“É intolerável não proteger juridicamente os casais gays”, defende Bartolomeo Sorge, jesuíta, ex-diretor da Civiltà Cattolica

Mais Lidos

  • Esquizofrenia criativa: o clericalismo perigoso. Artigo de Marcos Aurélio Trindade

    LER MAIS
  • O primeiro turno das eleições presidenciais resolveu a disputa interna da direita em favor de José Antonio Kast, que, com o apoio das facções radical e moderada (Johannes Kaiser e Evelyn Matthei), inicia com vantagem a corrida para La Moneda, onde enfrentará a candidata de esquerda, Jeannete Jara.

    Significados da curva à direita chilena. Entrevista com Tomás Leighton

    LER MAIS
  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

08 Março 2016

Igreja e política, uma antiga questão reproposta pelo debate sobre as uniões civis. A quem dirigir-se para obter luzes se não ao padre Sorge?

A entrevista é de Bruno Quaranta, publicada por La Stampa, 06-03-2016. A tradução é de Benno Dischinger.

Quem o sugere é Francisco que, num recente encontro, elogiou o coirmão: “Ele é um jesuíta que abriu caminho no campo da política”.

Papa Francisco abraça Pe. Bartolomeo Sorge, SJ sob o olhar de Pe. Adolfo Nicolás, Superior Geral da Companhia de Jesus.

Foto: Il Sismografo

Padre Sorge, de 87 anos, ex-diretor de “La Civiltà Cattolica”, o maior perito em doutrina social da Igreja. No oásis ambrosiano de San Fedele, perscruta e interpreta os sinais dos tempos. Não esquecendo a advertência de Santo Inácio: “Chama-se comumente de escrúpulo o que procede de nosso próprio juízo e liberdade, quando instintivamente imagino que seja pecado o que pecado não é”. Distinguir sempre... A questão das uniões civis é em geral contada com as categorias “laicas” e “católicas”... “A divisão remonta a uma fase histórica que não existe mais. A época das ideologias, cada ideologia com uma visão total da história, do homem, da sociedade. Impõe-se, então, compreensivelmente, a ideologia cristã.”

Eis a entrevista.

Uma estação concluída?

A arquivá-la tem sido o Concílio. Mas, na mentalidade de muitos não foi superada.

Igreja e Estado na Itália segundo os últimos Pontífices... Desde Paulo VI, a escolha religiosa, o adeus ao colateralismo (reabra-se a Octogesima adveniens: compete aos leigos, “sem esperar passivamente consignações ou diretivas”, agir na cidade terrena).

Para Wojtyla: a Igreja tenha uma função social. Pensava em sua Polônia e na Itália; naquilo que a Igreja havia dado aos dois Países. Considerava que a Igreja tivesse direito a um ressarcimento. Conectando culturalmente as duas nações.

A Francisco: nunca como agora as margens doTibre tem sido tão amplas..

E agora?

É um período de pesquisa. Não há senão destaques, desaparecido Martini. Martini andava no sulco de Montini, a escolha religiosa.

Ou seja?

A missão religiosa da Igreja, mãe de todos (Martini em cada homem discernia uma pessoa que crê e um descrente). Cancelando as superestruturas que de Constantino em diante corromperam a Igreja, transformando-a num Estado. O Papa não como sucessor de um pescador, mas de um imperador. Francisco é o retorno ao Evangelho.

As uniões civis banco de prova...

O Estado é laico. A Constituição é laica. Todos os cidadãos têm igual dignidade social e são iguais diante da lei. Era intolerável que os direitos pessoais dos homossexuais que vivem como casais não fossem protegidos juridicamente.

Uniões civis e família...

Outra coisa é a equiparação entre casais heterossexuais e casais homossexuais. O artigo 29 da Constituição “reconhece os direitos da família como sociedade natural fundada sobre o matrimônio”. Jemolo observava: um Estado não pode viver “sem certas convicções universalmente aceitas”. Viver unidos respeitando-se como diversos. É o desafio do século vinte e um. Uma sociedade não fica de pé se não tem um fundamento ético. Este não pode prescindir, como afirmava o não crente Croce, de uma dimensão transcendente, a religião essência de qualquer humanismo”.

Um novo humanismo: quais os seus valores universais?

A resposta deu-a João Paulo II à ONU. Uma “gramática ética” com três arquitraves: a dignidade da pessoa humana, a solidariedade (a democracia é sua expressão mais alta), a subsidiariedade (valorizando a contribuição que cada um pode dar sem que o superior se substitua ao inferior). 

Padre Sorge dirigiu o Instituto de Formação Política “Pedro Arrupe” de Palermo...

O político, figura tão necessária quanto rara. Síntese entre idealidade e profissionalidade. Não é suficiente ser santos (então se reze), não é suficiente ser profissionais (então se cultive a profissão). Entre os políticos, ele tem predileção pelo católico Aldo Moro. Dele admira a retidão política e a coragem de empreender caminhos novos. Tendo entendido a crise da democracia representativa, avançando para a democracia participativa. A sua corrente dentro do Partido Democrata Cristão da Itália não superava os 6-7 por cento, mas inspirava o partido inteiro. Mas esta Itália desapareceu, entre a via Fani e a via Caetani (ruas de Roma onde Aldo Moro foi assassinado).