03 Dezembro 2018
A International Civil Service Comission (ICSC) é o órgão da ONU que "regula e coordena" as condições de trabalho do staff da próprio ONU. Sua direção é composta por 15 pessoas eleitas pela Assembleia Geral da ONU para um mandato de quatro anos.
O Brasil acabou de ser derrotado na eleição para uma dessas vagas. Foi um claro recado dos países árabes ao anúncio de Bolsonaro de que pretende transferir a embaixada brasileira de Tel-Aviv para Jerusalém (seguindo o exemplo dos Estados Unidos e da Guatemala).
Foi uma eleição menor, sem grande importância. Por isso mesmo os países árabes a escolheram para transmitir o recado. E o Itamaraty já entendeu. Resta saber o que pensa o surtado do futuro ministro e seu futuro chefe não menos surtado.
Acabei agora de editar um artigo do amigo Roberto d'Araujo, engenheiro e especialista em setor elétrico. É uma área que eu domino razoavelmente, já tendo escrito artigos sobre ela. Mas o texto do Roberto me esclareceu alguns pontos que ainda eram obscuros.
Acabo de falar com ele. Fiz uma provocação. Eu disse: "Roberto, o modelo implantado no Brasil é tão ruim que só funciona por três motivos:
(a) pode-se empurrar as irracionalidades para o consumidor indefinidamente, sob a forma de aumento de tarifas;
(b) a Eletrobras, estatal, entra sempre para perder; (c) o potencial energético do país é gigantesco."
Eu achei que ele faria alguma ponderação. Para minha surpresa, ele disse: "Exatamente. Você tem razão".
O sistema é muito complexo. Não é possível explicá-lo aqui. Somente registrem: se o povo brasileiro entendesse o que vem sendo feito no setor elétrico, desde os governos do PSDB, passando pelo PT e chegando ao PMDB, teríamos uma revolução no Brasil.
Só uma palhinha: nossas tarifas são mais do dobro das de países que também têm preponderância hidrelétrica. Só uma comercializadora de energia, que não produz nada e tem oito funcionários (oito funcionários), lucrou US$ 480 milhões no período recente.
Assim marcha o Brasil.
Abraços,
Cesar Benjamin
Lauro Jardim informa hoje no Globo que Maluf pôs à venda parte de sua adega.
Pois bem, quer receber R$ 15 milhões.
Sim, R$ 15 milhões por parte de sua coleção de vinhos.
Mas exige o pagamento em dinheiro vivo, não pode ser por transferência bancária.
Estranho, né?
Esse tipo de coisa é que nos faz entender o que ocorreu quando da Revolução de Outubro na Rússia, em 1917, as adegas das ricaços foram saqueadas pelo povo em festa e houve um gigantesco porre nacional, que exigiu dos bolcheviques rigor para o restabelecimento da ordem.
Quem não gostaria de fazer o mesmo com a adega do Maluf?
O Reinaldo Azevedo, que anda tendo umas tiradas boas de vez em quando, escreveu bem hoje na Folha sobre o escanteamento dos partidos na montagem do governo Bolsonaro. Diz o Azevedo que só há mesmo ali três partidos: o Partido da Polícia (o do Sergio Moro), o Partido de Chicago (o do Paulo Guedes) e o Partido da Caserna, dos militares da reserva.
Eu acho que é isso mesmo. Os dramas para ele são como fazer uma Reforma da Previdência sem ouriçar o Partido da Caserna, como se relacionar com o sistema político e ao mesmo tempo manter satisfeito o Partido da Polícia, e como realizar as medidas impopulares que quer o Partido de Chicago sem levar um tombo nas suas taxas de aprovação.
Mas ninguém pode reclamar de estelionato eleitoral. Os três partidos promovidos durante a campanha foram esses aí mesmos. Ao contrário de 2014, desta vez ninguém foi enganado.