Discurso do papa aos movimentos populares: ''Quase uma pequena encíclica''

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12 Julho 2015

O próprio Evangelho inspira o longuíssimo discurso com o qual o pontífice concluiu o Segundo Encontro Mundial de Movimentos Populares, quase uma pequena encíclica que se insere com a linguagem nova na doutrina social católica.

A opinião é do jornalista italiano Giovanni Maria Vian, diretor do L'Osservatore Romano, o jornal da Santa Sé, 11-07-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Os diversos momentos da visita do Papa Francisco na Bolívia são mais uma confirmação do caráter inovador e essencial das suas viagens. Em coerência com a escolha de Paulo VI – que, entre 1964 e 1970, fez nove itinerários simbólicos em todos os cinco continentes, visitados depois pelos seus sucessores – e, naturalmente, com a vontade de testemunhar a alegria do Evangelho (evangelii gaudium) descrita pelo arcebispo de Buenos Aires no breve discurso durante as reuniões preparatórias do conclave do qual saiu eleito e, depois, no grande documento programático do pontificado.

Essa é a perspectiva, radicalmente missionária, em que é preciso compreender os gestos simples e eloquentes de Bergoglio, que, desse modo, reforça a presença no mundo das comunidades católicas e os seus vínculos de comunhão. Como está fazendo nesse retorno à sua terra de origem, a América Latina, "pátria grande" que, obviamente, ele conhece muito bem.

Assim são explicados o afeto com que o pontífice é acolhido e o interesse que despertam as suas palavras, eficazes em remeter continuamente ao puro Evangelho, como ele gosta de dizer, em situações muitas vezes difíceis.

Assim foi na missa com a qual o papa abriu o Congresso Eucarístico, descrevendo o olhar de Jesus que leva muito a sério a vida dos seus seguidores: "Ele os olha nos olhos e, neles, reconhece o seu viver e o seu sentir". Jesus, que "nos viu" do mesmo modo com que olhou para o cego Bartimeu, "sentados sobre as nossas dores, sobre as nossas misérias", disse Bergoglio falando com as freiras, o clero e os seminaristas, reiterando que "não somos testemunhas de uma ideologia, de uma receita, de um modo de fazer teologia", mas "do amor curador e misericordioso de Jesus".

E o próprio Evangelho inspira o longuíssimo discurso – que durou uma hora e foi pontilhado por cerca de 60 aplausos – com o qual o pontífice concluiu o Segundo Encontro Mundial de Movimentos Populares, quase uma pequena encíclica que se insere com a linguagem nova na doutrina social católica: "Nem o papa nem a Igreja têm o monopólio da interpretação da realidade social", porque são as gerações que se sucedem que constroem a história no contexto de povos "que marcham buscando o seu próprio caminho e respeitando os valores que Deus pôs no coração".

Recordando a Bíblia, a exemplo da Virgem Maria e de Francisco de Assis, citando Basílio, João XXIII, Paulo VI, os bispos latino-americanos e os africanos, o pontífice reiterou que, no anúncio do Evangelho, "a Igreja não pode nem deve estar alheia"a um processo de mudança – definido como necessário, positivo e "redentor" – de um sistema global de injustiça e de novos colonialismos.

E, diante de possíveis críticas pelos pecados "passados e presentes" contra os povos nativos americanos, Bergoglio repetiu o pedido de perdão pronunciado por João Paulo II.

Ao mesmo tempo, e com novas ênfases, o Papa Francisco pediu que crentes e não crentes reconheçam o que a Igreja fez e faz, "até o martírio", para testemunhar o Evangelho: os seus filhos e filhas são "parte da identidade dos povos na América Latina". Identidade que hoje, em muitas partes do mundo, quer-se apagar, porque "a nossa fé é revolucionária" no desafio à idolatria do dinheiro, reivindicou o pontífice. Que voltou a denunciar as perseguições e os massacres dos cristãos no Oriente Médio e alhures, definindo-os como "uma espécie de genocídio".

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