Aumenta a concentração de CO2 na atmosfera em 2018

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14 Fevereiro 2019

"O mundo corre sério perigo. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu para o fato dos últimos 5 anos (2014, 2015, 2016, 2017 e 2018) terem sido os mais quentes já registrados no Holoceno e aponta para novos recordes futuros de aquecimento. O efeito estufa trará custos enormes e as sociedades podem não estar preparadas para pagar o alto preço de limpar no futuro a sujeira feita no passado e no presente", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado por EcoDebate, 11-02-2019.

Eis o artigo.

A concentração de CO2 na atmosfera deveria diminuir para atender as metas do Acordo de Paris, mas, ao contrário do que foi planejado e acordado, continua aumentando em ritmo perigoso. A NOAA (National Oceanic & Atmospheric Administration), por meio da Global Monitoring Division, divulgou os dados do crescimento médio da concentração global de CO2 na atmosfera.

Em 2018, o aumento foi de 2,39 partes por milhão (ppm). É um número menor do que os 3 ppm de 2015 e 2016, mas é maior do que o 1,89 ppm de 2017. Isto fez com que a média de 2010 a 2018 esteja em 2,4 ppm, número acima da média da década passada (2000-09) que foi de 2,0 ppm e muito acima da média da última década do século XX (1991-00) que foi de 1,5 ppm, conforme apresentado no gráfico acima. Portanto, a despeito das variações sazonais, o efeito estufa continua aumentando em ritmo mais acelerado do que nas décadas anteriores.

Durante o correr de cada ano, a concentração de CO2 segue um padrão sazonal, com pico (valor máximo) nos meses de maio e vale (valor mínimo) no mês de setembro. O limiar de 400 ppm foi atingido em maio de 2013. Em 2015, a marca das 400 ppm foi ultrapassada em 8 dos 12 meses. Na média anual, 2015 atingiu a cifra de 400,83 ppm e o de 2016 foi o primeiro a ultrapassar a marca de 400 ppm em todos os meses. O ano de 2017 começou com concentração de 406,36 ppm, no dia 01 de janeiro. A média do mês de maio foi de 409,65ppm (muito próxima do limiar de 410 ppm). O dia com maior concentração foi em 26 de abril com 412,63 ppm e o dia com menor concentração foi 27 de setembro com 402,26 ppm. O ano de 2018 começou com concentração de 406,94 ppm, no dia 01 de janeiro. A média do mês de janeiro de 2018 foi de 407,96 ppm, sendo que o máximo mensal do ano ocorreu em maio 411,96 ppm (acima do limiar de 410 ppm). O dia com maior concentração foi em 14 de maio de 2018 com 412,43 ppm.

Os dados de 2019 mostram que o efeito estufa não arrefece. No dia 01 de janeiro a concentração de CO2 foi de 409,73 ppm. No mês de janeiro a concentração ficou em 410,83 ppm, sendo que o maior valor ocorreu no dia 22 de janeiro com 413,9 ppm, conforme o gráfico abaixo. Seguindo o padrão sazonal, tudo indica que o mês de maio de 2019 deve ultrapassar o limiar de 415 ppm. No ritmo atual a concentração de CO2 pode ultrapassar 600 ppm até 2100.

Nos 800 mil anos antes da Revolução Industrial e Energética a concentração de CO2 estava abaixo de 280 ppm, conforme mostra o gráfico abaixo da NOAA. As medições com base no estudo do gelo, mostram que em 1860 a concentração atingiu 290 ppm. Em 1900 estava em 295 ppm. Chegou a 300 ppm em 1920 e atingiu 310 ppm em 1950. Com base nos dados do laboratório de Mauna Loa, constata-se que a concentração de CO2 na atmosfera, na média mensal, chegou a 399,76 partes por milhão (ppm) em maio de 2013 e, em 2017, chegou aos 410 ppm. Na média anual, os números indicaram 370 ppm no ano 2000 e 408,52 ppm em 2018.

O dramático é que o efeito estufa está se agravando. Artigo de Gavin L. Foster e colegas, publicado na Nature Communications (04/04/2016) mostra que o mundo caminha para um aquecimento potencial sem precedentes em milhões de anos, como mostra o gráfico abaixo. Os atuais níveis de dióxido de carbono são inéditos na história humana e estão no caminho certo para subir a alturas ainda mais sinistras em apenas algumas décadas. Se as emissões de carbono continuarem em sua trajetória atual, a atmosfera poderia atingir um estado não visto em 50 milhões de anos. Naquela época, as temperaturas eram até 10° C mais quentes e os oceanos eram dramaticamente mais altos do que hoje. A pesquisa que originou o artigo compilou 1.500 estimativas de dióxido de carbono para criar uma visão que se estende por 420 milhões de anos.

Assim, o mundo corre sério perigo. O aumento da concentração de CO2 na atmosfera contribuiu para o fato dos últimos 5 anos (2014, 2015, 2016, 2017 e 2018) terem sido os mais quentes já registrados no Holoceno e aponta para novos recordes futuros de aquecimento. O efeito estufa trará custos enormes e as sociedades podem não estar preparadas para pagar o alto preço de limpar no futuro a sujeira feita no passado e no presente.

O nível minimamente seguro de concentração atmosférica é de 350 ppm. Assim, o mundo vai ter não só de parar de emitir gases de efeito estufa (GEE) como terá que fazer “emissões negativas”, ou seja, terá que sequestrar carbono e fazer uma limpeza da atmosfera. O custo deste processo será muito mais caro do que o custo de reduzir as emissões.

Superar a era dos combustíveis fósseis e fazer uma mudança da matriz energética é um passo fundamental. Mas a lentidão da redução da queima de energia fóssil pode levar o mundo ao caos climático. Além disto, as demais atividades antrópicas também emitem GEE. Por exemplo, a pecuária é grande emissora de gás metano que é pelo menos 21 vezes mais poluente do que o CO2. E uma grande ameaça que se agrava com o processo de degelo é a “bomba de metano” que existe no permafrost.

Portanto, o mundo está num beco sem saída. Quanto mais avança com o crescimento econômico e o desenvolvimento das atividades antrópicas mais acontece as emissões de GEE. Os benefícios do desenvolvimento são colhidos hoje pela humanidade, mas os prejuízos para a biodiversidade estão aumentando de forma exponencial e os custos humanos serão pagos pelas novas gerações. As crianças e os jovens de hoje vão pagar um alto preço nas próximas décadas se a concentração de CO2 não voltar para o nível de 350 ppm.

Como mostrou Charles St. Pierre (16/11/2016), tratando da armadilha do crescimento, todo sistema econômico e todo sistema auto-organizado que não se autolimita dentro das fronteiras estabelecidas pelo seu meio ambiente, cresce até exceder a capacidade do ecossistema para apoiá-lo e sustentá-lo. Em seguida, ele colapsa.

Desta forma, é urgente dar uma meia volta nas tendências de emissões de GEE e no fenômeno de poluição crescente do solo, das águas e do ar e iniciar um processo de decrescimento demoeconômico para que a humanidade respeite os limites planetários e a capacidade de carga no Planeta. O caminho atual é insustentável e a civilização está avançando rumo ao precipício.

Hoje, o mundo já caminha para a acidificação do solo, das águas e do oceano, assim como para a 6ª extinção em massa das espécies. As mudanças climáticas, num futuro não muito distante, pode levar ao caos no Planeta. O colapso ambiental, levará ao colapso da economia moderna, o que será catastrófico para bilhões de pessoas e para toda a sociedade que, ao longo dos últimos 2 séculos, se enriqueceu às custas da poluição e do empobrecimento do meio ambiente.

Referências:

ALVES, JED. A liberação do metano ártico pode criar um cenário apocalíptico, Ecodebate, RJ, 03/04/2017

Gavin L. Foster, Dana L. Royer & Daniel J. Lunt. Future climate forcing potentially without precedent in the last 420 million years, Nature Communications 8, Article number, 04/04/2016

Charles St. Pierre. The Growth Trap, Resilience, 16/11/2016

350 org

NOAA. History of atmospheric carbon dioxide from 800,000 years ago until January, 2016.

NOAA, Trends in Atmospheric Carbon Dioxide.

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