Ravasi e o multiculturalismo: melhor a interculturalidade

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15 Fevereiro 2011

"O multiculturalismo faliu", disse o premier inglês David Cameron, acionando um debate continental. Uma reflexão que na Igreja já iniciou há tempo, "o que devemos fazer é passar da multiculturalidade à interculturalidade, da coexistência de culturas que não se comunicam à experiência do diálogo. Outro dia tivemos, a respeito, uma reunião de cardeais em vista de um eventual documento", explica o cardeal Gianfranco Ravasi. Ele falou no dia 10-02-2011, no 35º encontro dos bispos amigos do movimento dos Focolari, que é pouco distante da residência estiva do Papa: "É preciso construir um confronto que não seja conflito, no qual os valores também sejam comunicados, mas sem perder a própria identidade: uma espécie de convivência cultural, muito delicada e complexa".

A reportagem é de Gian Guido Vecchi e publicada pelo jornal Corriere della Sera, 11-02-2011.

A fé e a cultura laica, as diversas crenças

O cardeal Ravasi, dirigindo-se a uns setenta bispos do mundo, não esconde quanto seja árduo o processo educativo, "também para os nossos fiéis isso não é fácil". O multiculturalismo "é um dado de fato desde a antiguidade", mas hoje se tornou "emblemático nas cidades, onde se vêem copresenças de identidades culturais diversíssimas", talvez "quase fundamentalismos que estão um ao lado do outro: com faíscas, conflitos".

Disso resulta a necessária passagem ao modelo "intercultural" que se refere à relação com a própria identidade e a do outro: "O diálogo, como diz esta bela palavra grega, pressupõe o dia-logos e, portanto a relação com a própria identidade entre os dois logoi. O que significa que a interculturalidade não tem como meta a identificação, a construção de uma única sociedade globalizada".

O grande biblista escolhe uma imagem musical: "A tentação multicultural era a do duelo: o mais forte consegue ocupar mais espaço. O que devemos criar com a interculturalidade é antes um dueto, que em música pode ser constituído por um baixo e um soprano. O que há de mais diverso destas duas vozes? E, para que haja harmonia, talvez seja necessário que o baixo cante em falsete e o soprano abaixe o tom?" Não, o essencial é "ter uma forte consciência da própria identidade, porque não se faz diálogo sem uma fisionomia, e é este o grande risco da Europa: como dizia Eliot, se o cristianismo se vai, se vai toda a nossa cultura, se vai nossa própria fisionomia".

No entanto, é preciso resguardar-se de "uma dupla enfermidade", adverte o cardeal: "De um lado o fundamentalismo, o excesso de identidade, a identidade agressiva, da espada, que também pode ser cristã; e do outro, o sincretismo cultural, a superficialidade, a banalidade, a estupidez, a amoralidade, uma generalidade incolor, insossa e inodora, a névoa cultural que hoje domina". Eis a dificuldade: "Deves ter uma consciência forte dos teus valores e simultaneamente respeitar os dos outros. Saber escutar, sem por isso imitar...".

O cardeal Ravasi, com o "Átrio dos gentios" solicitado por Bento XVI, iniciou um diálogo entre teologia e cultura laica que nos dias 24 e 25 de março o conduzirá a Paris: da Sorbonne à Unesco e à Academia. "É fatigoso, mas possível: o problema é o baixo nível, não o ateísmo culto, mas a indiferença..."

Em Castel Gandolfo estava também o cardeal Miloslav Vlk, que foi ordenado sacerdote durante a Primavera de Praga e constrangido pelo regime a trabalhar como lavador de vidraças. Ele evocou a experiência de perseguido, sua escolha de "abraçar a Cruz como Jesus", em analogia a quanto acontece hoje, "a fé colocada às margens, a refutação dos valores cristãos". No entanto, ele pôs em guarda contra veleidades cruzadas: "Talvez tenhamos uma fé muito débil, e então surge o medo. É preciso, ao invés, fazer a experiência do Evangelho e, com base nesta, testemunhar: os outros o sentem".

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