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05 Dezembro 2018

"Pensar numa Igreja mais católica me faz olhar para dentro de mim mesmo e questionar-me se consigo dizer com humildade ao homem de hoje: “venha, entre! No meu coração você tem um lugar especial”. E este exercício quem sabe seria um bom remédio para nos curar do mal de nosso fanatismo religioso. Pode ser também a estrada que podemos percorrer neste advento", escreve Ademir Guedes Azevedo, padre, missionário passionista e mestrando em teologia fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana.

Eis o artigo.

Nós estamos presenciando uma onda de fundamentalismos em vários âmbitos de nossa história. Tudo isso se deve graças àquela saudade dos tempos passados. Os seus defensores dizem que a vida era melhor, que o ser humano era mais inocente, que existia mais igualdade. Pessoalmente não consigo identificar na história este período. Entendo que cada época tem suas belezas e seus desafios. Estes últimos devem ser enfrentados com espírito crítico e com coragem. O passado é um indicador que nos faz entender o presente com lucidez, mas sem fanatismo. Chego a pensar que aqueles que querem transportar o passado para o presente é porque têm medo da ação do Espírito Santo que faz nova todas as coisas e nos ensina a ler os sinais dos tempos. O nosso mundo precisa ser assumido com responsabilidade e maturidade para só assim construirmos o futuro de fraternidade.

No âmbito do Cristianismo vemos o retorno das antigas formas externas da observância de normas e preceitos. A evangelização, promovida por alguns personagens do youtube e redes sociais, abraça a linha do proselitismo. Os documentos do magistério nunca foram tão manipulados e mal interpretados como em nossos dias. Para piorar a situação existem aqueles que usam as redes sociais para propagar um evangelho que parece mais a boa nova de um imperador (como se fazia no Império Romano) que de um Deus feito homem. Com um cinismo assustador, sustentam seus argumentos dizendo que pertencem à Igreja Católica. Tudo isso me fez pensar sobre o que realmente significa o adjetivo católico, hoje. Ou melhor, o que faz com que a Igreja de Cristo seja mesmo católica? São os discursos de preconceitos que manipulam versículos da Sagrada Escritura para extrair conclusões precipitadas? Seria talvez a luta contra os que pensam diferente dos pastores de almas? O que realmente faz a Igreja uma comunidade católica?

Recordo que a Palavra "católico", derivada da palavra grega: καθολικός (katholikos), significa "universal", "geral" ou "referente à totalidade". Quando se diz que a Igreja é católica não nos remetemos a um aspecto geográfico, no sentido de estar presente no mundo inteiro. Não! A questão é outra. Queremos dizer que todos podem encontrar seu lugar nesta comunidade de crentes. Dizemos que somos uma família universal, onde cada membro possui um valor sagrado. Jesus em sua oração universal pediu ao Pai por todos, para que fôssemos preservados do mal do mundo. Se somos católicos é porque o Pai das misericórdias nos acolheu no seu coração, através do seu Filho que nos amou. Em Jesus nos tornamos universais, estamos em Deus e somos todos um só corpo.

Devemos ainda imaginar que Jesus foi católico por excelência. E apenas o seu modo de relacionar-se com as pessoas nos faz compreender a sua catolicidade. É apaixonante ler nas páginas dos evangelhos os seus encontros com os pecadores, com os que eram excluídos pela religião oficial que promovia uma imagem nacionalista de Deus. Jesus encontra-se com a samaritana (Jo 4, 5-43), inimiga dos judeus. Ele ouve o grito de Bartimeu (Mc 10, 46-52) e o resgata da margem da vida para pô-lo no centro. Perdoa prostitutas (Lc 7, 36-50) e diz que são elas que nos precederão no Reino de Deus (Mt 21, 31). Sua mensagem de amor não se reduz apenas aos judeus, olhando para a cruz o centurião pagão faz a mais bela profissão de fé: “verdadeiramente este homem era o filho de Deus” (Mc 15, 39). Todas as palavras, atos e gestos de Jesus são católicos porque sempre acolhem as diferenças e redimem a existência com um amor incalculável.

Tudo isso nos liberta das manipulações midiáticas e do fanatismo religioso que comprometem a verdadeira catolicidade. Somos católicos quando nos abrimos às diferenças dos outros e buscamos integrá-las com a caridade do Evangelho. Católicos seremos realmente se não usarmos a Palavra de Deus para difundir nossos fanatismos pessoais que ferem a unidade do Corpo de Cristo. A catolicidade se torna credível em nosso tempo só se deixarmos a fé progredir através do bem e da generosidade que nos fazem ser solidários com as reais necessidades humanas.

Neste sentido, pensar numa Igreja mais católica me faz olhar para dentro de mim mesmo e questionar-me se consigo dizer com humildade ao homem de hoje: “venha, entre! No meu coração você tem um lugar especial”. E este exercício quem sabe seria um bom remédio para nos curar do mal de nosso fanatismo religioso. Pode ser também a estrada que podemos percorrer neste advento. Entremos juntos neste caminho...

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