30º Domingo do Tempo Comum - Ano B - Colocar-se a caminho, crescer na fé

Mais Lidos

  • “Devemos redescobrir Deus através do mistério”. Entrevista com Timothy Radcliffe

    LER MAIS
  • Vattimo, cristianismo, a verdade. Artigo de Flavio Lazzarin

    LER MAIS
  • Os de cima vêm com tudo. Artigo de Raúl Zibechi

    LER MAIS

Newsletter IHU

Fique atualizado das Notícias do Dia, inscreva-se na newsletter do IHU


Revista ihu on-line

Zooliteratura. A virada animal e vegetal contra o antropocentrismo

Edição: 552

Leia mais

Modernismos. A fratura entre a modernidade artística e social no Brasil

Edição: 551

Leia mais

Metaverso. A experiência humana sob outros horizontes

Edição: 550

Leia mais

26 Outubro 2018

"Jesus chama um cego mendigo. O forte contraste com o homem rico que se oferece (Mc 10,17-31) reforça a ideia de que entrar para a comunidade dos discípulos e, consequentemente, para o Reino de Deus e receber a salvação não é fruto do mérito, mas algo reservado aos que foram chamados, quem quer que eles sejam.

No Antigo Testamento Deus conduziu o “ resto de Israel” da terra da escravidão para a terra prometida aos pais e portanto herança/direito dos filhos. Situação semelhante o que vivemos hoje, na qual ‘coxos, cegos, gravidas e crianças” atravessam mares para fugir da escravidão. Como nos tempos de Jeremias, vivemos num cenário em que a política internacional e nacional está agitada e turbulenta. Como comunidade, qual é nosso papel neste panorama?

O evangelho convoca-nos a nos colocar a caminho e a crescer na fé iluminadas/os pela luz de Cristo.

Jesus dá autoridade à comunidade de fé para chamar, acolher, agir com misericórdia com aqueles que estão à beira do caminho.

A reflexão é de Rita de Cácia Ló, teóloga leiga, biblista. Ela é graduada em Teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana (2006) e mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2006). Atualmente é professora de estudos bíblicos na Escola de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF, de Porto Alegre/RS.

Referências bíblicas
Jr 42, 31,7-9
Sl Sl 1,1-2. 3. 4.6
Hb 5,1-6
Mc 10,46-52

A primeira leitura (Jr 31,7-9) é uma leitura tirada do “livro das consolações”, mais especificamente dos capítulos referentes à renovação da Aliança (30-31).

No Antigo Testamento, JAVÉ fez várias Alianças com o homem: com Noé, com Abraão. Após a saída do Egito, JAVÉ fez com Moisés a Aliança no Sinai. Após a conquista da Terra Prometida, uma Aliança com Josué. Muito tempo depois, fez uma Aliança com Davi. Sem houve necessidade de se fazer uma “nova” aliança, é porque houve uma grande mudança na situação do povo e a “antiga” já não respondia mais. Se Jeremias diz que é necessário “uma nova aliança”, é porque alguma grande mudança aconteceu.

Mensagens de fundo

JAVÉ anuncia não só a libertação, mas também a reunificação de Israel e Judá. A promessa de uma “nova aliança” é a promessa de reunificação e de restauração de todo o país: os dois reinos voltarão a ser um só.

O “resto de Israel” é expressão profética para designar a esperança de que as tribulações históricas jamais destruirão o povo eleito: haverá sempre uma parte, um “resto” purificado pelo sofrimento, que se manterá fiel a JAVÉ ou que retornará a ele com a conversão. Após a destruição de Jerusalém, o “resto” se encontra no exílio. A volta do resto à terra de Israel garante a continuidade da história da salvação.

A descrição dos que retornam é emblemática: cegos, coxos, grávidas, parturientes. Não são os fortes, mas os fracos e indefesos, a quem é impossível empreender uma viagem de retorno da Babilônia (“o país do norte”) a Jerusalém: a distância é de aproximadamente 1.200 km. Com isso, indica-se que o retorno não é obra humana, mas uma ação de JAVÉ : ele em pessoa conduzirá o “resto”.

A segunda leitura (Hb 5,1-6) apresenta alguns elementos importantes:

- Hb 5,1-10: desenvolvimento do tema “Cristo, sumo sacerdote misericordioso”.

- Características deste sumo sacerdote:

  • natureza humana (v. 1): para poder ter compaixão da fraqueza humana;
  • caráter de mediador (vv. 1-3): serve de ponte (pontífice) entre Deus e os homens;
  • vocação (v. 4): chamado por Deus, e não alguém oferecido;

O Evangelho: Marcos 10,46-52

Em Marcos, há dezenove relatos de milagres realizados por Jesus. Destes, apenas dois acontecem após a confissão de Pedro: o epilético endemoninhado (9,14-29) e o cego Bartimeu (10,46-52). Ou seja, os relatos de milagre estão concentrados na primeira parte do evangelho, isto é, antes de Pedro afirmar “Tu és o Messias” (8,29).

A cura de Bartimeu é o último milagre de Jesus, e acontece antes da entrada triunfal em Jerusalém. Depois de entrar na cidade, fará ainda um ato profético, muitas vezes considerado também um milagre: ele fará secar a figueira (Mc 11,12-14.20-25). Ambos os relatos terminam com um ensinamento sobre a fé:

  • “Tua fé te salvou” : Mc 10,52;
  • “Tende fé em Deus” : Mc 11,22-25.

Deste modo, percebe-se como Marcos utiliza os milagres para orientar o leitor a chegar à mesma conclusão de Pedro: Jesus não é um simples milagreiro; Jesus é o Messias. Mas os milagres não são provas de que Jesus é o Messias; antes, são atos de poder que proclamam a chegada do Reino de Deus. Por isso, os milagres querem nos fazer refletir, querem nos levar à fé e à conversão.

Este é um dos raros milagres de Jesus em que se conhece o nome do miraculado. É o único em Marcos. A preservação do nome de Bartimeu significa que talvez ele fosse conhecido pela primitiva comunidade cristã.

Bartimeu invoca Jesus com o título “Filho de Davi”. É a única vez que alguém chama Jesus com este título. Sem dúvida, equivale a afirmar que Jesus cumpre as promessas messiânicas.

Mensagens de fundo

Relato pode ser lido de modo simbólico: o batismo é o “banho da iluminação”; ser cego equivale a não ter a luz.

No vocabulário da comunidade primitiva, “caminho” é palavra equivalente a “igreja” ou “comunidade”. Deve-se então notar: quando cego, Bartimeu pedia esmolas “à beira do caminho”; depois de curado (= iluminado), ele segue Jesus “pelo caminho”. Em outras palavras:

  • ser cego = não pertencer à comunidade cristã;
  • ser iluminado = pertencer à comunidade cristã.

Mc 10,46-52 funde dois gêneros literários: o relato de milagre e o relato de vocação. Narra-se uma cura, mas o curado torna-se discípulo.

É importante o detalhe: Jesus não chama pessoalmente, e sim ordena que o chamem. Talvez seja um modo de dizer que Jesus continua chamando por meio da igreja; a aceitação deste chamado leva à luz da fé.

Outro detalhe importante: Jesus diz “tua fé te salvou”, e não “curou”. O grupo dos discípulos é o grupo dos destinados à salvação.

Jesus chama um cego mendigo. O forte contraste com o homem rico que se oferece (Mc 10,17-31) reforça a ideia de que entrar para a comunidade dos discípulos e, consequentemente, para o Reino de Deus e receber a salvação não é fruto do mérito, mas algo reservado aos que foram chamados, quem quer que eles sejam.

No Antigo Testamento Deus conduziu o “ resto de Israel” da terra da escravidão para a terra prometida aos pais e portanto herança/direito dos filhos. Situação semelhante o que vivemos hoje, na qual ‘coxos, cegos, gravidas e crianças” atravessam mares para fugir da escravidão. Como nos tempos de Jeremias, vivemos num cenário em que a política internacional e nacional está agitada turbulenta. Como comunidade, qual é nosso papel neste panorama?

O evangelho convoca-nos a nos colocar a caminho e a crescer na fé iluminadas/os pela luz de Cristo.

Jesus dá autoridade à comunidade de fé para chamar, acolher, agir com misericórdia com aqueles que estão à beira do caminho.

“Somos trabalhadores, não mestres de obras, servidores, não messias.
Somos profetas de um futuro que não nos pertence”
(São Romero das Américas)

Leia mais

 

Comunicar erro

close

FECHAR

Comunicar erro.

Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

30º Domingo do Tempo Comum - Ano B - Colocar-se a caminho, crescer na fé - Instituto Humanitas Unisinos - IHU