“O casamento gay é fruto da ditadura do relativismo”, defende sociólogo italiano

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Por: André | 15 Junho 2013

O casamento entre pessoas do mesmo sexo já é legal em 14 países. Seguindo as reflexões do presidente da Conferência Episcopal da Itália (CEI), Angelo Bagnasco, o sociólogo Massimo Introvigne defende que “a família não pode ser humilhada e fragilizada por representações semelhantes que, suavemente, constituem um ‘vulnus’ progressivo à sua identidade específica, e que não são necessárias para a tutela dos direitos individuais, já garantidos em grande medida pela lei”.

A entrevista é de Giacomo Galeazzi e publicada no sítio Vatican Insider, 14-06-2013. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

Professor, há três anos, como arcebispo de Buenos Aires, Bergoglio atribuiu a lei sobre o “casamento gay” à “inveja do demônio que confunde e engana os filhos de Deus”. Você considera “catolicamente aceitável” a admissão das uniões civis sem recorrer à palavra casamento?

O problema não é apenas uma incerteza doutrinal sobre o que o Magistério ensina em matéria de uniões homossexuais. Para muitos (inclusive “conservadores”, dirigentes católicos, sacerdotes e mesmo alguns bispos) as incertezas doutrinais não existem, mas o problema é que cederam ao mito iluminista do progresso e do caráter inelutável de certas “conquistas” modernas, um mito que vincula a verdade ao tempo e que é o pilar dessa “ditadura do relativismo” de que, na esteira de Bento XVI, falou Francisco. Convenceram-se de que a história avança em linha reta, que a revolução contra a castidade pré-matrimonial, o aborto, o casamento homossexual, a eutanásia (amanhã vão chamá-la de “aborto pós-natal”) são o resultado de processos “irreversíveis”. O trem avança em linha reta e inexoravelmente. No máximo (como aconteceu na Itália com o tema das uniões homossexuais), pode deter-se um pouco em uma estação, mas depois parte novamente. Os que pensam diferente são vítimas, usando as ideias de Francisco, dessa mundanidade espiritual que perdeu a confiança em Deus e segue as vias do consenso do mundo e desse desespero histórico que, nos explicou o Pontífice, provém efetivamente do diabo.

Diferentes pessoas da hierarquia eclesiástica (como o cardeal belga Daneels, o arcebispo curial Marini ou o cardeal austríaco Schönborn) expressaram-se a favor de uma solução que legitime uma visão civil para pessoas do mesmo sexo. Existe uma fração pró-casamento gay no episcopado?

Devemos distinguir entre as questões doutrinais e as de teoria da ação. A doutrina é aquela exposta pelo cardeal Angelo Bagnasco e que se encontra em numerosos documentos do Magistério. A teoria da ação leva um certo número de católicos, que do ponto de vista doutrinal deveriam estar (e muitas vezes estão) de acordo com o Magistério, inclusive alguns prelados, a se perguntar se, do ponto de vista estratégico, as uniões civis não poderiam ser um mal menor em relação ao mal maior que representaria o casamento e as adoções entre pessoas do mesmo sexo. Primeiro se aprova a lei sobre a união civil (talvez “vinda” como uma alternativa à lei sobre o casamento e as adoções) e depois de alguns anos a união civil se transforma em casamento. As diferentes soluções (PACS, DICO, uniões civis...) são essas representações semelhantes à família que o cardeal Bagnasco vigorosamente rechaça e que não são simplesmente reconhecimentos dos direitos individuais.

Existe uma “santa aliança” entre confissões cristãs e outros monoteísmos para defender o casamento e a família tradicionais?

Há, inclusive na Itália (por exemplo, algumas iniciativas na Sicília), colaboração fecunda entre cristãos e protestantes, sobretudo da chamada matriz “evangélica” e pentecostal, assim como nos países do Leste, com as Igrejas ortodoxas. Mas também há ambientes judaicos (Bento XVI citou o rabino Bernheim, cujas ideias seguem sendo interessantes apesar das posteriores controvérsias sobre suas capacidades acadêmicas, que provocaram sua renúncia como líder dos rabinos da França) e inclusive muçulmanos.

O casamento homossexual é também uma arma ideológica da cultura laicista contra a fé?

Creio que as colaborações sobre este tema entre católicos e expoentes de outras comunidades cristãs e religiosas derivam justamente do fato de que a ideologia de gênero, como explicou Bento XVI em seu discurso à Cúria, de 21 de dezembro de 2012, implica a pretensão prometeica do homem que se faz a si mesmo, que nega a existência de uma natureza humana, e a afirmação de que podemos inventar para nós uma identidade e um modelo de família como melhor nos parecer. Mas negar a natureza significa negar a existência de um Deus Criador. Por este motivo, a ideologia de gênero é um desafio mortal para as religiões. O cardeal Bergoglio, que é muito sensível ao tema da ação do demônio no mundo, atribuiu esta negação da natureza humana à “inveja do demônio”. E, na conversa com o rabino argentino Abraham Skorka falou sobre um “retrocesso antropológico”, determinado pela ideologia de gênero e pela intenção de assimilar as uniões homossexuais ao casamento, uma expressão muito forte, mas que concorda absolutamente com o discurso de 2012 de Bento XVI. O documento fundamental é constituído pelas Considerações sobre os Projetos de Reconhecimento Legal das Uniões entre Pessoas Homossexuais, um texto de 03 de junho de 2003 da Congregação para a Doutrina da Fé assinado pelo então prefeito da mesma congregação, o cardeal Ratzinger, mas que foi assinado e aprovado pelo Papa, o beato João Paulo II, fato que o torna, como sabemos, parte do Magistério Pontifício.

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