Poema sobre a guerra. Jaroslav Seifert na oração inter-religiosa desta semana

Cena do filme 1917 | Foto: Divulgação

06 Agosto 2021

 

Neste espaço se entrelaçam poesia e mística. Por meio de orações de mestres espirituais de diferentes religiões, mergulhamos no Mistério que é a absoluta transcendência e a absoluta proximidade. Este serviço é uma iniciativa feita em parceria com o Prof. Dr. Faustino Teixeira, teólogo, professor e pesquisador do PPG em Ciências da Religião da Universidade Federal de Juiz de Fora - MG.

 

Poema sobre a guerra

 

Estrangular a guerra,

para que as mulheres possam sorrir,

para que não envelheçam tão depressa

quanto as armas envelhecem.

Mas a guerra disse: Sou!

Sou desde o princípio,

não tendo havido um momento

em que eu não existisse.

Sou antiga como a fome

e o amor.

Eu sempre me criei,

mas o mundo me pertence!

E irei destruí-lo.

Estarei presente

quando o trapo ensanguentado de fogo

cair nas trevas

feito saliva de criança

que cai no fundo do poço

quando se deseja medir-lhe

a profundidade escura.

Nós contudo – e aí reside a esperança –

poderemos pensar a esse respeito

por um instante

por um breve instante ao menos.

 

Fonte: Jaroslav Seifert (1901-1986). In: Aleksandar Jovanovic (Ed). Céu vazio. 63 poetas eslavos. São Paulo: Hucitec, 1996, p. 72.

 

Jaroslav Seifert (Foto: Jaroslav Krejci | Wikimedia Commons)

 

Jaroslav Seifert (1901 - 1986):  Poeta tcheco, foi prêmio nobel de literatura em 1984, tendo se dedicado ao jornalismo e às letras. Seu primeiro livro, Cidade em lágrimas, foi publicado em 1920.
Entre suas obras: Sobre as ondas da TSF (1925), Mão e chama (1945-1948), A ponte de pedra (1944) e Concerto na ilha (1965).