Vaticano. Três mulheres querem “quebrar o muro da desigualdade”

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11 Janeiro 2020

Três mulheres do Vaticano publicam um artigo de rosto descoberto para denunciar as desigualdades sofridas por elas dentro do Estado do Vaticano e pedir maior reciprocidade.

A reportagem é de Marie-Lucile Kubacki, publicada por La Vie, 07-01-2020. A tradução é de André Langer.

O artigo causou alvoroço na Itália e nos Estados Unidos. Foi publicado nestes dias no suplemento feminino Donne Chiesa Mondo, do jornal oficial do Estado do Vaticano, o L'Osservatore Romano. O jornal já havia se destacado publicando várias pesquisas e artigos nos últimos dois anos sobre os abusos de poder do qual as freiras são, às vezes, vítimas.

Desta vez, o texto destaca o mal-estar das funcionárias do Vaticano e é assinado pela mão de três delas, fundadoras da Associação de Mulheres do Vaticano (DVA), coletivo que foi criado em dezembro de 2016: Romilda Ferrauto, Adriana Masotti e Gudrun Sailer. A primeira, que dirigiu durante muito tempo a antena francesa da Rádio Vaticano, trabalha agora como consultora para a administração da Sala de Imprensa do Vaticano, e as duas últimas são jornalistas do Vatican News – o nome que as mídias do Vaticano tomaram após a reforma. Seu método, assinar um artigo de rosto descoberto em uma mídia oficial, mesmo que o façam como cofundadoras da DVA, é um fato suficientemente raro para ser destacado.

Relações de subordinação

“Trabalhar sabendo que contribuímos para a atividade de um papa é uma fonte de satisfação e orgulho incomparáveis, começam reconhecendo as signatárias. O mesmo acontece com as muitas mulheres, por volta de 950, que trabalham no Vaticano. Elas não estão de passagem, não são voluntárias. Nos diferentes dicastérios, escritórios, revistas... em um nível igual, o salário delas é o mesmo dos colegas do sexo masculino. No mesmo nível. Daí a primeira pergunta. Quantas de nós mulheres que ocupam posições de responsabilidade conseguem chegar às instâncias de direção?” Até agora, muito poucas, deploram essas mulheres. E para explicar que, excetuando os padres, os bispos e os cardeais, que são de fato homens, a situação não é necessariamente melhor entre os leigos, onde os homens também têm maior probabilidade de decidir, escolher e definir as regras.

Mas o acesso às posições de responsabilidade não é sua única preocupação. As relações de subordinação das mulheres e a falta de autoconfiança também são apontadas. “É triste ver que ainda existem mulheres que vivem de maneira desconfortável sua vida profissional no Vaticano, escrevem Romilda Ferrauto, Adriana Masotti e Gudrun Sailer. Algumas delas não encontram coragem para defender seus próprios direitos, para se manifestar. Como em muitas sociedades, as mulheres no Vaticano são às vezes vistas – por homens, mas também por outras mulheres – como pessoas de menor valor intelectual e profissional, sempre disponíveis para servir, sempre dóceis às ordens dos superiores”.

Nada de sacerdotes mulheres

Se elas veem sinais positivos no pontificado de Francisco, como as recentes nomeações de mulheres, elas dizem: “Não é suficiente”. E acrescentam: “Em vez de ocupar espaços, é necessário iniciar processos, indo além das reivindicações ideológicas de paridade dos papéis e da tentação de clericalizar a condição feminina”. Claramente, elas não sonham com sacerdotes mulheres. “Não se trata da ordenação sacerdotal, enfatizam, mas da urgência de quebrar o muro da desigualdade entre mulheres e homens na Igreja. É urgente promover uma profunda mudança de mentalidade, mas ainda mais, conforme recomenda o Papa Francisco, para desenvolver o conceito de reciprocidade para superar a subordinação, promover a corresponsabilidade e avançar juntos”.

A publicação deste artigo é um forte sinal. Um sinal de que as mulheres, dentro da Igreja, continuam a se atrever a falar criticamente, e que cada vez mais o fazem com o rosto descoberto.

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