“Alguns bispos dos Estados Unidos culpam Francisco para se defender do colapso de sua credibilidade”. Entrevista com Massimo Faggioli

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01 Setembro 2018

Professor de história e teologia na Universidade de Villanova (Pensilvânia), analista da atualidade católica para alguns dos meios de comunicação mais prestigiosos do mundo, incluindo Commonweal, La Croix e Il Regno..., há bem poucas pessoas tão bem situadas para comentar a “crise Viganò como Massimo Faggioli. Nesta entrevista, o teólogo classifica como “pouco confiável” o relato do ex-núncio nos Estados Unidos, e denuncia que “alguns bispos” nos Estados Unidos utilizaram a carta de Viganò para tentar “culpar Francisco pelo escândalo, e para se defender do colapso de sua própria credibilidade, por causa do escândalo de abusos e a politização do episcopado”.

A entrevista é de Cameron Doody, publicada por Religión Digital, 31-08-2018. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

A Igreja agora está em “guerra civil”, após o documento Viganò?

Não gosto de falar em “guerra civil” na Igreja, porque isto não é útil, ou ajuda somente aqueles que querem semear divisão. Certamente, há uma Igreja muito dividida nos Estados Unidos. Contudo, não acredito que este caso interesse aos católicos em outros países da mesma maneira. O que é típico dos Estados Unidos é a fusão de diferentes questões: a crise de abuso sexual, a divisão interna das chamadas “guerras culturais” e a rejeição de uma minoria de católicos estadunidenses (incluídos alguns bispos) em aceitar o Papa Francisco como o Papa.

Por que o Papa Francisco não aborda as acusações diretamente? É realmente só porque acredita que o jornalismo de investigação fará com que as acusações se desmoronem por elas mesmas?

Acredito que é porque Francisco sabe que os jornalistas farão o seu trabalho (e já descobriram como é pouco confiável esse documento). Também porque nesse documento de Viganò há sérias acusações contra outras pessoas, a quem Francisco realmente não pode defender porque foi eleito Papa muitos anos depois que o problema com McCarrick surgisse.

As alegações no relato de Viganò tem algo a ver com o motivo pelo qual Bento renunciou?

Viganò e suas manobras, motivados pelo ressentimento pessoal contra o séquito de Bento, causaram muitos problemas no Vaticano já em 2011 e 2012. Sem dúvida, isto deu ao Papa Bento uma ideia do que significa governar a Igreja Católica e a Cúria Romana, e no quão difícil isto se tornou. Mas, não acredito que tenha sido um fator direto na renúncia de Bento.

Existe realmente um “lobby gay” em Roma?

Há muitos tipos de lobbies. O problema com o chamado “lobby gay” – e não sei se existe – é que o ensino oficial da Igreja sobre a homossexualidade cria um ambiente de negação e secretismo que constrói as condições para a chantagem e a vingança, etc. O que James Alison considerou recentemente, em dois artigos para The Tablet, estar “presos em uma armadilha desonesta”.

Acredita que o cardeal Burke e/ou outros cardeais ou bispos se envolveram na redação do documento de Viganò?

Sabemos que Viganò não estava só nisto. É surpreendente ver a ética jornalística totalmente ignorada por alguns que ainda chamam a si mesmos jornalistas.

Mesmo que haja vozes dissidentes (Strickland, o bispo de Tyler [Texas], etc.), a maioria dos bispos dos Estados Unidos segue acompanhando o Papa Francisco?

É o que espero, mas é difícil dizer. Não muitos bispos estadunidenses defenderam Francisco, ao passo que outros se puseram ao lado de Viganò de maneira bastante pública. Acredito que alguns bispos tentam culpar Francisco pelo escândalo para se defender do colapso de sua credibilidade, por causa do escândalo de abusos e a politização do episcopado. É difícil imaginar que todos eles não soubessem de nada sobre McCarrick.

Quais serão as sequelas disto no futuro próximo? O Vaticano instituirá uma investigação? De alguma maneira, serão punidos os críticos do Papa Francisco, caso se prove sua inocência?

Acredito que deveria haver uma investigação de algum tipo porque os católicos, especialmente nos Estados Unidos, tanto liberais como conservadores, precisam saber o que saiu errado com a ascensão de McCarrick ao episcopado e ao cardinalato. Todos os católicos estadunidenses estão comovidos pelo escândalo de abusos de uma maneira muito profunda. Não estou certo de que Roma esteja a par disto.

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