03 Junho 2016
Dois grupos de pessoas diferentes, um cheio de vida, outro cheirando morte... tudo parece deter-se e silenciar-se, quando Jesus se encontra de cara com a viúva de Naim.
O comentário do Evangelho proclamado na liturgia do próximo domingo, 05-06-2016, correspondente ao 10ª Domingo do Tempo Comum, é elaborado por Maria Cristina Giani, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Evangelho de Lucas 7,11-17
Em seguida, Jesus foi para uma cidade chamada Naim. Com ele iam os discípulos e uma grande multidão. Quando chegou à porta da cidade, eis que levavam um defunto para enterrar; era filho único, e sua mãe era viúva. Grande multidão da cidade ia com ela. Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela, e lhe disse: «Não chore!» Depois se aproximou, tocou no caixão, e os que o carregavam pararam. Então Jesus disse: «Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!». O morto sentou-se, e começou a falar. E Jesus o entregou à sua mãe. Todos ficaram com muito medo, e glorificavam a Deus, dizendo: «Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo». E a notícia do fato se espalhou pela Judeia inteira, e por toda a redondeza.
Eis o comentário.
O texto de hoje é uma das páginas mais comoventes do evangelho de Lucas, o qual exprime de uma forma muito bela a compaixão e ternura de Jesus.
Para melhor refletir nele vamos recriá-lo com nossa imaginação. Situamo-nos primeiramente na porta da cidade. Ali encontramos Jesus com seus discípulos e uma grande multidão entrando na cidade, o clima de alegria e confiança reina neles depois de terem testemunhado a cura por Jesus do empregado de um oficial romano.
Por outro lado se aproxima da mesma porta outro grupo de pessoas, outra multidão, mas o ar que respira este grupo é de tristeza, de angústia, de morte. Vão acompanhando uma viúva que perdeu a última esperança de sua vida, a razão de seu existir, leva a enterrar o seu filho único.
Grande é o impacto desse encontro na porta da cidade. Dois grupos de pessoas diferentes, um cheio de vida, outro cheirando morte... tudo parece deter-se e silenciar-se, quando Jesus se encontra de cara com a viúva de Naim.
Agora todos os olhos estão fixos neles. O que Jesus fará agora, se perguntam os discípulos? Por que não nos deixam continuar para enterrar este jovem?, dizem incomodados os familiares da viúva.
Depois de “pintar este quadro”, no centro do mesmo o evangelista desenha os sentimentos que batem no coração de Jesus: “Ao vê-la, o Senhor teve compaixão dela”. Ele se comove com a dor desta mulher que já chorou a morte de seu marido e agora chora a de seu filho e a própria.
Jesus não é indiferente à dor das pessoas, deixa-se tocar e sofre junto com elas, mas não fica ali. A compaixão de Jesus o leva a agir, a dar vida, traspassando os limites ou barreiras culturais e religiosas de seu tempo.
Coloquemo-nos no meio dessa grande multidão, porque já agora ficou uma só! E olhemos de novo para Jesus: o que ele faz, o que ele diz?
Primeiro se dirige à mulher e lhe diz que pare de chorar, para que enxergue o que ele vai fazer, e diante dos olhos exorbitados da multidão se dirige diretamente ao jovem morto e o toca! Nesse momento o silêncio foi maior ainda, pois Jesus ficou impuro segundo a lei judaica.
Mas Jesus não se importa com isso, sua compaixão o leva a ir até as profundezas da dor da viúva, a tocar sua ferida de morte, o corpo morto de seu filho.
É assim que Jesus atua movido pela compaixão, toca com sua ternura, com sua misericórdia nossas feridas, nossas misérias e nos recria, nos coloca de pé: “Jovem, eu lhe ordeno, levante-se!”.
Podemo-nos perguntar: quantas mães em nosso país choram hoje pela morte de seus filhos?
A violência é um dos problemas mais graves e presentes na vida dos brasileiros (Mapa da Violência 2015), e para a parcela de jovens da população, esse problema toma proporções de tragédia. A metade das mortes de jovens brasileiros é por homicídios, a maioria dos jovens mortos provém das periferias urbanas e com baixa escolaridade e morrem três vezes mais negros que brancos.
Quanta necessidade temos que Jesus olhe com misericórdia para a multidão de hoje e nos ensine a olhar com compaixão nossa realidade, para ter a coragem de tocar as feridas familiares e sociais, de ir às causas de tanta morte. E assim, movidos pela sua misericórdia, buscar caminhos alternativos de vida, de ressurreição para nossa juventude.
Ela precisa escutar uma voz de esperança, de nova oportunidade, de amor incondicional que lhe dê força para colocar-se de pé e andar.
Lucas finaliza este episódio dizendo: “Um grande profeta apareceu entre nós, e Deus veio visitar o seu povo”.
Sem dúvida Deus continua visitando seu povo através de diferentes pessoas, homens e mulheres que vivem hoje o evangelho de misericórdia de Jesus e por isso fazem a diferença e nos encorajam a cada um, cada uma de nós a ser profetas.
Agradeçamos a contínua visita de Deus a seu povo, rezando juntos o Cântico de Zacarias:
Bendito seja o Senhor Deus de Israel,
Porque visitou e remiu o seu povo,
E nos suscitou um libertador poderoso,
Na casa de Davi, seu servo,
(Como anunciou desde o princípio
pela boca dos seus santos profetas),
Para nos livrar dos nossos inimigos
e da mão de todos os que nos odeiam;
Para usar de misericórdia com nossos pais,
E lembrar-se da sua santa aliança,
Do juramento que fez a Abraão, nosso pai,
De conceder-nos que, livres da mão dos nossos inimigos,
O servíssemos sem temor,
Em santidade e justiça diante dele por todos os nossos dias.
Sim, e tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo,
Porque irás ante a face do Senhor preparar os seus caminhos,
Para dar ao seu povo conhecimento da salvação Na remissão dos seus pecados,
Devido à entranhável misericórdia de nosso Deus,
Pela qual nos visitará a aurora lá do alto,
Para alumiar os que estão de assento nas trevas e na sombra da morte,
Para dirigir os nossos pés no caminho da paz.
Amém.