Quatro mil números da revista La Civiltà Cattolica: um pouco de história

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16 Fevereiro 2017

A revista quinzenal dos jesuítas italianos La Civiltà Cattolica chegou no sábado ao fascículo de número 4.000. Como esperam aqueles que conhecem a Companhia de Jesus, a ocasião foi saudada através de uma reflexão sobre o presente e a apresentação de projetos para o futuro, construídos sobre a tradição e a história. Isso é visível tanto no discurso proferido pelo papa à comunidade da revista, quanto no índice do caderno. Nada de estranho para uma ordem religiosa que construiu a sua identidade principalmente sobre os documentos e sobre os arquivos.

A reportagem é de Claudio Ferlan, publicada por Mente Politica, 15-02-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Francisco indicou três palavras-chave para o trabalho futuro do colégio dos escritores, acompanhando-as com figuras de referência de jesuítas da Idade Moderna. Parece uma escolha simbólica a de citar três pessoas que, dentro da ordem, tiveram percursos muito diferentes.

Como padroeiro da inquietação, o papa mencionou um dos fundadores, Pedro Fabro (1506-1546), “pioneiro do ecumenismo”, capaz de percorrer boa parte da Europa ocidental para conhecer aqueles que não pensavam como ele e para debater.

Matteo Ricci (1552-1610), missionário na China, é o símbolo da incompletude, entendida como curiosidade e abertura de pensamento, ele também muito pronto para dialogar com as outras culturas.

Quem personificou a imaginação foi Andrea Pozzo (1642-1709), arquiteto e pintor, capaz de abrir cúpulas e corredores onde havia tetos e muros, disse o papa.

Um santo, um padre missionário e um irmão leigo: são a imagem da identidade jesuítica, historicamente feita de indivíduos aos quais são atribuídas tarefas e qualificações muito diferentes: não há apenas os grandes teólogos, os santos e os missionários, mas também os coadjutores que se ocupam da cotidianidade e os artistas que imaginam o futuro.

Justamente olhando para a riqueza das competências dos seus membros, a Companhia de Jesus parece ser convidada pelo papa a pensar sobre o próprio futuro, “a sair em missão, a ir ao largo e a não se aposentar para acalentar certezas”.

La Civiltà Cattolica na história

Muito espaço para o passado está previsto pelo editorial coletivo “Quatro mil Cadernos da Civiltà Cattolica”, no qual corretamente se lembra como a história da publicação quinzenal é feita “de altos e baixos, de claros e escuros, e também de uma vis polêmica da qual, no passado, ela se encarregou segundo o espírito dos tempos”. Sabe muito bem disso aqueles que puderam ler alguns trechos do século XIX de marca ultraconservador; outros, escritos durante os 20 anos fascistas, tempo em que, muitas vezes, faltaram inquietação, incompletude e (especialmente) imaginação.

Um artigo muito interessante (Giancarlo Pani) é dedicado à excomunhão de Lutero, com uma conclusão nada banal em chave “if history”, voltada a se perguntar o que poderia ter acontecido se se tivesse buscado um diálogo real com o reformador de Wittenberg.

Um amplo espaço é dedicado (pelo Editorial e por Giovanni Sale) também ao pai fundador da revista, Carlo Maria Curci (1810-1891), que discutiu muito com o próprio padre-geral, Ian Roothan (1785-1853), inicialmente bem pouco inclinado a aprovar o projeto da Civiltà Cattolica, e que viveu momentos de enorme conflito com a Companhia e com o Vaticano, até ser suspenso a divinis e, depois, readmitido na ordem pouco antes de morrer.

Mais próximo no tempo está o artigo dedicado à política dos católicos italianos no segundo pós-guerra e à influência da revista sobre as suas posições (Francesco Occhetta), no qual se olha especialmente para as relações dos jesuítas italianos com a Democracia Cristã, antes e depois do grande divisor de águas representado pelo Concílio Vaticano II (1962-1965).

O primeiro caderno da Civiltà Cattolica foi publicado em 1850 e, em 2017, chegou-se ao número 4.000: uma longevidade que a torna objeto de pesquisa potencialmente muito rico, além de uma atenta testemunha do passado, como evidenciado na breve resenha do fascículo recém-publicado.

Os aniversários, muitas vezes, são ocasiões de celebração, é compreensível, mas é preciso dizer que a celebração corre o risco de se tornar um fim em si mesma se não se dá espaço a uma atenta análise dos acontecimentos que são lembrados, das suas causas e das suas dinâmicas. Altos e baixos, claros e escuros: a história é isso, um caso complexo a ser tratado com seriedade.

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