Sem respostas do Governo Federal, povo Munduruku intensifica mobilização na transamazônica

Mais Lidos

  • “A destruição das florestas não se deve apenas ao que comemos, mas também ao que vestimos”. Entrevista com Rubens Carvalho

    LER MAIS
  • Povos Indígenas em debate no IHU. Do extermínio à resistência!

    LER MAIS
  • “Quanto sangue palestino deve fluir para lavar a sua culpa pelo Holocausto?”, questiona Varoufakis

    LER MAIS

Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

03 Mai 2017

Indígenas Munduruku estão acampados na BR-230 desde o último dia 26. Entre as reivindicações, está a demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu e a defesa da Fundação Nacional do Índio (Funai).

A reportagem é publicada por Terra de Direitos, 02-05-2017.

Cerca de 150 indígenas da etnia Munduruku ocupam, desde a última quarta-feira (26), o KM 25 da rodovia Transamazônica (BR-230), em Itaítuba-PA, para denunciar o enfraquecimento da Fundação Nacional do Índio (Funai) e reivindicar, entre outras coisas, a demarcação da Terra Indígena Sawré Muybu (leia manifesto abaixo). Mundurukus do alto e médio tapajós participam da ação; ribeirinhos da Montanha-Mangabal também se somam à mobilização.

A Transamazônica é uma importante rota de escoamento dos grãos (como da soja) vindos do Mato Grosso. Desde o início da ocupação, carretas que transportam soja para os Portos da Cargill e Bunge, em Miritituba, estão paradas.

Em nota de apoio, organizações e movimentos sociais reforçam a denúncia de sucateamento da Funai, e alertam para as ameaças que os Mundurkus sofrem. Os munduruku, assim como o povo Kayabi e Apiaká, sofrem na região do Tapajós com ofensivas e ameaças a direitos em diversos vetores. O trabalho da Funai e as políticas de saúde indígena foram sendo reduzidas de forma mais acelerada desde 2016. Os retrocessos na saúde e na atuação da Fundação Nacional do Índio vão na contramão do que os indígenas reivindicaram na Conferência Nacional de Política Indigenista, em 2015.

Empecilhos para demarcação

A demanda por demarcação de terras, outro ponto levantado na manifestação Munduruku, se evidencia no processo de reconhecimento da Terra Indígena Sawre Muybu (Daje Kapap Eipi), na região do Médio Tapajós. O Governo Federal criou duas Unidades de Conservação (FLONA Itaituba 1 e FLONA Itaituba 2) nessa área que deveria ser destinada unicamente ao usufruto indígena independentemente da finalização do processo de demarcação. No entanto, as áreas hoje são destinadas a concessão para madeireiras enquanto o Governo Federal, através do Ministério da Justiça, não concede a Portaria declaratória da Terra Indígena.

Os resultados esperados em termos de políticas para os povos indígenas vão sendo substituídos por ataques do Estado brasileiro, que além de descumprir suas obrigações para com os povos indígenas os impede de garantir as suas terras tradicionalmente ocupadas. As Medidas Provisórias nº 756 e 758 editadas pelo presidente não eleito Michel Temer hoje são discutidas no Congresso Nacional para se tornarem Leis. As MPs, de um lado, ampliam Unidades de Conservação (UC) no Tapajós, mas, de outro, reduzem e flexibilizam as UC na região em benefício do agronegócio.

A MP 758 está sendo discutida como Projeto de Lei de Conversão nº 05 de 2017. Nesse processo, mais alterações são propostas, como a criação da Área de Proteção Ambiental (APA) Trairão (169 mil hectares) sobre a Terra Indígena Sawre Muybu, além das APAs Rio Branco (102 mil hectares) e Carapuça (172 mil hectares) sobre o Parque Nacional do Jamanxim.

Caso seja aprovado, o projeto de lei desconsidera o processo de demarcação da Terra Indígena.

Leia abaixo a reivindicação dos povos:

MANIFESTO MUNDURUKU

Nós, povo Munduruku, que ocupamos as terras indígenas do médio e alto Tapajós, em um total de 13 mil índios, nos municípios de Itaituba, Trairão e Jacareacanga, estado do Pará, estamos reunidos em um grupo de 130 pessoas, numa manifestação pela reivindicação de nossos direitos. Desde o último dia 26, ocupamos o Km 30, no ponto de encontro entre as rodovias BR-230 (Transamazônica) e BR 163 (Santarém-Cuiabá), e bloqueamos o fluxo dessa estrada. Essa foi a única forma que encontramos para chamar atenção do Governo Federal para as nossas demandas, que estão presentes na seguinte pauta de reivindicação:

- Exigimos a demarcação da TI Sawré Muybu: o Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação dessa terra foi publicado em 19 de abril de 2016, porém, até o presente, um anos após esse ato, o processo de demarcação se manteve parado. Exigimos que a FUNAI der continuidade com esse processo e que o Ministério da Justiça emita, enfim, a portaria declaratória da TI Sawré Muybu.

- Não aceitamos a Medida Provisória 756/2016, que cria a APA do Trairão, em área sobreposta à TI Sawré Muybu: exigimos que essa medida seja revogada, uma vez que a mesma cria a APA Trairão sobre a TI Sawre Muybu. Essa unidade de conservação permite a exploração da área por não-índios, fato que é inconstitucional, posto que a TI, já reconhecida pelo Estado, é área de ocupação e usufruto exclusivo do Povo Munduruku.

- Não aceitamos “projetos da morte” em nosso território: somos terminantemente contrários à iniciativa do Governo Federal de construir hidrelétricas na bacia do rio Tapajós. Assim como, não aceitamos as propostas de Concessão Florestal das Florestas Nacionais Itaituba I e Itaituba II, pois este processo tem sido realizado com total desrespeito ao direito originário do Povo Munduruku, assim como aos direitos da população ribeirinha que ocupa há muitas gerações as terras que serão afetadas por esse projeto, no âmbito do qual, até o presente momento, não se realizou a Consulta Livre, Prévia e Informada dos povos tradicionais, tal como o que previsto na Convenção 169 da OIT.

- Exigimos o fortalecimento da CR do Tapajós: as medidas do Governo Federal, tal como o Decreto 9.010/2017, contribuíram substancialmente para o enfraquecimento da FUNAI, que há anos já vem sido nitidamente sucateada. Acreditamos que o enfraquecimento desse órgão tem relação direta com a falta de compromisso do Governo Federal com a promoção dos direitos dos povos indígenas. Estamos cientes, ainda, que os interesses governamentais estão aliadas com políticas de crescimento econômica que são diretamente opostas à agende indígena. Porém, acreditamos que a Funai ainda pode ser um órgão fundamental para a efetivação de nossos direitos, principalmente no que se refere à demarcação de terras indígenas e a proteção de nossos territórios. Diante disso, exigimos que o Ministério da Justiça e a Presidência da Funai resolvam os problemas que assolam a Coordenação Regional do Tapajós, que hoje está praticamente agonizante. Exigimos a nomeação do Coordenador Regional Titular; a nomeação dos demais cargos de chefia que hoje se encontram vagos; a estruturação física, técnica e financeira da CR e das CTLs de Itaituba, Santarém e Jacareacanga; e a convocação, imediata dos novos servidores aprovados no último concurso público, em número suficiente para atender a demanda da CR Tapajós, conforme análise dos servidores dessa unidade, a serem consultados.

Sem mais, esta é a nossa pauta de reivindicação!

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Sem respostas do Governo Federal, povo Munduruku intensifica mobilização na transamazônica - Instituto Humanitas Unisinos - IHU