Kamala Harris é anticatólica? Artigo de Thomas Reese

Mais Lidos

  • Tempestade na Igreja. Mas não é uma novidade. Artigo de Luigi Accattoli

    LER MAIS
  • Na foz do rio Amazonas. Artigo de Michael Löwy

    LER MAIS
  • “Se cristãos se calarem, para que serve a Igreja?”, pergunta presidente do Conselho Mundial de Igrejas – CMI

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

11 Setembro 2020

O anticatolicismo é uma acusação fácil de se lançar contra os próprios opositores políticos. Os católicos não deveriam jogar esse jogo nem dar ouvidos a quem faz isso.

A opinião é de Thomas J. Reese, jesuíta estadunidense, ex-editor-chefe da revista America, dos jesuítas dos Estados Unidos, de 1998 a 2005, e autor de “O Vaticano por dentro” (Ed. Edusc, 1998).

O artigo foi publicado por Religion News Service, 10-09-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o artigo.

Os partidários do presidente Donald Trump estão tentando retratar Kamala Harris como anticatólica, de acordo com uma nova reportagem da Associated Press, acusando-a de tentar impedir os católicos de ocupar cargos públicos. Trata-se de uma acusação fantasiosa, considerando-se que o seu companheiro de chapa, Joe Biden, é católico.

Os republicanos reconhecem que uma pequena mas significativa parte da população católica branca – eleitores historicamente inconstantes nos principais Estados do campo de batalha – podem determinar o resultado da eleição presidencial de novembro. Eles sabem que o catolicismo de Biden será atraente para esse grupo de eleitores e esperam que as acusações de anticatolicismo contra Harris possam colocar os democratas na defensiva, enquanto estes prefeririam falar sobre as falhas de Trump em lidar com a Covid-19, a economia e o racismo.

Não há dúvida de que o anticatolicismo tem uma longa história nos Estados Unidos.

Os católicos foram recebidos com medo e discriminação por parte dos protestantes anglo-saxões brancos quando desembarcaram em solo estadunidense como imigrantes da Irlanda, Itália e Polônia no século XIX. Depois da Guerra Civil, a Ku Klux Klan não apenas perseguia os negros, mas também se opunha à presença de imigrantes católicos e judeus. Hoje, os imigrantes hispânicos experimentam esse preconceito de muitos apoiadores nativistas de Trump.

O anticatolicismo também desempenhou um papel na política estadunidense.

Em 1884, os republicanos retratavam os democratas como o partido do “rum, romanismo e rebelião”. Da mesma forma, a campanha em 1928 de Al Smith, o primeiro candidato católico a presidente por um grande partido, foi recebida por uma enxurrada de propaganda anticatólica. Em 1960, a candidatura à presidência de John Kennedy foi contestada por uma coalizão anticatólica de ministros protestantes, incluindo Billy Graham e Norman Vincent Peale.

É interessante que, em todos esses casos, foram os republicanos que jogaram a carta anticatólica.

Mas é importante distinguir o anticatolicismo do anticlericalismo.

Não há dúvida de que muitas feministas, pessoas LGBT e seus aliados não gostam dos bispos católicos dos EUA e das posições que eles assumiram. Embora a retórica desses grupos às vezes possa soar anticatólica, na realidade eles são anticlericais. Eles se opõem não aos católicos em geral, mas às lideranças católicas e às suas posições sobre certas políticas públicas.

Os anticatólicos tendem a dizer: “Eu não sou anticatólico, só não gostaria que a minha filha se casasse com um católico”. Os anticlericais diriam: “Eu não gosto dos bispos, mas não me importaria que minha filha se casasse com um católico”.

De fato, há pessoas que são católicas e também anticlericais.

O anticlericalismo surgiu na Europa no século XIX por causa da oposição da Igreja aos sindicatos, à imprensa livre e à democracia. Isso levou muitos europeus, especialmente homens, a abandonarem a Igreja. Hoje, os pontos de vista anticlericais mais fortes tendem a vir de mulheres que criticam a Igreja por ser patriarcal.

O anticlericalismo não é o anticatolicismo, a menos que você equipare a hierarquia com a Igreja.

Os opositores de Harris apontam para o fato de ela ter questionado o juiz Brian C. Buescher em 2018, quando ele foi nomeado por Trump para a Corte Distrital dos Estados Unidos para o Distrito de Nebraska. Ela observou que ele era membro dos Cavaleiros de Colombo, uma organização que “se opunha ao direito de escolha da mulher” e “gastou um milhão de dólares para apoiar a Proposição 8, uma iniciativa eleitoral da Califórnia que definia o casamento como a união entre um homem e uma mulher”.

Ela perguntou se ele estava ciente da posição dos Cavaleiros e de seu líder, Carl Anderson, que disse que os católicos não podem votar em um candidato que apoia o direito ao aborto. Ela também questionou Buescher extensivamente sobre as suas posições sobre o aborto e os direitos dos homossexuais.

Eu não vou defender cada palavra do questionamento de Harris. Teria sido bom se ela tivesse reconhecido o excelente trabalho de caridade dos Cavaleiros. Mas isso não significa que ela seja anticatólica. Ela é simplesmente contra qualquer candidato que se oponha ao aborto ou aos direitos dos homossexuais. Você pode criticar a posição dela sobre o aborto ou os direitos dos homossexuais, mas não pode chamá-la de anticatólica.

Ela nem mesmo é anti-Cavaleiros de Colombo. Se o candidato fosse membro dos Cavaleiros e pro-choice, como o falecido Ted Kennedy, ela votaria no candidato.

Atacar fortemente os pontos de vista da hierarquia ou de uma organização sobre o aborto e os direitos dos homossexuais não é anticatolicismo.

Seria de se esperar o mesmo tipo de questionamento por parte de um senador antiaborto se o candidato pertencesse a uma organização que apoia o aborto. Da mesma forma, eu tenho certeza de que um senador anti-imigração seria igualmente crítico de um candidato que fosse membro do Movimento do Santuário.

Se Harris é anticatólica, Trump também o é, já que ele atacou o Papa Francisco como “vergonhoso” por ter dito que “uma pessoa que pensa apenas em construir muros, onde quer que seja, e não em construir pontes não é cristã”.

O anticatolicismo é uma acusação fácil de se lançar contra os próprios opositores políticos. Os católicos não deveriam jogar esse jogo nem dar ouvidos a quem faz isso.

Uma revelação: eu participei de uma teleconferência com a campanha Biden-Harris com muitos outros pensadores e lideranças católicas. Eu não apoiei Biden-Harris nem qualquer outra campanha e não o farei.

Leia mais

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Kamala Harris é anticatólica? Artigo de Thomas Reese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU