“Os discursos do Papa são claros”. Entrevista com Juan Grabois

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Por: André | 13 Junho 2016

A discrição de Juan Grabois terminou no começo deste mês, quando Página/12 publicou uma duríssima recusa por parte deste dirigente social, de vínculos fluidos com o Vaticano, da milionária doação do Governo argentino feito à Fundação Scholas Occurrentes, criada pelo Papa Francisco, que foi replicada em Roma e nos meios de comunicação de todo o mundo.

“Quem pensa que por dar dinheiro, especialmente recursos públicos, a uma fundação, escola, ONG, cooperativa ou movimento popular pelo simples fato de estar direta ou indiretamente vinculado ao Papa, está fazendo um ‘gesto a Francisco’ é realmente um imbecil, além de corrupto e prevaricador”, disse Grabois, filho do dirigente peronista Roberto “Pajarito” Grabois e fundador da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular (CTEP).

A entrevista é de Nicolás Lantos e publicada por Página/12, 12-06-2016. A tradução é de André Langer.

No sábado, 11 de junho, foi divulgada a sua nomeação para ser consultor do Pontifício Conselho Justiça e Paz e ele, em conversa com este jornal, evidentemente desvinculou essas duras palavras sobre o Governo argentino de seu novo posto. “Não sou porta-voz do Papa nem do Vaticano. A nomeação é um reconhecimento dos movimentos populares por sua luta cotidiana e de nenhuma maneira se pode interpretar que esta tramitação, que começou há meses, tenha a ver com o que eu tenha dito nas últimas semanas”, esclarece.

“O cardeal Peter Turkson, bispo de Gana, foi quem me fez a proposta para integrar essa equipe. Como o trâmite tem a assinatura do Papa, foi interpretado como uma nomeação sua, mas é uma proposta feita pelo Conselho”, acrescenta Grabois, peça chave no vínculo entre os movimentos sociais e o Vaticano, que foi coroado com dois encontros mundiais que aconteceram em Roma e em Santa Cruz de La Sierra. “Eu sou um militante dos movimentos populares, não venho do mundo eclesiástico, e posso contribuir com uma visão que serve para complementar sua perspectiva das coisas”, comenta sobre sua nova nomeação.

Eis a entrevista.

Que papel a Igreja pode exercer para atenuar as consequências dos processos políticos regressivos que se vivem na América Latina?

Eu penso que a região está desenvolvendo um processo, em alguns casos com golpes de Estado brancos, em outros com uma pressão muito forte de setores econômicos apoiados pelos grandes meios de comunicação, para restaurar as políticas econômicas neoliberais, e isso afeta os mais humildes e excluídos. Mas não é um fenômeno local, uma vez que se dá no marco mais amplo, que é a crise sistêmica do capitalismo em escala mundial, que não consegue prover a mais da metade da população do mundo o acesso a coisas essenciais como a terra, o teto e o trabalho, que são aspectos básicos da dignidade humana.

Os problemas latino-americanos se dão no contexto daquilo que o Papa Francisco chama de idolatria do deus dinheiro. Os movimentos populares são organizações que não estão integradas à luta política tradicional, mas são outros canais de representação que enriquecem o sistema, porque constroem desde as próprias mãos dos mais humildes. A Igreja tem o papel de acompanhar e visibilizar estas lutas.

A relação entre o governo e o Papa enquadra-se nesse contexto global ou acredita que responde a questões domésticas?

A relação com o Governo argentino é uma relação entre dois Estados. Até onde sei, as relações diplomáticas são normais. Sobre esse tema não posso opinar. O Papa fala com seus gestos e palavras. Seus discursos são claros. Seus discursos sobre política econômica, sobre política educacional, sobre política alimentar, são muito mais claros que qualquer fofoca que possa existir. Se alguém escutar o que diz sobre estes temas e o comparar com as iniciativas de um governo, pode ter uma ideia da sua opinião.

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