Dia de Oração pela Proteção da Criação 2016: a mensagem do Patriarca Bartolomeu

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01 Setembro 2016

"O mundo que abraça a humanidade foi criado por uma única palavra imperativa: ‘E seja’ (cf. Gn 1 3,6,14). A cultura foi criada pelo homem munido de uma mente racional, de modo que também o respeito por ela é óbvio e necessário, porque, naturalmente, o homem é e é honrado como o coroamento da Criação divina."

Publicamos aqui a mensagem patriarcal por ocasião do Dia de Oração pela Proteção da Criação 2016. O texto foi disponibilizado no sítio Ortodossia.it, 01-09-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

+ Bartolomeu
por Graça de Deus Arcebispo de Constantinopla
Nova Roma e Patriarca Ecumênico
a todo o pleroma da Igreja graça, paz e misericórdia
do Artífice de toda a Criação, o Senhor e Deus
e Salvador Nosso, Jesus Cristo

Irmãos e filhos amados no Senhor,

Acompanhando há muitos anos os catastróficos desenvolvimentos mundiais no campo ambiental, a Santa e Grande Mãe Igreja de Cristo, vigiando, de iniciativa própria, fixou o início de cada ano eclesiástico como dia dedicado à Criação, ao ambiente, chamando, durante o mesmo dia, todo o mundo ortodoxo e cristão a fazer uma oração e uma súplica ao Criador de todas as Coisas e à ação de graças pelo grande dom da Criação e súplicas pela sua proteção e salvação de todo ataque visível e invisível dos homens. Assim, portanto, também este ano, durante tal mencionado dia, por parte do Patriarcado Ecumênico, recordamos a necessidade de sensibilizar todos perante os problemas ecológicos que, hoje, o nosso planeta enfrenta.

O rápido progresso tecnológico atual e as possibilidades e as facilidades que ele oferece ao homem contemporâneo não deve nos desviar de levar em consideração seriamente, antes de cada obra tecnológica, os agravos que ela provoca ao ambiente natural e à sociedade, e, consequentemente, também as consequências desfavoráveis conexas, que podem ser – e estão se revelando como tais – muito perigosas e catastróficas para a criação e a vida dos seres vivos sobre a terra.

Tal necessidade, por outro lado, também foi proclamada pelos irmãos Primazes e pelos Bispos das Santas Igrejas Ortodoxas locais, no último mês de junho, durante a convocação abençoada, na grande Ilha de Creta, do Santo e Grande Sínodo, sob a presidência do Patriarca Ecumênico, sublinhando, na sua Encíclica, que, "através do atual desenvolvimento das ciências e da tecnologia, a nossa vida está mudando radicalmente. E o que provoca uma mudança na vida do homem exige discernimento de sua parte, a partir do momento em que, além das notáveis vantagens... também estamos diante das consequências negativas do progresso científico", dentre as quais também está a ameaça ou a destruição do ambiente natural.

É necessária uma vigilância contínua, formação e ensino, de modo que fique clara a relação da atual crise ecológica com as paixões humanas da cobiça, da ganância, do egoísmo, da voracidade ávida, de cujas paixões o resultado e o fruto são a crise ambiental vivemos. Constitui, portanto, como única via o retorno à beleza antiga da ordem e da economia, da moderação e da ascese, que podem levar à sábia gestão do ambiente natural. De modo particular, a ganância com a satisfação das necessidades materiais leva, com certeza, à pobreza espiritual do homem, que envolve a destruição do ambiente natural: "As raízes da crise ecológica são espirituais e éticas, inerentes ao coração de todo homem", ressalta o citado Santo e Grande Sínodo da Igreja Ortodoxa, dirigindo-se ao mundo atual, "o desejo do contínuo crescimento do bem-estar e o consumismo desenfreado levam inevitavelmente à utilização desproporcional e ao esgotamento dos recursos naturais" (cfr. decisão sobre o texto "A missão da Igreja").

Ao mesmo tempo, celebramos hoje, irmãos e filhos amados no Senhor, a memória do Bem-aventurado Simeão, o Estilita, essa grande coluna da nossa Igreja, cujo monumento, assim como outros maravilhosos sítios arqueológicos na Síria e em todo o mundo, tais como o famoso da antiga Palmira, contados em nível mundial entre os principais monumentos de herança cultural, sofreram a barbárie e os horrores da guerra, evidenciando um igual problema significativo: a crise da cultura, que, durante os últimos anos, é mundial. Por outro lado, Ambiente e Cultura estão unidos e são de igual valor e intercambiáveis. O mundo que abraça a humanidade foi criado por uma única palavra imperativa: "E seja" (cf. Gn 1 3,6,14). A cultura foi criada pelo homem munido de uma mente racional, de modo que também o respeito por ela é óbvio e necessário, porque, naturalmente, o homem é e é honrado como o coroamento da Criação divina.

Portanto, devidamente, a partir desse Sacro Centro da Ortodoxia, enriquecido por uma tradição extraordinária e que conserva os valores de parâmetros mais amplos da herança cultural, chamamos a atenção de todos os responsáveis e de cada homem para a necessidade da proteção, paralelamente, do ambiente natural e da herança cultural mundial, que se encontra em perigo, por causa das mudanças climáticas, dos conflitos bélicos em todo o mundo e por causa de outros motivos.

Os tesouros culturais, que, como monumentos religiosos e espirituais, mas também expressão bimilenar da mente humana, pertencem a toda a humanidade e não exclusivamente aos países dentro de cujas fronteiras se encontram, correm os seus perigos em relação ao ambiente, e, além disso, a solicitude pela proteção do ambiente e dos valores inestimáveis da cultura é julgada como obrigatória para o viver bem da humanidade inteira.

A ruína e a destruição de um monumento cultural de um país fere a herança universal da humanidade; além disso, é dever e tarefa de cada ser humano, de modo particular de todos os países civilizados, de reforçar as medidas de proteção e de conservação ininterrupta dos seus monumentos. Assim, é indispensável que cada Estado de direito e de legalidade constituído evite ações que afetem a integridade dos seus "monumentos universais" e que alterem os valores intangíveis que cada um deles representa.

Consciente da "nossa maior responsabilidade" – proclamada de modo pan-ortodoxo – de "transmitir às futuras gerações um ambiente natural habitável e o seu uso conforme à vontade divina e a bênção" (Encíclica do Santo e Grande Sínodo) e que "não só as gerações atuais, mas também as futuras têm o direito de gozar dos bens naturais, doados a nós pelo Criador" (Decisão do Santo e Grande Sínodo "A missão da Igreja"), chamamos a todos a mobilizar as forças e, de modo particular, a rezar na luta pela proteção do ambiente na sua mais ampla acepção, ou seja, como conjunção harmônica do ambiente natural e cultural do gênero humano e suplicamos ao Senhor nosso Jesus Cristo, com as orações da Santíssima Mãe de Deus de Pammacaristos, com a voz daquele que clama no deserto, João, o Precursor, com a intercessão de Simeão, o Estilita, e de todos os Santos, que preserve a nossa casa comum natural e cultural de todas as ameaças e destruição e de conceder continuamente e com abundância efusiva a Sua bênção sobre ela.

Com recolhimento da alma e com a oração do coração, com todos os fiéis, rezando ao Artífice da Criação, das coisas visíveis e invisíveis, das coisas sensíveis e inteligíveis, a oferecer "o clima temperado e profícuo, as chuvas calculadas e tranquilas, para que a terra frutifique em abundância" e a conceder ao mundo inteiro "uma paz profunda, uma paz que vá além de todo pensamento", invocamos sobre todos os seres humanos e sobre a Casa da terra a Graça e a infinita Misericórdia de Deus.

1º de setembro de 2016

O Patriarca de Constantinopla
fervoroso intercessor diante de Deus por todos vós

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