Festa da Santíssima Trindade

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30 Mai 2015

Um só Deus em três pessoas... Ao adotar o dogma da Trindade, os cristãos dos primeiros séculos não escolheram o caminho da facilidade! O que significa, então, crer na Trindade?

A reflexão é de Marcel Domergue, sacerdote jesuíta francês, publicada no sítio Croire, comentando as leituras da Festa da Santíssima Trindade, Ano B. A tradução é de Francisco O. Lara, João Bosco Lara e José J. Lara.

Eis o texto.

Referências bíblicas:
1a leitura: Deut 4,32-34.39-40
Salmo 32 (33)
2a leitura: Romanos 8,14-17
Evangelho: Mt 28,16-20

Os primeiros cristãos mostraram uma audácia muito grande, ao darem início à fé na Trindade. Digo «dar início», porque foi preciso muito tempo, até que esta fé encontrasse a sua fórmula definitiva. Ela ia contra o senso comum e parecia estar reinventando o politeísmo. Muitos cristãos, muitas vezes, nem se lembram da Trindade, quer dizer, de Deus em Si mesmo. Quando imaginamos Deus como uma espécie de super-homem infinitamente poderoso, ou como uma força à qual nada pode resistir, estamos em plena regressão, de volta a imagens espontâneas e primitivas do divino. Foram necessárias todas as Escrituras bíblicas para nos fazer passar do Deus solitário e monolítico ao Deus «sociedade», ao Deus comunhão, ou seja, ao Deus que em si mesmo é amor. Esta generosidade interna é que tornou possível a criação, a menos que se considere esta conforme o modelo artesanal, do oleiro moldando a argila, imagem que a Bíblia utiliza, explora e ultrapassa. O Novo Testamento é que nos dará a última revelação. As Escrituras, no entanto, não fazem contas: não lemos nelas, jamais, que «Deus é três». A Trindade veio até nós de uma reflexão dos primeiros séculos do cristianismo.

Deus Pai, Filho, Espírito

Em nossos textos, não encontramos de fato esta formulação, de «um Deus em três pessoas». Vemos, no entanto, serem nomeados muitas vezes o Pai, o Filho e o Espírito. Dentre muitos outros textos, podemos citar 2 Coríntios 13,13, que reúne os três em uma só fórmula: «A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!» São três «Pessoas» que se fazem apenas Um. Em São João, ouvimos Jesus dizer muitas vezes: «O Pai e eu somos Um.» João 14,9-10 recapitula bem todos estes textos. Filipe pede que Jesus lhe mostre o Pai e Jesus responde: «Tu não me conheces, Filipe? Quem me vê, vê o Pai… Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim?» Quanto ao Espírito, Ele é o sopro mesmo de Deus, a realidade pela qual Deus se comunica. O que irá soprar aos discípulos não será a sua própria palavra. Enviado pelo Pai em nome do Cristo, «o Espírito Santo vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que vos disse» (versículo 26). O Sopro traz a Palavra e se faz um só com ela. É um pouco o que acontece conosco, quando falamos. O envio do Filho e do Espírito de filiação até aos homens é, portanto, o que está na base da reflexão eclesial sobre a Trindade. O «dogma» é, antes de tudo, a experiência dos primeiros cristãos, dos primeiros crentes. É bom que se diga imediatamente que o fato de se fazer uma conta e dizer «Ele é Três» não é desprovido de significado. A ideia que fazemos de Deus se transformou.

Tudo é relações

A origem de tudo o que existe, e que chamamos de Deus, é relações. Não como se fossem seres já existentes e que, num segundo tempo, estabelecessem pontes entre si. Não! A «substância» de Deus é, se podemos dizer assim, relação, intercâmbio. Resulta daí que o universo inteiro, feito à sua imagem, é também relações. Não poderia jamais dizer «eu» se não tivesse à minha frente um «tu» de quem me distinguir. Temos aí, pois, a diferença entre as pessoas. Mas onde está a unidade necessária à nossa semelhança divina? Pois bem, quando o Espírito se faz presente, todos os «Eu» se tornam um «Nós» e formamos um só corpo, construído em nossas diferenças. Somos, nós mesmos, relações. O que há em nossos músculos vem-nos do sol, dos sais minerais, da água e do fogo. E tudo isto nos foi dado pela relação de nosso pai e nossa mãe. O que há em nossa inteligência nos vem em primeiro lugar do contato com os nossos pais e, em seguida, da linguagem, das nossas leituras, do ensinamento recebido e da cultura na qual nos banhamos. Só existimos por causa destes liames e entrelaçamentos que mantemos com os outros. Com referência a Deus, dizemos Pai, Filho e Espírito. É preciso repetir que estas são palavras que não devem ser tomadas em seu sentido habitual: elas ultrapassam infinitamente tudo de que podemos ter experiência.

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