Por: MpvM | 02 Fevereiro 2024
"No evangelho do domingo passado, Jesus e os discípulos estavam em Cafarnaum e foram à sinagoga. No evangelho de hoje, Jesus sai da sinagoga e vai até a casa de Simão e André, com Tiago e João. A narrativa traz uma personagem feminina, sem nome, apenas a familiaridade dela com Simão, é sua a sogra, com enfermidade naquele momento: estava de cama com febre."
A reflexão é de Celia Soares de Sousa, cristã leiga, casada e mãe. Ela possui graduação em teologia pela Faculdade de Teologia N. Sra. Assunção, SP (1999), mestre e doutoranda em Teologia Sistemática (PUC SP), pós -graduada em Mariologia e Doutrina Social da Igreja. Tem experiência na área de Teologia bíblica, Mariologia e Laicato. Atualmente atua como assessora da Comissão Episcopal para o Laicato da CNBB e integra a Comissão Nacional de Formação do CNLB.
1ª leitura: Jó 7,1-4.6-7
Salmo: Sl 146(147),1-2.3-4.5-6 (R. cf. 3a)
2ª leitura: 1Cor 9,16-19.22-23
Evangelho: Mc 1,29-39
Na liturgia deste domingo vamos refletir sobre uma leitura do livro de Jó, um trecho da 1ª Carta de São Paulo aos Coríntios e parte do capítulo 1 do Evangelho de Marcos. Nosso eixo será a missão como lugar de cuidar da vida e não apenas, como discurso.
Na primeira leitura do Livro de Jó (Jó 7,1-4.6-7), a fragilidade humana é questionada, quase que, como uma derrota do ser humano. O texto de Jó não é um mantra de pessimismo, apesar do aparente cansaço pela luta diária (Jo 7,1). Ele questiona o sentido da vida, do dia e da noite, fato este que aponta para um desejo de sabedoria, que possa direcionar suas ações e sua vida a Deus.
Na segunda leitura de hoje (1Cor 9,16-19.22-23), Paulo deixa entrever a dicotomia das condições de servir ou ser escravo. Para ele, evangelizar é levar a boa noticia de Cristo, servir é anunciar um caminho de salvação para todas as pessoas.
O Evangelho (Mc 1,29-39) traz a continuidade do Evangelho de Marcos. Há dois domingos atrás, a liturgia propôs o início do Ministério de Jesus na Galileia.
No evangelho do domingo passado, Jesus e os discípulos estavam em Cafarnaum e foram à sinagoga. No evangelho de hoje, Jesus sai da sinagoga e vai até a casa de Simão e André, com Tiago e João. A narrativa traz uma personagem feminina, sem nome, apenas a familiaridade dela com Simão, é sua a sogra, com enfermidade naquele momento: estava de cama com febre.
É importante destacar que Jesus e os discípulos saem da sinagoga “o espaço público dedicado à religião e política comunitárias e entram na casa dos seguidores de Jesus, um espaço doméstico e íntimo, lugar não do discurso, mas lugar da vida” (cf. Carolina Bezerra de Souza). A meu ver, este é o ponto central do ministério de Jesus na Galileia: a missão é lugar da vida e não do discurso.
Jesus coloca a vida sempre em primeiro lugar. A sogra de Simão, uma mulher provavelmente viúva, de cama com febre, estava impossibilitada de exercer a diakonia. Diakonia têm uma variedade de significados que vão desde o serviço à mesa e o trabalho doméstico de mulheres e escravos até o serviço de um cidadão ao estado.
As mulheres não tinham muito espaço na diakonia, nos serviços externos ao ambiente externo da casa. Além da perspectiva patriarcal e da estrutura machista, a casa era de Pedro. A mulher, provavelmente, servia somente à mesa e aos serviços domésticos da casa. Jesus aproximou-se da mulher, ele a tomou pela mão e a fez levantar-se. A febre a deixou e ela se pôs a servi-los. (Mc 1, 30-31).
Certamente, ao ser curada por Jesus ela foi tirada da exclusão social. Sabemos que a maioria das doenças afastam as pessoas do convívio social. Sobretudo a população vulnerável que precisa contar com os serviços públicos, muitas vezes sucateados, apesar da nossa defesa pelo SUS.
É extremamente importante que a saúde, sobretudo das mulheres que, atualmente, são as mais afetadas negativamente em seus direitos, seja uma bandeira de luta na nossa sociedade.
Alguns exemplos das demandas atuais de saúde, são: saúde e equilíbrio mental. Que se evite o excesso nas redes digitais e a doentia concorrência de diversos aspectos ali propostos.
Que sejamos cuidadores/cuidadors das pessoas que estão na solidão, oferecendo um tempo sadio de presença e de escuta. Saúde cultural: tornar conhecidos conteúdos que agreguem mais o desejo de paz, de justiça e de solidariedade, evitando que se esvaziem os direitos e projetos de vida. Saúde religiosa: que a sinodalidade seja uma prática comunitária em todas as instâncias da Igreja, promovendo a plena participação de todos. Saúde política: participação de mais mulheres no serviço ao bem comum na sociedade, desde os conselhos municipais aos cargos de gestão pública.
A missão é o lugar da vida e não do discurso. Jesus continuou curando muitos enfermos e expulsou demônios. Podemos nos perguntar o que Jesus espera a partir desta sua ação?
Com a proposta de Jesus de “ir a outros lugares, às aldeias da vizinhança, a fim de pregar (o Evangelho) também alí” (Mc 1,38) é que precisamos nos dispor a sermos curadas e curados por Jesus, seja da preguiça mental e física, seja do individualismo que causa isolamento, seja do ensimesmamento que provoca negação do diálogo e da escuta; seja do negacionismo, da aporofobia, da homofobia, da misoginia; seja da falta de cuidado com a ecologia integral, da falta de apoio às pessoas em situação de rua e aos diversos projetos eclesiais como a Economia de Francisco e Clara e Encantar a Política, entre outros.
Permaneçamos atentas e atentos com a proposta de Jesus de ir a outros lugares. A quais outros lugares você tem ido anunciar a boa notícia de Jesus, que é boa notícia de libertação?