poucos jornalistas estrangeiros puderam entrar no país, e veículos independentes locais, a exemplo do site El Confidencial, impedidos de operar nos últimos meses, noticiaram sobre o pleito a partir da Costa Rica.
O PT, na nota, destacou ainda que a vitória de Ortega ocorreu "apesar das diversas tentativas de desestabilização do governo e do bloqueio internacional contra a Nicarágua e seu atual governo". O texto é assinado por Romenio Pereira, secretário de Relações Internacionais da legenda.
Ao assumir, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manteve sanções impostas por seu antecessor, Donald Trump, que incluem multas e impedimento de entrada no país de altos funcionários do regime e familiares do ditador.
Após a reeleição, o democarata chamou o pleito de Manágua de farsa e disse que seu governo e a comunidade internacional devem usar "ferramentas diplomáticas e econômicas" para auxiliar os nicaraguenses e responsabilizar Ortega e Murillo.
Ele deve assinar um arsenal de medidas, com base na lei Renascer, para aumentar a pressão sobre o governo de Ortega. A situação na Nicarágua será debatida ainda na Assembleia-Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), que pode suspender o país do bloco regional. Analistas advertem, contudo, que um isolamento vai piorar a situação socioeconômica e provocará novo aumento da migração.
Assim como os EUA, a União Europeia adotou tom similar e afirmou, em comunicado, que as eleições "carecem de legitimidade" e "completam a conversão da Nicarágua num regime autocrático". O governo espanhol considerou o processo eleitoral um "escárnio" e a Costa Rica declarou que não reconhece o resultado das eleições.
Nesta segunda, Ortega reagiu às críticas de EUA e UE, classificando-os como "ianques imperialistas". "Eles querem estar acima do Conselho Supremo Eleitoral [...] contando os votos dos nicaraguenses", afirmou o ditador, em discurso de mais de uma hora. "Isso nunca mais irá acontecer na Nicarágua. Nunca mais."
Sobre os opositores presos, disse que "não são nicaraguenses, não possuem pátria".
O líder do país, por outro lado, conta com apoio do regime de Nicolás Maduro, na Venezuela —também apoiado pelo PT—, que felicitou o aliado. Já a Rússia chamou de inadmissíveis as contestações de países ocidentais. "Pelo que sei, quando terminou a votação a Casa Branca declarou sua recusa em reconhecer a eleição e convocou outros países a fazerem o mesmo. Consideramos isso inadmissível e condenamos veementemente tal política", disse o ministro de Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov.
De acordo com os resultados oficiais, o ex-líder sandinista obteve 76% dos votos, consolidando sua permanência no cargo que ocupa ininterruptamente desde 2007. Ortega hoje domina, além do Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Além dele, a eleição deste domingo apontou 90 membros da Assembleia Nacional. Segundo relatou o jornal La Prensa, houve apreensões na madrugada de domingo de integrantes dos partidos opositores Aliança Cidadã e Coalizão Internacional.
A repressão contra críticos acirrou-se em 2018, quando mais de 300 manifestantes foram mortos em confronto com as forças de segurança e grupos paramilitares alinhados ao ditador. Embora o regime tenha feito um acordo com a oposição no ano seguinte, prometendo eleições livres, o pacto não foi cumprido.
Em um primeiro posicionamento sobre a ditadura, feito em agosto deste ano, o ex-presidente Lula defendeu uma troca no comando do país. Em entrevista a uma TV mexicana, o petista disse que "na Nicarágua, seria bom ter alternância de poder". "Eu dizia ao [Hugo] Chávez, dizia ao [Alvaro] Uribe: toda vez que um governante começa a se achar insubstituível e começa a se achar imprescindível, está surgindo um pouco de ditadura naquele país."
Ele também aconselhou o ditador da Nicarágua, Daniel Ortega, a "não abrir mão" da democracia. "Se eu pudesse dar um conselho ao Daniel Ortega, daria a ele e a qualquer outro presidente. Não abra mão da democracia. Não deixe de defender a liberdade de imprensa, de comunicação, de expressão, porque isso é o que favorece a democracia", disse à jornalista Sabrina Berman, do Canal Onze do México.
Indagado pela jornalista mexicana sobre o que achava da Nicarágua, "um modelo de esquerda que arrasa a democracia", segundo ela, Lula respondeu: "Faz dez anos que não tenho contato com a Nicarágua, não sei muito bem o que está acontecendo lá. Mas tenho informações de que as coisas não andam nada bem por lá".
Com o tema “Música para os olhos”, o documentário foi produzido por meio de parceria entre a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade Federal de São Paulo (USP), com apoio da Cultura Artística, trazendo à cena virtual ressignificações dos concertos realizados na semana de 25 a 29 de outubro, todos ainda disponíveis no canal do YouTube Cultura Artística, dedicando um episódio a cada uma das apresentações.
O primeiro episódio, “Cantata BWV 51 - o clamor do 5° evangelista”, que dialoga com a cantata “Jauchtzet Gott in allen Landen”, de Johann Sebastian Bach (1685-1750), discorre sobre a importante função cumprida pela música na liturgia luterana.
Elitismo, pedantismo e misoginia de alguns intelectuais na morte da cantora Marília Mendonça
É bom esclarecer que ninguém é obrigado a gostar das músicas da cantora e desse gênero musical. No entanto, espera-se de quem se pensa tão distinto dos demais alguma compostura e humanidade diante de uma tragédia como a que vimos na última sexta-feira. Uma colega querida escreveu em sua rede social: para que serve o título doutorado nesse país com a metade da população em situação de insegurança alimentar? “Não pode ser para dar carteirada de erudito cansado que só deixa a torre de marfim para almoçar em um restaurante chamado senzala. Pra que serve mesmo?
Pode-se concordar com ou discordar do Ciro Gomes, mas é o único candidato que faz campanha posicionando-se sobre os grandes temas brasileiros. Todos os demais tratam apenas de pequena política.
Ciro Gomes: Estamos de volta, então se prepare: a série “A Verdade sobre a Petrobras” estreia às 9 horas desta sexta-feira. Nela, você vai conhecer em detalhes a conspiração que está por trás dos aumentos sucessivos e abusivos dos combustíveis, e muito mais. #OPetróleoÉNosso #PreçoDosCombustíveis #Petrobras #Brasil #CiroGomes
"Amanheci em cólera. Não, não, o mundo não me agrada. A maioria das pessoas estão mortas e não sabem, ou estão vivas com charlatanismo. E o amor, em vez de dar, exige. E quem gosta de nós quer que sejamos alguma coisa de que eles precisam. Mentir dá remorso. E não mentir é um dom que o mundo não merece. “ – Clarice Lispector
MAS SERÁ O BENEDITO ?
Benedito Meia-Légua, que assombrou os escravagistas anos antes da abolição
Seu nome original era Benedito Caravelas e viveu até 1885, um líder nato e bastante viajado, conhecia muito do nordeste. Suas andanças conferira-lhe a alcunha de "Meia-légua". Andava sempre com uma pequena imagem de São Benedito consigo, que ganhou um significado mágico depois.
Ele reunia grupos de negros insurgentes e botava o terror nos fazendeiros escravagistas da região, invadindo as Senzalas, libertando outros negros, saqueando e dando verdadeiros prejuízos aos racistas.
Contam que ele era um estrategista ousado e criativo, criava grupos pequenos para evitar grandes capturas e atacavam fazendas diferentes simultaneamente. A genialidade do plano era que o líder de cada grupo se vestia exatamente como ele.
Sempre que um tinha o infortúnio de ser capturado, Benedito reaparecia em outras rebeliões. Os fazendeiros passaram a crer que ele era Imortal. E sempre que haviam notícias de escravos se rebelando vinha a pergunta "Mas será o Benedito?"
O mito ganhou força após uma captura dramática. Benedito chegou a São Mateus (ES) amarrado pelo pescoço, sendo puxado por um capitão do mato montado a cavalo. Foi dado como morto e levado ao cemitério dos escravos, na igreja de São Benedito.
Noutro dia, quando foram dar conta do corpo, ele havia sumido e apenas pegadas de sangue se esticavam no chão. Surgiu a lenda que ele era protegido pelo próprio São Benedito. Por mais de 40 anos ele e seu Quilombo, mais do que resistiram, golpearam o sistema escravocrata.
Meia-Légua só foi morto na sua velhice, manco e doente. Ele dormia em um tronco oco de árvore. Esconderijo que foi denunciado por um caçador. Seus perseguidores ficaram a espreita, esperando Benedito se recolher. Tamparam o tronco e atearam fogo.
Seu legado é um rastro de coragem, fé, ousadia e força para lutar pelo nosso povo, que ainda hoje é representado em encenações de Congada e Ticumbi pelo Brasil. Em meio as cinzas encontraram sua pequena imagem de São Benedito.
Todo dia 1 De Janeiro, o cortejo de Ticumbi vai buscar a pequena imagem do São Benedito do Córrego das Piabas e levar até a igreja em uma encenação dramática para celebrar a memória de Meia-Légua.
Fonte: Twitter Alê Santos
"Caminhar sempre segundo o Espírito: torna-nos livres. Por outro, estamos conscientes das nossas limitações, pois sentimos todos os dias como é difícil ser dócil ao Espírito, para seguir a sua ação benéfica. Pode então surgir o cansaço que diminui o entusiasmo. Sentimo-nos desanimados, fracos, às vezes marginalizados em relação ao estilo de vida da mentalidade mundana. Santo Agostinho sugere como reagir a esta situação, referindo-se ao episódio evangélico da tempestade no lago. Diz: ´A fé de Cristo no teu coração é como Cristo no barco. Ouves insultos, cansas-te, aborreces-te e Cristo dorme. Desperta Cristo, move a tua fé! Até no tumulto, és capaz de fazer algo. Move a tua fé. Cristo acorda e fala contigo... Por isso, desperta Cristo... Acredita no que foi dito e haverá uma grande calma no teu coração` (Sermões 163/B 6). Nos momentos de dificuldade somos como – diz Santo Agostinho aqui – na barca no momento da tempestade. E o que fizeram os Apóstolos? Acordaram Cristo que dormia enquanto havia a tempestade; mas Ele estava presente. A única coisa que podemos fazer nos momentos de dificuldade é ´despertar` Cristo que está dentro de nós, mas ´dorme` como na barca. É assim mesmo. Devemos despertar Cristo no nosso coração e só então poderemos contemplar as coisas com o seu olhar, porque Ele vê para além da tempestade. Através desse seu olhar sereno, podemos ver um panorama que, por nós mesmos, nem sequer é possível divisar."
Papa Francisco na Audiência Geral - Sala Paulo VI (Vaticano), 10/11/2021
Tenho participado com grande alegria do evento "Filmes em perspectiva", iniciativa do Paz e Bem e do IHU. A iniciativa insere-se dentro de meu projeto mais amplo do curso de espiritualidade que venho oferecendo no Paz e Bem, junto com o amigo querido Mauro Lopes.
Ontem, quarta feira, 10 de novembro de 2021, foi a vez de debatermos o maravilhoso filme de Luchino Visconti, "Violência e Paixão", de 1974 (Itália/França). Foi o penúltimo grande filme de Visconti, que faleceu dois anos depois. Já estava enfermo, em cadeira de rodas, quando filmou esse magnífico trabalho. Comentei ontem, em minha fala, que desde jovem sou atraído e impactado por esse filme fantástico.
O que me toca nos filmes de Visconti, ao contrário de outros da linha mais hollywoodiana, é o cuidado no trato de temas que tocam a nervura da vida e da imperfeição. Como mostrou ontem com muita proprieda Rodrigo Petrônio, o filme tem como duas pilastras a arte e a morte. Como disse um dos cronistas que li a respeito do filme, a obra de Visconti vem marcada por processos que "corroem" a beleza, detendo-se na dinâmica da "degradação do corpo que envelhece, em contraposição aos encantos físicos, que se supõem intactos, da juventude".
E como visconti, como apaixonado pela estética, aprecia a beleza dos atores que escolhe a dedo para trabalhar com ele, como Alain Delon, Claudia Cardinale, Dominique Sanda e Helmut Berger.
Visconti era um cineasta descendente de uma família nobre de Milão, e seus filmes são sempre envolvidos por um clima aristocrático. Era um cineasta marxista e um gênio no teatro. Era também homossexual, que viveu um romance com o ator australiano Helmut Berger, que fez o papel de Konrad em Violência e Paixão, que era amante da Marquesa Bianca (interpretada por Silvana Mangano).
O filme Violência e Paixão (Conversation Piece – Conversas em família) - é visto por alguns críticos como um testamento político e estético de Visconti. O diretor tinha a consciência que esse seria um de seus derradeiros filmes.
O diretor identificava-se com o “doloroso olhar pela vida que se sente escapar” do personagem professor, cujo “rosto envelhece, e as mãos se abrem impotentes” num “ceticismo sem fronteiras”. O filme retrata, de certa forma, um réquiem trágico do diretor, em sua “viagem melancólica que tem a doença por companheira”. Daí a cena forte do eletrocardiograma, cujo gráfico se desdobra “dando-nos a trajetória do pulsar de um coração e o seu momento limite”.
No filme, o velho professor vivia numa certa “torre de marfim”, como um intelectual solitário entre clássicos pintores ingleses do século XVIII e XIX, que estavam estampados em sua sala; e igualmente embalado pela música de Mozart.
O professor tinha deixado o trabalho já há algum tempo, e agora podia sorver o puro deleite estético, entre quadros, livros e discos (das melhores gravações de peças eruditas). Como sua companhia, apenas uma velha criada. A solidão tinha se instaurado no interior daquelas paredes. Ele era americano, de mãe italiana. Viveu muito tempo nos Estados Unidos, tendo lutado na Segunda Guerra, e há tempos morava no imenso apartamento herdado da mãe.
O professor era um homem sábio e refinado, com todo porte de um aristocrata europeu. Alguém cioso de sua solidão, numa vida pacata e tranquila.
De repente, essa vida tranquila vem interrompida pela entrada em cena da marquesa Bianca Brumonti. A intrusa, com aquele ar de novo rico, pretende alugar o andar de cima do ampla apartamento do professor. Ele recusa no início, mas depois cede. Com ela inserem-se na trama a jovem Lieta, com seus 18 anos (interpretada por Claudia Marsani), filha da marquesa; e também um jovem amigo da família, Stefano (interpretado por Stefano Patrizi) e Konrad, amante da marquesa (interpretado por Helmut Berger)
O professor, apesar da grande distância com relação aos outros, deixa que eles penetrem em sua solidão. Talvez pudesse estar cansado da vida solitária, abrindo portas para, quem sabe, a última oportunidade de “ter algo como uma família”. Com grande sensibilidade, Visconti revela as entranhas de um professor situado “num presente sem futuro”.
Fina ironia, a entrada da “chusma barulhenta” na vida do professor vai provocar um grande tumulto interior.
O professor vem envolvido numa trama de jogos neuróticos entre a marquesa, sua filha com seu namorado e o amante da marquesa.
Konrad passa a habitar o apartamento de cima, e o professor “vai deixando-se fascinar pelo mundo obscuro do rapaz. Uma atração homoerótica se insinua entre eles. Mas Konrad continua enredado em seu relacionamento agressivo com a Marquesa, além também de transar a três com Lietta e Stefano (ao som de Roberto Carlos – A distância: Testarda io, na voz de Iva Zanicchi )
“Nunca mais você ouviu falar de mim
Mas eu continuei a ter você
Em toda esta saudade que ficou
Tanto tempo já passou e eu não te esqueci
Quantas vezes eu pensei voltar
E dizer que o meu amor nada mudou
Mas o meu silêncio foi maior
E na distância morro todo dia sem você saber”
Algumas cenas antológicas: a cena do professor amparando Konrad quando este leva uma surra de um grupo de marginais (e a cena em que assiste ao rapaz tomando banho); quando o professor flagra o trio Lietta, Stefano e Konrado, totalmente nus e fumando maconha em plena biblioteca do apartamento dele; e a discussão entre o grupo no jantar final.
Após a cena de amor entre os três, Lietta percebe a aproximação do professor e diz:
“Vendo uma bela forma, beije-a e, se possível, a abrace... seja menina ou menino. Não seja tímido, seja impetuoso, seja vigoroso. A vida é curta. Aproveite todo o contato que sua carne possa querer. Não há vida sexual na dor.
E em seguida continua:
Veja, é como um jogo. Não tem nada de terrível.
E indaga ao professor:
Quando era jovem, não era igual?
E ele:
Não, de modo algum.
E ela:
Perdeu muita coisa, mas deve ter se divertido. É rico e bonito. O que fez?
E ele:
O que fiz? Eu estudei, viajei, estive na guerra, me casei. Não deu certo. E quando tive tempo de olhar em volta... Vi que estava entre gente com quem não tinha nada em comum (...) Agora sou um velho. A única história de amor que combina comigo... é “Rei Lear”, o amor do pai pelos filhos.
E aí intervém Stefano, amigo da família:
Evitou isso bem, nada de filhos. Muita confusão.
E aí retoma Lietta:
Se um daqueles tarados for descuidado e me engravidar... mando o aborto para o inferno e dou o bebê para você (dirigindo-se ao professor)
O professor:
Não me sobra tempo. Preciso de um filho mais velho. Alguém para quem possa dizer umas coisas que sei.
E Lietta:
Konrad! Adote Konrad. Ele é inteligente, bonito, tem boa aparência. E se ele parasse com os jogos para ganhar dinheiro... ele seria perfeito.
Konrad estaria no lugar certo. Mas ele sairia caro. Ao menos no começo. As coisas precisam se aquecer.
O professor os convida para o jantar no dia seguinte:
Stefano fala que não encontrava com sua família há tempos, que esteve com eles naquele mesmo dia e tinha dado tudo errado. Seu pai, como o professor, esteve calado todo o tempo. Estava aborrecido com a greve de seus operários, que já durava uma semana. E ele, o pai, não falava com o irmão de Stefano que era da esquerda.
E então provoca o professor:
O senhor não tem operários em greve, nem um filho que dá uma de marxista... (e olha para Konrad). É como a figura de suas pinturas: cercado de pessoas calmas e serenas, sem problemas. Gosta de todas?
Responde o professor:
Tenho minhas preferencias, e minha infidelidade.
Lietta faz menção à relação do professor com a nova família, que está a jantar com ele, e diz que logo vai brigar com todos...
O professor responde:
Os velhos são animais estranhos... Aflitos, intolerantes. Com medo da solidão que criaram para si mesmos e que defendem assim a vêem ameaçada.”
O certo é que a visão do professor nunca foi a mesma, depois dessa "entrada" abrupta de novos personagens em sua vida. Os momentos finais do filme, belíssimos, revelam essa mudança pela qual passou. Uma das coisas que mais me impressionaram na minha última visão do filme, foi a presença da personagem Lietta, com seu carinho tão especial com o professor. O filme é de uma grande atualidade, trazendo temas importantes relacionados à solidão, sexualidade, envelhecimento e a presença do fascismo.