33º Domingo do Tempo Comum – Ano A – O convite à partilha generosa e criativa dos talentos

(Foto: Pixabay)

Por: MpvM | 17 Novembro 2023

"Detendo-nos ao evangelho deste domingo, destaco dois aspectos: os talentos recebidos são dados segundo a capacidade de cada um e, cada um tem uma reação ao receber os talentos. Importante nos colocar atentas a este detalhe: ninguém recebe mais do que consegue trabalhar. Isso nos diz do Senhor que nos conhece profundamente, sabe de nossas capacidades e possibilidades, por isso nos dá talentos segundo nossa capacidade e espera que o frutifiquemos: “Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto...” (Jo 15,16). Ele nos conhece, nos escolhe, nos dá talentos para frutificar..."

A reflexão é de Vania Simone Martins, religiosa da Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida – CIFA, de Porto Alegre. Ela é membro do Conselho Geral e da Equipe Cuidado/CRB-RS. Possui licenciatura em letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Suo – PUCRS, pós-graduação em Espiritualidade Franciscana pela Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana - ESTEF/RS, pós-graduação em Cultura e Literatura pela Faculdade São Luís/SP. Atualmente está cursando a especialização em Direito Canônico da Vida Religiosa pela Faculdade de Direito Canônico São Paulo Apóstolo/SP.

Leituras do dia

1ª leitura: Pr 31,10-13.19-20.30-31
Salmo: Sl 127(128),1-2.3.4-5ab (R. cf. 1a)
2ª leitura: 1Ts 5,1-6 ou mais breve 25,14-15.19-21
Evangelho: Mt 25,14-30

Paz e bem!

Nos aproximamos do fim do ano litúrgico, e como todo final de ano, revisitamos nossos propósitos do ano que passou, avaliamos e olhamos para o ano vindouro, com novos propósitos e sonhos. Como cristãs e cristãos a liturgia vem nos convidando a fazer esta avaliação ao vir falando do juízo final, da segunda vinda de Cristo.

As primeiras comunidades esperavam e imaginavam que a segunda vinda de Cristo era próxima, Ele não tardaria a vir. Porém, com o passar do tempo e a não chegada de Jesus, os ânimos e a fé vão perdendo a força, a fidelidade ao Evangelho vai enfraquecendo, por isso a insistência na vigilância, no estar preparado. Chegando ao fim deste ano litúrgico, as leituras nos apresentam um desafio: como multiplicamos os bens que recebemos? Estamos vigilantes e preparados?

O Evangelho de Mateus (Mt 25,14-30) nos apresenta a parábola do homem que viaja ao estrangeiro, chama seus empregados e lhes dá talentos – “a cada qual de acordo com sua capacidade” (v15) – e ao retornar da viagem pede uma prestação de contas aos empregados desses talentos. Essa parábola está dentro do capitulo 25 de Mateus, todo ele relacionado com a necessidade de estar atentos e vigilantes para a chegada de Jesus.

Na primeira parte do capítulo (Mateus 25,1-13) o convite a estar preparados para o encontro com o Senhor mediante a prática da justiça – com a parábola das 10 virgens. Neste domingo (Mateus 25,14-30), o convite a que esta preparação/espera não seja passiva, e sim, ativa. É preciso agir com os talentos recebidos, fazê-los frutificar. E seguindo o capítulo, ele termina com “juízo final” (Mat 25,31-46), os talentos frutificados devem ser partilhados, em especial com os mais necessitam, pois neles identificamos Jesus.

Detendo-nos ao evangelho deste domingo, destaco dois aspectos: os talentos recebidos são dados segundo a capacidade de cada um e, cada um tem uma reação ao receber os talentos. Importante nos colocar atentas a este detalhe: ninguém recebe mais do que consegue trabalhar. Isso nos diz do Senhor que nos conhece profundamente, sabe de nossas capacidades e possibilidades, por isso nos dá talentos segundo nossa capacidade e espera que o frutifiquemos: “Não foram vocês que me escolheram, mas fui eu que escolhi vocês. Eu os destinei para ir e dar fruto...” (Jo 15,16). Ele nos conhece, nos escolhe, nos dá talentos para frutificar...

Cada um dos empregados reagiu de uma forma. Uns trabalharam e multiplicaram o recebido; outro enterrou o talento e, se não bastasse, se desculpou dizendo que fez isso “porque sei que tu és um homem severo... por isso fiquei com medo...” (vv24-25). Uma tentativa de justificar sua passividade ou preguiça ou desconhecimento de quem realmente é seu senhor, colocando a responsabilidade no outro. Eu não multipliquei os talentos, porque o senhor é severo... Seria como dizer “a culpa não é minha, o problema é seu”.

Podemos nos perguntar: como estou multiplicando os talentos que recebo? Também coloco a culpa nos outros quando paraliso ou não trabalho para dar frutos? Faço a experiência de Deus que me conhece e que me dá talentos conforme minhas capacidades? Tenho algum talento enterrado? Se o Senhor chegasse, o que eu apresentaria?

A primeira leitura (Pr 31,10-13.19-20.30-31), ainda que fale da “mulher virtuosa”, nos fala dos valores de que se deve revestir a discípula, o discípulo para viver na fidelidade ao Projeto de Deus e corresponder à missão confiada por Deus – os talentos recebidos. Na segunda leitura (1Ts 5,1-6), Paulo alerta para a importância de estar atento e vigilante, vivendo de acordo com os ensinamentos de Jesus, testemunhando o Evangelho – não enterrar os talentos, empenhando-se ativamente na construção do Reino, fazendo os talentos frutificarem. O salmo canta a vida de quem teme o Senhor. Temer não é ter medo, mas quem confia, acredita e sabe que Deus nos conhece e nos confia uma missão, segundo nossas capacidades.

Rezar e celebrar esta liturgia neste final de semana, que celebramos o VII Dia Mundial do Pobre, também nos leva a perguntar sobre os frutos multiplicados, eles estão com quem? Pode-se cair no erro de pensar que os talentos dados, trabalhados e multiplicados é somente para mim. Os talentos foram dados para eu trabalhar, logo os frutos são meus... eu até apresento ao Senhor na intenção de ser mais abençoado, com mais talentos e mais frutos, e vou acumulando, prosperando. Pode-se até ser ativo no trabalho com os dons recebidos, mas em benefício próprio e isso não condiz com o Reino de Deus, que é o que o capítulo 25 de Mateus, seguido a parábola dos talentos vai nos dizer. Os talentos são recebidos para multiplicar, mas a multiplicação é na dinâmica do Reino, para que todos tenham vida e vida em abundância (cf, Jo 10,10).

Na mensagem para este Dia Mundial do Pobre o Papa Francisco, com o texto de Tobias, convida a não afastar do pobre o olhar (Tb 4,7). Na perspectiva da liturgia, a preocupação em multiplicar os talentos e dar furtos não pode fazer-nos indiferentes as realidades de pobreza que estão ao nosso redor, aos pobres ou situações que geram pobreza. Multiplicar talentos pode ser, também, posicionar-se diante de realidades, projetos que só colaboram para o aumento do número de pobres.

Não se pode perder de vista que somos convidados a participar da construção do Reino ao receber talentos a serem multiplicados. E este Reino tem uma dinâmica própria, que é a dinâmica da vida, do amor, da partilha, da solidariedade, da dignidade.... Enterrar os talentos ou multiplicá-los sem partilhar não são atitudes de discípulos e discípulas vigilantes, atentos à chegada do Senhor, que nos pedirá contas da nossa vida, mas também da vida dos irmãos e irmãs.

Como discípulas e discípulos de Jesus não podemos esperar o Senhor de mãos erguidas e de olhos posto no céu, alheios aos problemas do mundo, por isso o convite do Papa: «Nunca afastes de algum pobre o teu olhar» (Tb 4, 7). As discípulas e os discípulos de Jesus, esperam o Senhor envolvidos, comprometidos e ocupados em distribuir a todos os “talentos” que receberam e multiplicaram. São mulheres e homens da esperança, identificados com Jesus Cristo, responsáveis de O testemunhar e que, através de nós, ele continue a olhar, escutar, amar e atender às mulheres e aos homens do nosso tempo.

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