Sem crowdfunding para os mártires cristãos da Argélia

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29 Abril 2017

A ideia era sedutora: recolher 10 mil euros para financiar, via internet, o processo de beatificação dos mártires argelinos. Mas isso não levava em consideração a complexa situação dos cristãos na Argélia. Após ter angariado apenas 280 euros, a campanha foi interrompida.

A reportagem é de Hendro Munsterman e publicada por La Vie, 26-04-2017. A tradução é de André Langer.

“A Igreja da Argélia é uma Igreja pobre financeiramente, mas rica em patrimônio espiritual”, escreveu o monge cisterciense Thomas Georgeon no sítio de “crowdfunding” Gofundme. O padre Georgeon esperava poder “apoiar a causa da beatificação dos sete monges trapistas de Tibhirine e de outros 12 mártires assassinados na Argélia entre os anos 1994 e 1996”. O objetivo era recolher 10 mil euros para “o procedimento em andamento e a preparação da celebração da beatificação”.

Este monge francês não é apenas desde 2009 o abade do mosteiro de Frattocchie, nos arredores de Roma; ele é também o postulador da beatificação dos 19 mártires da Argélia, cuja causa está atualmente em andamento no Vaticano. Thomas Georgeon escreveu muitos estudos sobre a comunidade de Tibhirine, especialmente sobre o irmão Luc, o monge-médico da comunidade.

Ao lançar, no começo da semana, esse desafio nesse sítio especializado em coleta de fundos para ações diversas e variadas, previa-se o efeito das redes sociais, assim como um eco internacional. Por isso, o postulador escreveu a página em quatro idiomas. Mas, apenas dois dias depois e 280 euros recolhidos, ele decidiu interromper a campanha, “seguida de algumas reações” – e após “consultar” os bispos da Argélia.

Uma campanha acusada de proselitismo

Para dom Jean-Paul Vesco, bispo de Oran, “esta campanha desencadeou reações previsíveis”. Ele disse que os quatro bispos católicos da Argélia apreciam “o intenso compromisso pessoal do irmão Thomas”, mas acham “pouco compreensível que ele possa fazer esta campanha em nome da Igreja da Argélia sem o acordo prévio dos seus pastores”.

Essas “reações previsíveis” puderam ser vistas em parte da imprensa argelina e nas redes sociais. O jornal Ennahar, por exemplo, estampava uma manchete que dizia que se tratava de uma “Campanha para financiar a Igreja da Argélia para difundir o cristianismo”. Em suma, de proselitismo.

De acordo com Jean-Paul Vesco, existem “inimigos dos cristãos prestes a instrumentalizar tudo”, o que torna “a questão das beatificações complexa”. Em uma entrevista ao jornal holandês Nederlands Dagblad, Jean-Paulo Vesco externou, em 2015, seu temor de dar a impressão de que a morte dos monges de Tibhirine seria considerada como “mais importante” do que as 200 mil outras pessoas que morreram durante esses anos.

De acordo com o dominicano de Lyon, feito bispo de Oran em 2013, tratava-se por parte do monge-postulador “de uma iniciativa lamentável que mostra a dificuldade de compreender a nossa situação do exterior”. E conclui: “Isso lhe permitirá, talvez, sentir de dentro o contexto no qual viviam os monges”.

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