16 Janeiro 2018
Lembro-me que quando eu era jovem estudante do ginásio e do secundário ouvia as reclamações dos meus amigos que frequentavam outras escolas e que também, não raro, eu também me questionava, mas para que serve estudar o grego e o latim? Por que tanto dispêndio de energia para estudá-los?
A reportagem é de Vito Mancuso, publicado por la Repubblica, 12/01/2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Era uma época em que o inglês ainda não tinha assumido a importância (para não mencionar a invasão) que tem hoje em dia, uma época em que ninguém sabia informática porque ninguém tinha um computador, mas, mesmo assim, a objeção pairava como uma ideia fixa na cabeça: grego e latim, mas não seria melhor estudar outra coisa em seu lugar? As respostas que recebia na escola não me convenciam e, devo dizer, que não me convencem nem mesmo hoje.
A mais usada era aquela que dizia que o grego e o latim "abrem a mente", ou "ajudam a raciocinar", o que penso seja verdade, mas talvez o mesmo não ocorre com a matemática, a geometria, a filosofia, as línguas modernas e ainda vivas ou a música?
Então, por que se importar tanto com o latim, e tão pouco com a música? Por que não abrir a mente com algo que mais tarde na vida e na carreira poderá resultar mais útil?
Depois percebi que, na verdade, o grego e o latim realmente desdobram seu significado para a atualidade, somente se, de acordo com a grande intuição da civilização clássica da qual são a voz, sejam deixadas de lado as categorias do útil e do necessário, ou seja, daquela esfera que com uma única palavra os latinos chamavam negotium, e se entre na esfera oposta chamada otium.
Isso significa: para a pergunta sobre para o que servem o grego e o latim, a resposta mais honesta e mais convincente é: para nada.
Exatamente nessa educação à indisponibilidade reside o seu inigualável serviço.
Obviamente não é totalmente verdade que o grego e o latim não servem para nada. Além de abrir realmente a mente de quem os estuda, para nós italianos, que falamos uma língua que do latim é continuação ininterrupta, as línguas clássicas permitem conhecer as raízes da nossa língua, e, portanto, de nós mesmos, da nossa história e da nossa civilização.
Acredito que não seja necessário convencer ninguém do fato que para realmente conhecer o presente, e assim agir produtivamente sobre o futuro, ocorra conhecer o passado. E o passado não é feito apenas de datas, mas também de linguagem, de estruturas gramaticais e sintáticas. Vocês nunca provaram uma alegria muito especial da mente ao descobrir a etimologia de uma palavra usada frequentemente sem pensar?
Vamos tomar, por exemplo, justamente o verbo pensar. O italiano "pensare" vem de "pesare" (do qual também os sinônimos "sopesar", "ponderar"), enquanto em latim se usa "cogitare", verbo que remete a cum-agitare, ou seja, uma espécie de conflito interno do qual nasce aquela inquietação da mente chamada pensamento.
Nossa mente não se enriquece, pelo menos um pouco, quando descobre a origem das palavras que costuma utilizar?
Mas a verdadeira questão não é esta, a verdadeira questão é o otium. Como é sabido, o otium latino não é o ócio italiano, mas é o tempo livre, ou melhor, o tempo liberado do trabalho e dedicado à leitura, ao estudo, à reflexão. Não é inatividade, mas outro tipo de atividade. O que Aristóteles dizia da filosofia, acredito que nós possamos dizer, hoje, de toda a civilização clássica: "Da mesma maneira que chamamos homem livre a quem existe por si e não por outros, assim também esta ciência é, de todas, a única que é livre, pois só ela existe por si. Todas as outras ciências são mais necessárias do que ela, mas
nenhuma se lhe sobrevale" (Metafísica, I, 2).
Na era do homem de uma única dimensão (cfr. Herbert Marcuse, 1964), em que dia após dia cada vez mais precipitamos, a civilização clássica nos recorda que somos, ou melhor, que podemos ser de mais dimensões, e que a verdade de nós mesmos a atingimos quando chegamos a transcender o plano da mera utilidade.
Em seu tempo, Kant introduziu a genial distinção entre preço e dignidade, dizendo que "o que diz respeito às inclinações e necessidades do homem tem um preço comercial [...] mas o que se faz condição necessária para alguma coisa que seja fim em si mesma, isso não tem simplesmente valor relativo ou preço, mas um valor interno, e isso quer dizer dignidade "(Fundamentação da metafísica dos costumes).
Estou dizendo que na defesa da cultura clássica, e do lugar que é o seu símbolo, o secundário clássico, participa-se do grande jogo do humanismo, de quem queremos realmente ser: se apenas faber, ou ainda, apesar de tudo, sapiens.