14 Fevereiro 2012
Um raio no céu azul no patriarcado de Bucareste, a mais alta autoridade da Igreja Ortodoxa Romena. No dia 1º de fevereiro, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos de Estrasburgo deu razão a cerca de 30 popes, confirmando o seu direito de criar um sindicato.
A reportagem é de Mirel Bran, publicada no jornal Le Monde, 08-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Batizado de "O Bom Pastor", ele nasceu em 2008, em Craiova, no sudoeste da Romênia. A iniciativa atraiu os rancores do patriarcado, que já havia proibido a organização. Muito eloquente foi o comunicado emitido naquela época: "O padre não é empregado de uma empresa e, portanto, não pode entrar em greve. Não pode desatender à sua missão, que é a de batizar as crianças, celebrar o matrimônio dos esposos e administrar os sacramentos para os seus fiéis, por considerar insuficiente o seu salário. O patriarcado lembra que os salários dos religiosos não são negociáveis porque são fixados pelo Estado".
Mas os popes, que recebem metade do seu salário do Estado (o restante é assegurado pela contribuição dos fiéis), não se renderam. Eles contestaram por vias legais a decisão da sua hierarquia, fazendo todos os recursos possíveis até à Justiça europeia.
Oficialmente, 87% dos romenos aderem à fé ortodoxa, e a influência dos popes na vida pública é considerável. Desde a queda da ditadura comunista, há 22 anos, a Romênia se enriqueceu com 4.000 igrejas construídas com os fundos públicos. Ao mesmo tempo, o número de escolas diminuiu pela metade e inúmeros hospitais estão em ruínas por causa da falta de financimento.
Mas a Igreja Ortodoxa tem em grande consideração o seu patrimônio. A queda do regime comunista levou ao colapso do sistema de proteção social, e muitos romenos encontram ajuda junto à Igreja.
Os popes aproveitaram-se disso recuperando as propriedades nacionalizadas. Hoje, a Igreja romena possui 80 mil hectares de terras e de florestas, e o seu patrimônio está estimado em 3 bilhões de euros. Nas escolas, a religião é uma disciplina obrigatória, e a Igreja pretende reforçar a sua influência, especialmente em tempos de crise.
No entanto, a riqueza da Igreja é sobretudo apanágio dos níveis mais altos da hierarquia, o que criou alguns mal-estares na base, onde os pequenos popes se organizam para defender seus interesses.
Primeira vitória
O patriarcado encontra-se hoje diante da decisão do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos que dá razão aos sindicalistas de batina. A alta hierarquia ortodoxa expressou sua raiva em um comunicado publicado no dia 2 de fevereiro: "Esperamos que o Estado romeno conteste fortemente essa decisão inadequada. Estamos convencidos de que o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos irá corrigir a decisão concernente ao sindicato autointitulado 'O Bom Pastor', que não leva em conta o funcionamento dos cultos religiosos em um Estado democrático".
Mas, por enquanto, a decisão da instância europeia foi tomada, e o patriarcado deve pagar 10 mil euros de ressarcimento aos sindicalistas. Uma primeira vitória do sindicato dos popes.