EUA. O voto católico em 2016

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11 Fevereiro 2016

Agora que acabaram as prévias no estado do Iowa, a atenção se volta às primárias nos partidos Republicano e Democrata, começando com Nova Hampshire. Tem havido muita discussão sobre como os evangélicos votarão nas primárias republicanas e como as mulheres e minorias votarão nas primárias democratas, mas pouco tem sido dito a respeito dos católicos.

O comentário é de Thomas Reese, jesuíta e jornalista, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 04-02-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.

E.J. Dionne, jornalista e analista político americano, gosta de dizer que “não existe um voto católico, mas ele é importante”. O que ele quer dizer é que os católicos não votam em bloco. Mas são importantes porque votaram no vencedor da votação popular em quase todas as eleições presidências desde Roosevelt (eles não votaram em Ike, em 1952). Podemos modificar a afirmação de Dionne para: “Não há voto católico, e é por isso que ele é importante”.

Hoje o voto católico divide-se em duas grandes partes: católicos brancos e católicos hispânicos. Tradicionalmente, os católicos brancos votavam no Partido Democrata, começando em 1928, quando Al Smith foi atacado por fanáticos anticatólicos que apoiavam o candidato republicano. A Grande Depressão e o New Deal solidificaram o apoio deles ao Partido Democrata.

Hoje, no entanto, os filhos e netos desses católicos brancos da classe trabalhadora estão propensos a votar em candidatos republicanos. Graças aos seus pais, à G.I. Bill [uma legislação americana do pós-II Guerra] e a uma economia próspera, estas gerações mais novas foram para a universidade e juntaram-se às classes profissionais e empresariais. Os seus impostos aumentaram junto com as suas rendas e eles se esqueceram de suas origens.

Consequentemente, quando os políticos olham para o voto católico, veem dois grupos: os hispânicos, que são solidamente democratas por causa da demonização republicana dos imigrantes, e os católicos brancos, grupo composto por católicos com formação universitária e por um número declinante de trabalhadores de colarinho azul alienados.

Os católicos brancos são, muitas vezes, apontados como os votantes indecisos que podem decidir uma eleição. São eles a quem os candidatos devem apelar caso queiram vencer.

A verdade é que, nas eleições presidenciais, os partidos se preocupam pouco com os eleitores indecisos. A análise da relação custo/benefício indica que é bem mais barato motivar um apoiador preguiçoso a ir às urnas do que converter uma pessoa indecisa para o seu lado. É por isso que ambos os partidos focam-se em fazer valer o voto de sua base ao invés de conquistar o voto dos indecisos, pessoas que, em média, vão menos às urnas do que os partidários.

O candidato Barack Obama foi muito bem-sucedido em mobilizar a base democrática e a levar os seus eleitores às urnas. Infelizmente para ele e os democratas, ainda que essa estratégia tenha funcionado bem nas eleições presidenciais, ela não deu certo para as eleições ao Congresso, onde distritos indecisos precisavam converter eleitores indecisos.

Na verdade, alguns dos temas (aborto, imigração, etc.) enfatizados nas campanhas presidenciais magoam os democratas em distritos indecisos. Por exemplo, existem muito poucos hispânicos nos distritos indecisos para o Congresso. Em outras palavras, os democratas podem ignorar os católicos brancos nas eleições presidenciais, mas não podem fazê-lo caso queiram controlar a Câmara dos Deputados.

Os eleitores católicos fazem alguma diferença nas primárias presidenciais? Sim, e para ambos os partidos.

Quatro anos atrás, havia uma série de católicos concorrendo nas primárias presidenciais republicanas. Nenhum deles alguma vez conseguiu uma maioria dos votos católicos. Na realidade, enquanto os evangélicos votavam em vários candidatos católicos (Newt Gingrich e Rick Santorum), os católicos republicanos estavam votando em massa no candidato mórmon, Mitt Romney.

Uma parcela equivalente a 50% dos eleitores católicos votou em Romney nas primárias, de janeiro a 6 de março. Somente 22% votaram em Santorum, com Gingrich chegando em terceiro lugar com 18% do voto republicano católico. Só na Carolina do Sul é que os católicos deram uma maioria de votos a um outro candidato (Gingrich), e não a Romney.

Sem o apoio católico, Romney não teria sido indicado em 2012.

Os republicanos católicos tendem a ter uma maior formação acadêmica e se concentram mais nas cidades do que os seus colegas evangélicos rurais. Como profissionais com formação superior e como empresários, viram Romney como alguém como eles, tanto em termos culturais quanto profissionais. Os republicanos católicos se sentem melhor diante do establishment porque tiveram sucesso com ele. Para os republicanos católicos, a religião tem a ver com a família – e pouco a ver com a política.

O que os católicos republicanos vão fazer desta vez?

Infelizmente, como no ano passado, as pesquisas não nos dizem como os republicanos católicos votaram nas prévias em Iowa. Mas temos uma sondagem nacional feita pelo Forum Pew.

Segundo um estudo feito, 54% dos republicanos católicos acham que Donald Trump seria um bom/grande presidente. Ted Cruz e Marco Rubio têm números quase igualmente altos (51% e 52%). Somente 39% dos entrevistados disseram o mesmo para o candidato Ben Carson. Visto que a pesquisa do Forum Pew não forçou os participantes a escolherem uma opção, nós teremos de esperar pela próxima pesquisa para descobrir como os católicos republicanos, de fato, votam.

Será que eles irão se identificar com Trump, empresário, ou com Rubio, candidato do establishment? Como verão o candidato Cruz, que, com Trump, é um candidato antiestablilshment?

E sobre as primárias democratas?

Em 2008, os católicos votaram em massa em Hilary Clinton. Deram 60% ou mais dos seus votos na Califórnia, em Nova York, Nova Jersey e em Massachusetts nas primárias de 5 de janeiro. Um colunista opinou dizendo: visto que os católicos foram ensinados por freiras, eles se sentem à vontade com uma mulher forte. Outros viram uma mensagem mais negativa aí, em que os católicos estariam sendo preconceituosos.

Então, foram os católicos feministas ou racistas? O mais provável, apesar dos escândalos, é que os católicos ainda gostavam de Bill Clinton e viram Obama como uma incógnita.

Mas, nas primárias em Missouri, Obama venceu por pouco entre os católicos. Hilary Clinton, na medida em que o tempo passava, melhorou a sua imagem diante dos eleitores católicos, mas recebeu apenas 60% dos votos em Ohio, Pensilvânia, Texas e Rhode Island. Ela perdeu votos na Geórgia, Louisiana e em Virgínia, onde católicos negros podem ter influenciado. A candidata precisava de um forte apoio dos católicos brancos, caso quisesse superar a vantagem de Obama entre os democratas negros.

Será que os democratas católicos irão apoiar Hilary Clinton desta vez? Parece que sim.

De acordo com o Forum Pew, 69% dos democratas católicos dizem que essa candidata seria uma grande/boa presidente. Apenas 46% dizem a mesma coisa sobre Bernie Sanders. Diferentemente dos católicos republicanos, que classificam três dos candidatos em números quase iguais como grande ou bons presidentes, os democratas católicos apresentam uma diferença de 23% a favor de Hilary Clinton.

Finalmente, se olhamos para além das primárias, descobrimos que 40% de todos os católicos acreditam que Hilary Clinton seria uma grande ou boa presidente. Esta é a mais alta porcentagem de católicos que afirmam isso sobre um candidato presidencial, seguido por 30% dos que dizem a mesma coisa para Trump e Ted Cruz, e 29% que dizem o mesmo para Rubio.

Todos os três candidatos republicanos se dão igualmente bem entre os católicos, mas não tão bem quanto Hilary Clinton.

Por outro lado, o Instituto de Pesquisa sobre Religião Pública (Public Religion Research Institute – PRRI) descobriu que Ted Cruz tinha o índice favorável mais alto (47%) entre os católicos, seguido por Rubio (44%) Hilary Clinton (43%), Sanders (43%) e Trump (38%). Exceto para Trump, estes números estão muito próximos.

Hilary Clinton tem uma alta porcentagem de católicos (41%) que dizem que ela seria uma pobre/terrível presidente, segundo o Forum Pew, mas Trump tem números negativos ainda maiores, com 53% dizendo que ele seria um pobre ou terrível presidente. Por outro lado, Hilary Clinton (54%) e Trump (58%) tiveram os números desfavoráveis mais altos segundo o estudo do PRRI. Os católicos ou os amam ou os odeiam.

Em comparação, Ted Cruz e Btêm números negativos mais baixos, com 28% dos católicos dizendo que eles seriam pobres ou terríveis presidentes.

A temporada eleitoral está apenas começando, mas o campo já está ficando estreito. Assim, mesmo se não houver uma tal coisa com um voto católico, vai valer a pena ver como os católicos votarão nas próximas primárias republicanas e democratas. Eles novamente podem ser uma peça-chave na escolha dos candidatos em ambos os partidos.

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