Cardeal de Mianmar: a pobreza é um desastre provocado pelo homem

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29 Março 2019

A pobreza é um “desastre provocado pelo homem”, que exige uma resposta na escala de uma “terceira guerra mundial”, disse o cardeal Charles Maung Bo, de Yangon, Mianmar, em uma conferência sobre a doutrina social católica.

A reportagem é de Heidi Schlumpf, publicada em National Catholic Reporter, 28-03-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

“A pobreza não é natural, como a chuva ou a neve. As pessoas são tornadas pobres, mantidas pobres”, disse. “A pobreza é o pecado mortal dos tempos modernos.”

Mas, em vez de situar a justiça econômica e ambiental na frente e no centro, “os países ricos estão sequestrando o discurso dos pobres”, disse o cardeal.

“Celebrar a vitimização por parte dos ricos e por outras classes privilegiadas está rapidamente se tornando uma paixão nacional”, afirmou.

Bo, primeiro cardeal do país antes conhecido Birmânia, instou os países mais ricos a abandonarem suas guerras culturais internas para se moverem na direção da compaixão pelos pobres e famintos.

“Sem depreciar o sofrimento psicológico, espiritual e mental de milhões, precisamos recuperar o discurso dos pobres, o seu sofrimento”, disse.

“O sofrimento humano tem um binário genérico: os que têm e os que não têm”, disse. “Celebrar outras vitimizações pode esperar.”

Bo foi o principal conferencista do congresso bienal sobre a tradição social católica, promovido pelo Center for Social Concerns da Universidade de Notre Dame, de 21 a 23 de março. O tema deste ano foi “A Opção pelos Pobres”.

O cardeal elogiou a universidade e os organizadores da conferência por chamarem a atenção para a situação dos pobres e por lhe pedir para falar sobre “Uma ponte entre os continentes na companhia dos pobres”.

“Esta não é uma era de pontes, mas de muros”, disse, acrescentando que ambos se tornaram “artilharia política”.

“Quando a arrogância de poderes políticos e econômicos se entroniza em cidadelas com uma cultura da indiferença, meus louváveis elogios vão à coragem moral de vocês de trazerem as lágrimas e a fragilidade dos pobres mais uma vez para o centro do palco”, disse ele aos quase 350 participantes.

Bo também criticou a chamada “teologia da prosperidade” nos Estados Unidos, que “reembalou” a mensagem de caridade e justiça de Cristo.

“Uma das razões pelas quais [as pessoas] no Oriente nunca ficarão entusiasmadas com Cristo é o modo como ele é apresentado pelos pastores evangélicos modernos”, disse. “A Bíblia não tem a ver com prosperidade. Tem a ver com justiça.”

Ele destacou as quase 15.000 crianças menores de cinco anos que morrem todos os dias de fome e desnutrição, e os milhões de pessoas desnutridas e famintas nos países em desenvolvimento, enquanto os países ricos desperdiçam bilhões de quilos de comida.

Citando o Papa Francisco, ele lembrou à plateia que “jogar comida fora é como roubar das mesas dos pobres, dos famintos”.

Apesar das riquezas naturais do ouro, do jade e dos minerais, o Mianmar é um dos três países mais pobres da Ásia, disse o cardeal.

“A opção pelos pobres não é uma opção na Ásia”, disse Bo, mas sim uma exigência. Ele disse que a Igreja se alinhou com os pobres e com os sem poder do seu país, onde os católicos representam menos de 2% da população.

“Nós somos pequenos, mas somos uma Igreja confiante”, disse ele, acrescentando que os católicos ficaram animados com a visita de Francisco em novembro de 2017.

Ele instou os ocidentais a “escutarem o grito dos pobres e o grito da terra” e a construírem pontes em uma época em que “a insegurança, o isolamento e o nacionalismo ameaçam rasgar o tecido da família humana”.

Com a doutrina social católica como mapa, a Igreja pode facilitar mais o “diálogo entre as pessoas” para aumentar o entendimento, disse Bo.

“Os Estados Unidos precisam entender as outras partes do mundo”, afirmou.

Outro conferencista, o padre dominicano Gustavo Gutiérrez, também enfatizou que a pobreza tem causas humanas. Infelizmente, “mesmo assim, as pessoas acreditam que não se trata disso”, afirmou ele, por meio de um intérprete.

Ele falou sobre a “complexidade” da pobreza, que inclui o racismo e o “desprezo pelas pessoas que não são como eu, aquelas que são vistas como não humanas”.

Gutiérrez explorou pela primeira vez a “opção preferencial pelos pobres” no seu livro inovador de 1971, intitulado “Teologia da libertação: história, política, salvação”. Agora com 90 anos de idade e vivendo em Lima, Peru, Gutiérrez voltou à Notre Dame para o congresso e para as festividades que celebram o recém-canonizado São Óscar Romero.

O padre – que também recebeu o reconhecimento “Micah Proclamation” do Center for Social Concerns – alertou contra os “cristãos muito devotos que vão à missa no domingo, que esquecem a voz dos pobres e não prestam atenção ao que está acontecendo no mundo”.

O economista Charles Clark, da St. John University, em Nova York, também reconheceu a pobreza como um resultado da ação humana. “A melhor maneira de ajudar os países pobres é parar de roubá-los”, disse. “Os países pobres subsidiam o padrão de vida dos países ricos.”

A teóloga Lisa Sowle Cahill, do Boston College, pediu uma “opção pelos pobres” para superar a falta de vontade política, que ela considera como uma “expressão social do pecado”.

“O impulso para a mudança estrutural tem que envolver a transformação cultural em múltiplos níveis, ou não haverá um amplo acordo para gerar vontade política”, disse ela.

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