2º Domingo do Advento – Ano A – Subsídio exegético

Foto: Pixabay

02 Dezembro 2022

 

Subsídio elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF

Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló

Leituras do dia

Primeira Leitura: Is 11,1-10
Salmo: 71
Segunda Leitura: Rm 15,4-9
Evangelho: Mt 3,1-12

O Advento

Advento é um tempo de preparação para algo novo que deve acontecer na história. Uma mudança que se reflete num mundo de esperança: justiça, fraternidade, harmonia e paz (1ªleitura). Isto exige guiar a vida pelas Escrituras e acolher-se mutuamente (2ª leitura), o que requer um processo de conversão radical (evangelho). Toda esta novidade acontecerá quando os fiéis assumem, com responsabilidade a mudança de vida anunciada por João Batista. Deus quer a participação humana para transformar esta realidade no mundo novo sonhado pelo profeta e iniciado por Jesus.

O Evangelho

João Batista, de acordo com Lc 1,5ss era de família sacerdotal. Portanto, deveria estar a serviço do altar, no templo. No entanto, ele se muda para o deserto, onde se veste e se alimenta de forma precária bem diferente do trajar e do alimentar habitual de Jerusalém. Ele, como 800 anos antes, o profeta Elias (2Rs 1,8) faz de sua vida uma denúncia do antirreino. Só assim a mensagem de Jesus encontra terreno fértil para instaurar o Reino dos Céus, já agora aqui na terra.

O povo, diante da pregação de João acorre, pois esperava o irromper de um Reino, uma vez que, os reinados de Israel sempre foram imperfeitos e causaram muita dor e sofrimento. Enfim, acreditava-se, virá o Reino dos Céus e tudo vai mudar. O povo pensava: recebendo o batismo, estaremos aptos para receber o Reino. No entanto, quando fariseus e saduceus também querem receber o batismo, o Batista deixa claro: não basta um banho nas águas. Para que o Reino aconteça, é preciso mudança de vida. Faz-se necessário produzir bons frutos. Ou seja, o Reino não é algo que caia do céu, mas para que a mensagem de Jesus produza efeito, seus discípulos e discípulas devem se preparar e aceitar que sua palavra comprometa e transforme os passos de seus seguidores.

Em João Batista começou a conversão que ele vai pregar em vista da chegada de Jesus: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo”. Para que a novidade sonhada por Isaías (1ª leitura) se realize, é preciso a conversão, isto é, mudança de critério de valorização dos bens que regem a sociedade. Em Jesus e em suas comunidades tudo isto já é realidade. Ele é o já e o ainda não, pois, vivendo a sua mensagem, o Reino se torna visível, mas nunca de forma completa, pois sempre de novo é preciso ouvir o apelo de conversão diante dos novos desafios sociais e comunitários. As pessoas que acolhem o evangelho e o vivem tornam presentes o sonho da convivência do profeta/poeta. Não a do lobo e cordeiro que não podem mudar sua natureza, mas das pessoas, inclusive as de culturas diferentes (2ª leitura).

As leituras

Is 11,1-10: O profeta Isaías, que também é poeta, está iludido com as políticas dos reis. Já não confia nos monarcas em exercício, pois só vê aumentar a injustiça e a politicagem. Então, de forma poética extravasa seu sonho de algo novo: muitas árvores, ao serem cortadas, brotam novamente com diversos ramos (ex.: eucaliptos). Estes ramos, ao crescerem assumem o lugar do tronco cortado. Com esta metáfora da árvore cortada, o profeta/poeta se refere à família de Jessé (dinastia de Davi). Lembrando que Davi recebeu a promessa de Deus de ter sempre um descendente no trono (2Sm 7,8ss). Porém, a maioria dos descendentes desta família real foram maus. O profeta, então espera que um novo descendente deste tronco (ramo de Jessé) surja e assuma o reino e instaure a justiça como são os planos de Deus. No entanto, isto nunca aconteceu na história do povo de Deus. O NT relê a pessoa de Jesus à luz da profecia de Isaías, como este rebento de Davi. Nele se realiza o sonho do profeta/poeta

Rm 15,4-9: na comunidade de Roma havia cristãos judaizantes, conservadores e legalistas, presos às antigas práticas religiosas; outros vindos da gentilidade eram progressistas e às vezes, um tanto relapsos, que prescindiam completamente do ritualismo judaico e de suas leis. Eles se firmavam em Cristo e o que era importante para os cristãos conservadores, para eles não contava. Nascia assim um clima pesado na convivência entre estas duas tendências religiosas. Progressistas e conservadores se degladiavam. Paulo quer harmonizar as comunidades. Para que lobos e cordeiros possam conviver (cf. 1ª leitura) é preciso se acolher também nas diferenças, como o fez Jesus. De nada adianta chamar-se cristão, se o ensino do mestre não transformar nossa maneira de viver na diversidade. Mesmo com visões diferentes, faz-se necessário acolher-se, pois foi assim que também Jesus o fez.

Quando se olha para o testemunho de comunidades como a de Francisco de Assis, de Madre Teresa de Calcutá e da Irmã Dulce e de tantas outras pessoas comprometidas com o evangelho, percebe-se que o sonho de Isaías não foi em vão, não entre os animais, mas entre os humanos. Para isto é preciso conversão ao evangelho.

Advento é o chamado à conversão que a Igreja nos faz para que hoje, as pessoas cristãs mudem de vida e instaurem em nossa sociedade, o Reino dos Céus que Jesus veio trazer. Já temos muitos sinais deste reino, mas ainda falta muito.

Preparemo-nos!

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