19 Junho 2020
"A condenação do contágio une todas as religiões e, em particular, todos os fundamentalismos. Responde ao medo de se misturar com o estranho, o seguidor de um outro deus, o correligionário morno, o pecador, o mundo e, assim, perde a pureza".
O comentário é de Iacopo Scaramuzzi, publicado por Revista Jesus, 18-06-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Se "Deus pune os pecados sociais com os flagelos das doenças" (Roberto De Mattei) e a pandemia é a prova de que Seu desejo é "nos corrigir por nossos vícios e pecados” (Istituto Plinio Correa), é claro que o Coronavírus deve ser combatido com arrependimento, não com ciência, que responsabilidades e distanciamento social não servem, é necessário o milagre. E os líderes da Igreja que inopinadamente deixam entender "que é a miséria material (e não mais o pecado) que causa a miséria moral" (Ettore Gotti Tedeschi) mostra uma rendição às "modalidades de imposição iliberais" do lockdown que "preludiam de modo preocupante a realização de um governo mundial fora de qualquer controle" (monsenhor Carlo Maria Viganò).
O florilégio dessas semanas mostra um catolicismo reacionário alarmado pelo vírus quanto pela modernidade. O tema merece uma digressão. A condenação do contágio une todas as religiões e, em particular, todos os fundamentalismos. Responde ao medo de se misturar com o estranho, o seguidor de um outro deus, o correligionário morno, o pecador, o mundo e, assim, perde a pureza. É um viático para a salvação, garantia de um contato exclusivo com Deus, explicação para tantos sacrifícios. Pressupõe uma teologia de imunidade e da pureza que se sobrepõe aos laços de sangue. E que Jesus Cristo contesta desde a raiz, sendo acompanhado por prostitutas e cobradores de impostos, perdoando o pecado mais imperdoável, pregando uma irmandade que ultrapassa as fronteiras étnicas, familiares e até religiosas. Uma "teologia do contágio" que se reflete no pontificado de Francisco. Mesmo quando, no meio de uma pandemia, abraça as restrições do estado, os conselhos da ciência, a prudência de muitos que são, juntos, fiéis e cidadãos.