O comentário é de José Antonio Pagola, teólogo espanhol, publicado por Religión Digital, 08-09-2025.
Sem dúvida, a parábola mais cativante de Jesus é a do "bom pai", erroneamente chamada de "parábola do filho pródigo". Esse "filho mais novo" quase sempre atraiu a atenção de comentaristas e pregadores. Seu retorno ao lar e a incrível acolhida de seu pai comoveram todas as gerações cristãs.
No entanto, a parábola também fala do "filho mais velho", um homem que permanece com o pai sem imitar a vida desordenada do irmão fora de casa. Quando lhe contam sobre a festa que o pai está organizando para acolher o filho perdido, ele fica perplexo. O retorno do irmão não lhe traz alegria, como aconteceu com o pai, mas sim raiva: "Ele fica indignado e se recusa a entrar" na festa. Ele nunca saiu de casa, mas agora se sente um estranho entre os seus.
O pai sai para convidá-lo com o mesmo carinho com que acolheu o irmão. Não grita nem lhe dá ordens. Com amor humilde, "tenta persuadi-lo" a entrar na festa de boas-vindas. É então que o filho explode, revelando todo o seu ressentimento. Passou a vida inteira seguindo as ordens do pai, mas não aprendeu a amar como ele o ama. Só sabe exigir seus direitos e denegrir o irmão.
Esta é a tragédia do filho mais velho. Ele nunca saiu de casa, mas seu coração sempre esteve longe. Ele sabe guardar os mandamentos, mas não sabe amar. Ele não compreende o amor do pai por aquele filho perdido. Ele não acolhe nem perdoa; não quer ter nada a ver com o irmão. Jesus conclui sua parábola sem satisfazer nossa curiosidade: ele entrou na festa ou ficou de fora?
Apanhados pela crise religiosa da sociedade moderna, habituamo-nos a falar de crentes e descrentes, praticantes e separados, casamentos abençoados pela Igreja e casais em situação irregular... Enquanto continuamos a classificar os seus filhos e filhas, Deus continua a esperar por todos nós, pois Ele não é propriedade dos bons nem dos praticantes. Ele é o Pai de todos.
O "filho mais velho" desafia aqueles de nós que acreditam viver ao seu lado. O que estamos fazendo, nós que não abandonamos a Igreja? Estamos garantindo nossa sobrevivência religiosa observando os preceitos da melhor maneira possível, ou somos testemunhas do grande amor de Deus por todos os seus filhos e filhas? Estamos construindo comunidades abertas que compreendem, acolhem e acompanham aqueles que buscam a Deus em meio a dúvidas e questionamentos? Estamos levantando barreiras ou construindo pontes? Estamos oferecendo-lhes amizade ou os encarando com desconfiança?