O futuro que marginaliza os jovens. Artigo de Enzo Bianchi

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06 Dezembro 2017

Uma nova edição do best-seller de Armando Matteo, La prima generazione incredula [A primeira geração incrédula] (Ed. Rubettino), enriquecida com um novo capítulo em que o autor responde às críticas e às observações que, ao longo dos anos, foram feitas à tese do livro. E também com um novo prefácio do monge italiano Enzo Bianchi, que foi publicado por Avvenire, 05-12-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Escolha corajosa, esta de publicar, a quase 10 anos de distância, um livro sobre os jovens e a fé: nesse lapso de tempo, quase a metade daqueles que eram jovens foram substituídos pelas crianças e pelos adolescentes da época. No entanto, esta reproposição oferece preciosos elementos de novidade e de aprofundamento, acima de tudo, justamente, para o próprio evento editorial: qual instrumento melhor do que o tempo que passou para verificar os fundamentos da tese de Armando Matteo?

O autor não se isenta das reações que o seu livro e, mais ainda, as teses que, antes e depois da publicação, ele continuou divulgando em múltiplas ocasiões e contextos despertaram. Hoje, ele pode retomar, reagrupadas e destiladas, aquelas mais significativas e recorrentes: as respostas, honestas e pensadas, são preciosas para diversas categorias de leitores.

Aqueles que haviam levantado críticas ou perplexidades podem constatar como elas foram levadas a sério e forneceram elementos para uma maior reflexão. Aqueles que haviam concordado com a estrutura do livro encontram confirmações e aprofundamentos que também levam em conta o tempo transcorrido entre uma edição e outra. Aqueles, por fim, que não tinham lido a primeira redação têm em suas mãos um texto ainda mais articulado e documentado, também na bibliografia.

Certamente, não desapareceram os lugares-comuns sobre os jovens, começando pela mesma definição de uma categoria de pessoas ligadas entre si apenas pelos pertencimento a uma faixa etária inexistente até poucas décadas atrás: uma série de condições sociais e culturais fazia com que não houvesse “tempo para ser jovem”, já que a idade de passagem da adolescência ao mundo adulto durava tão pouco a ponto de ser sociologicamente quase insignificante.

No entanto, hoje, ouve-se falar continuamente dos jovens, das suas expectativas e frustrações, do seu futuro. Ou, melhor, precisamente sobre o termo “futuro”, outro lugar-comum corre o risco de nos desviar do caminho ao abordar as problemáticas juvenis: ouvimos repetir continuamente que “os jovens são o futuro da sociedade (ou da Igreja)” e não nos damos conta de que essa afirmação, por um lado, tende a marginalizá-los do presente, quase exorcizando o fato de já serem parte dele, enquanto, por outro lado, ignora perigosamente o dado que mais aflige hoje aqueles que têm entre 20 e 30 anos: a falta de esperança no futuro.

De fato, entre os anseios mais pungentes dos jovens, não há o de ser o futuro de uma determinada realidade social ou eclesial, mas sim de ter, já agora, um futuro para o qual tender, uma expectativa capaz de dar sentido ao seu presente.

Para a Igreja, além disso, especialmente na Itália e na Europa, a questão “jovens” torna-se particularmente preocupante. Estamos diante de pessoas para as quais “nascer e se tornar cristão” não são mais “eventos que acontecem de modo sincrônico”, impossibilitadas de perceberem “um lugar para Deus nos olhos dos pais”.

A análise de Matteo também é lúcida ao traçar “aquele sentido de noite e aquela noite de sentido” que aferra tantos jovens. São interrogações, sugestões, intuições, propostas para acolher com gratidão e aprofundar com sabedoria: dizem respeito à Igreja inteira e à sua presença na sociedade, hoje ainda mais do que amanhã, a sua capacidade de “humanizar”, de fazer com que o ser humano se torne mais humano.

Se essas palavras, às vezes, são afiadas e duras de ouvir, a preparação desta segunda edição as torna ainda mais aptas a despertar novamente a consciência de que a fé, assim como a vida, é transmitida de uma pessoa credível a uma pessoa aberta à possibilidade de crer. Trata-se de estar consciente não só de ter um patrimônio a transmitir, mas também de ter que tornar credível e desejável a herança que se quer deixar a gerações erroneamente definidas como “que virão”: na realidade, elas já estão no meio de nós e de nós esperam sinais de um passado em relação ao qual possam ser gratas, de um presente aberto ao futuro, de um futuro possível e que valha a pena ser vivido, começando aqui e agora.

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