Mulheres progressistas críticas da Igreja dizem que estão determinadas a permanecer nela

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13 Março 2018

A julgar pelo que disseram algumas palestrantes de uma conferência progressista e reformista, em Roma, na quinta-feira - entre outras coisas, descreveram a Igreja Católica como um "grande transmissor global do vírus tóxico da misoginia" -, é de se perguntar por que elas ainda permanecem na Igreja, se estão tão insatisfeitas.

A reportagem é de Claire Giangravè, publicada por Crux, 09-03-2018. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.

A resposta básica que se ouvia vinha da ex-presidente da Irlanda, Mary McAleese, que, durante uma conferência de imprensa para o evento, na quarta-feira, afirmou: "Estamos aqui porque nos importamos, porque eu me importo!"

Esse sentimento era partilhado pela maioria dos palestrantes do evento.

A conferência "Voices of Faith” que, nos últimos quatro anos, realizou-se dentro do Vaticano, perdeu seu selo de aprovação este ano, depois que os organizadores disseram que três palestrantes, incluindo McAleese, não foram aceitos pelo Dicastério do Vaticano para os Leigos, a Família e a Vida, por seu apoio aberto ao aborto e aos direitos dos homossexuais.

Em vez disso, o encontro realizou-se a poucos quarteirões de distância da Basílica de São Pedro, no auditório da sede da ordem dos jesuítas, que estava lotado de leigos e religiosos de ambos os sexos.

Uma defensora dos direitos dos homossexuais ugandense, Ssenfuka Joanita Warry, que também estava na lista negra do Vaticano, disse que muitos perguntam por que ela continua sendo católica e organiza grupos de oração para gays e lésbicas, mesmo desaprovando o tratamento da Igreja à comunidade LGBT.

"Acredito que as coisas podem ser diferentes", disse aos participantes da conferência.

"Nossos líderes religiosos têm a chave da proteção das pessoas LGBT, e não apenas na África. Imagine se o Vaticano se posicionasse contra a criminalização para defender esses estilos de vida! Aí teríamos esperança", disse.

De acordo com Zuzanna Radzik, um teólogo polonês especializado em relações judaico-cristãs, a beleza da tradição católica, da liturgia aos sacramentos, a "nutre", e, portanto, ela não se sente impelida a explorar outras denominações religiosas ou abandonar sua fé, apesar de se sentir "sempre pronta para ser rejeitada" no gabinete de algum bispo ou pela Igreja como um todo.

"Eu realmente não pretendo ir a nenhum lugar!", afirmou. "Mesmo com raiva, nossa raiva mostra que estamos comprometidos, e não vamos desistir da Igreja."

Enquanto essas mulheres persistem em sua religião e persistem na tradição católica, também afirmaram que muitos jovens estão abandonando a fé exatamente pelas mesmas razões.

"As mulheres estão se distanciando da Igreja Católica em massa, pois aqueles de quem se espera uma influência crucial na formação religiosa de seus filhos não têm oportunidade de influenciar na formação da fé católica", disse McAleese em seu discurso de abertura.

Em relação aos Estados Unidos, um estudo do Pew Research Center de 2015 constatou que o número de estadunidense que não têm mais afiliação religiosa ou os chamados "sem religião" aumentou mais de 6% desde 2007. Os autores do relatório também descobriram que 12,8% dos jovens adultos dos EUA, entre 18 e 25 anos, já foram católicos, e cerca de 6,8% dos adolescentes dos EUA abandonou a fé católica.

No geral, o estudo concluiu que 74% dos entrevistados tinham abandonado a fé entre 10 e 20 anos de idade.

As irmãs Hindu-Católicas Lobo, Nivedita e Gayatri, representaram a voz da geração dos millennials na conferência, ou seja, jovens entre 16 e 35 anos. Elas apontaram para a privação de direitos das jovens mulheres como a principal razão pela qual os jovens estão abandonando o catolicismo.

"A maioria dos meus amigos jovens, eu acho, se identificaria como católica, mas não vai à Igreja. Mas isso também acontece com a maioria dos meus amigos hindus e a maioria dos meus amigos muçulmanos também. Não acho que simplesmente os jovens estão se afastando da Igreja, acho que os jovens estão se afastando da religião organizada, que disse, muito enfaticamente: 'Não os queremos de forma alguma'", disse Gayatri, numa entrevista ao Crux.

Ao contrário da irmã, Gayatri descreveu-se como uma "história de sucesso", porque ela escolheu permanecer dentro da Igreja e ser batizada, para "experimentar a missa na sua totalidade". Apesar disso, segundo ela, foi como se seu senso de self que vem de sua fé e sua bússola moral estivessem em combate, e precisa se esforçar para apoiar uma Igreja que, em sua opinião, não é inclusiva com as mulheres e as pessoas LGBT.

Nivedita disse que observa que a Igreja está "distanciada do que eu busco enquanto jovem mulher", que inclui a participação, a agência e o envolvimento ativo nas decisões.

"Se a Igreja diz para as pessoas que não acredita nelas, como ela vão acreditar em si mesmas?", disse Nivedita. "Acho que a Igreja precisa se unir novamente e descobrir seus valores e prioridades. A menos que esteja disposta a permitir uma mudança na dinâmica de poder, ou seja, mulheres na liderança, vai perder a relevância para as mulheres jovens de hoje em dia."

Nivedita pediu à Igreja para criar mais espaço para que as vozes jovens e especialmente as femininas sejam ouvidas.

"Talvez não estejamos presentes na missa, mas estamos lá fora fazendo a diferença", afirmou Nivedita. "Estamos indo em frente em alta velocidade num mundo virtual".

"Não podemos ser interrompidos, mas precisamos da sua orientação", acrescentou.

Outro tema comum na conferência de quinta-feira foram os vários apelos ao Papa Francisco.

McAleese descreveu a Igreja como um pombo "batendo uma só asa, desajeitada, quando Deus deu duas", pedindo ao Papa e ao clero para desenvolverem uma "estratégia com metas, caminhos e resultados, auditada com regularidade e independência” para incluir as mulheres.

Gayatri disse ao Crux que inicialmente tinha ficado muito animada quando Francisco foi eleito, e que o enxerga como alguém aberto ao diálogo e à compreensão mútua. Apesar disso, acrescentou, ela quer ver "mais assertividade", "proteção mais ativa" e uma "abordagem mais focada em soluções".

"Tenho três palavras para o Papa Francisco: Posicione-se! Aja! Não tenha medo!", declarou.

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