Os católicos conservadores norte-americanos e o Papa Francisco. Artigo de Massimo Faggioli

Mais Lidos

  • Para a professora e pesquisadora, o momento dos festejos natalinos implicam a escolha radical pelo amor, o único caminho possível para o respeito e a fraternidade

    A nossa riqueza tem várias cores, várias rezas, vários mitos, várias danças. Entrevista especial Aglaé Fontes

    LER MAIS
  • Frente às sociedades tecnocientífcas mediadas por telas e símbolos importados do Norte Global, o chamado à ancestralidade e ao corpo presente

    O encontro do povo com o cosmo. O Natal sob o olhar das tradições populares. Entrevista especial com Lourdes Macena

    LER MAIS
  • Diante um mundo ferido, nasce Jesus para renovar o nosso compromisso com os excluídos. IHUCast especial de Natal

    LER MAIS

Assine a Newsletter

Receba as notícias e atualizações do Instituto Humanitas Unisinos – IHU em primeira mão. Junte-se a nós!

Conheça nossa Política de Privacidade.

Revista ihu on-line

Natal. A poesia mística do Menino Deus no Brasil profundo

Edição: 558

Leia mais

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

18 Outubro 2013

Os católicos conservadores são os mais céticos com relação às novas ênfases do pontificado de Bergoglio. O fato de essas vozes céticas virem dos Estados Unidos tem a ver com a sua cultura política – que está levando o país ao default, à falência: àquilo que o Papa Francisco quer evitar para a Igreja Católica.

A opinião é do historiador italiano Massimo Faggioli, professor de história do cristianismo da University of St. Thomas, em Saint Paul, nos EUA. O artigo foi publicado no sítio HuffingtonPost.it, 16-10-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

O Papa Francisco encontrou até agora uma aprovação quase universal, mas se há um país onde os católicos estão divididos sobre Bergoglio é a Igreja de estrelas e listras. Um artigo publicado pelo jornal The Washington Post no dia 15 de outubro de 2013 colocava o dedo na ferida, oferecendo uma plataforma jornalisticamente crível para uma plateia de católicos que usualmente fala para si mesma e para os seus adeptos, nos seus círculos, nas suas revistas, nos seus blogs.

Mas o problema é real e é típico da Igreja norte-americana e das suas especificidades. De um lado, há uma questão de relação entre católicos e não católicos norte-americanos, ou, se se quiser, um problema de "cotas de mercado": um papa ecumênico demais e acolhedor demais, que rejeita o mecanismo da exclusão para construir uma identidade religiosa, corre o risco, aos olhos dos católicos identitários norte-americanos, de enfraquecer a "marca" católica.

Mas há uma questão mais interessante, interna ao catolicismo norte-americano: a Igreja dos EUA é altamente polarizada e dividida em seu interior. A Igreja Católica nos EUA vive em estreito contato com um ambiente democrático e, em particular, em uma democracia que não é "consensual" como as democracias europeias baseadas em alianças multipartidárias, mas é uma democracia "concorrencial", isto é, com dois partidos políticos alternativos. Nesse contexto democrático-competitivo, a Igreja Católica absorveu alguns desses mecanismos no seu interior, também no que diz respeito ao ethos da participação na Igreja.

A participação na Igreja dos EUA é guiada frequentemente por visões "competitivas", alternativas, ao invés de instintos "consensuais". Fica claro assim por que os "valores inegociáveis" tornaram-se tão importantes para o catolicismo norte-americano: não só por causa do proverbial puritanismo dos norte-americanos (incluindo católicos), mas também por causa da cultura política norte-americana. O ethos democrático tornou-se parte da cultura da Igreja, mas na Igreja dos Estados Unidos isso criou mais "concorrência" do que "consenso".

O Papa Francisco iniciou o seu pontificado reabrindo programaticamente as portas para uma longa série de excluídos de uma Igreja de tendências neoexclusivistas. É óbvio que os católicos conservadores são os mais céticos com relação às novas ênfases do pontificado de Bergoglio. O fato de essas vozes céticas virem dos EUA tem a ver não só com a cultura religiosa norte-americana, mas também com a política – que está levando o país ao default, à falência: àquilo que o Papa Francisco quer evitar para a Igreja Católica.