“Há perfis de santidade nos médicos que combatem o ebola”

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Por: André | 16 Dezembro 2014

“Há perfis de santidade nos médicos e voluntários que combatem o ebola”. O padre Veneziano Milani, coordenador da Fundação Nigrizia e presidente da Associação Arena de Paz e Desarmamento, viveu em primeira pessoa a dupla moral do Ocidente em relação à epidemia na África. “As primeiras mortes remontam a 1976, no Congo; depois, em 2000, em Uganda, foi contagiado em um hospital e perdeu a vida inclusive um médico protestante: alguns estudos científicos identificaram curas e protocolos de saúde, mas nunca foram desenvolvidos, porque as mortes ocorriam apenas em países africanos”. Ao contrário, “agora que foram registrados casos em pacientes ocidentais, entra em ação a opinião pública e também uma campanha de pesquisa em grande escala”. O padre Milani acaba de festejar os 50 anos de sua ordenação sacerdotal e de atividade missionária na Congregação dos Combonianos. Além disso, é o fundador da associação internacional Mãos Estendidas, que luta contra a fome e promove o desenvolvimento. “O Papa Francisco conhece bem o compromisso dos missionários contra o ebola”, assegurou.

 
Fonte: http://bit.ly/1qITdLq  

A entrevista é de Giacomo Galeazzi e publicada no sítio Vatican Insider, 13-12-2014. A tradução é de André Langer.

Eis a entrevista.

Os agentes de saúde e os voluntários que combatem o ebola são o personagem do ano, segundo a revista estadunidense Time. É um reconhecimento que pode servir para derrotar a epidemia?

Os voluntários que combatem o ebola foram eleitos pela revista Time pelas ações incansáveis de coragem e misericórdia, por terem dado um pouco de tempo ao mundo para aumentar suas defesas, por terem arriscado, persistido, sacrificado e salvado. Posso garantir que se necessita muito mais que coragem e heroísmo para arriscar a própria vida para defender os últimos dentre os últimos. Há uma marca de santidade em sua total dedicação. O drama é a hipocrisia do Ocidente.

Quais são as culpas do Ocidente?

Isso já havia acontecido com a aids. Enquanto uma epidemia faz estragos na África, não interessa muito. Os gigantes farmacêuticos não obtêm vantagens econômicas investindo na pesquisa de remédios que irão para faixas sociais de indigentes. Desta vez se repetiu o mesmo roteiro trágico. Para que começasse a experimentação para as vacinas teve que haver alguns casos de contágios no Ocidente, frente a milhares de africanos que morreram pelo vírus. É como os massacres provocados pelos 35 conflitos esquecidos que, atualmente, ensanguentam as zonas mais desesperadas do mundo. Cada ano gasta-se em armas, em nível mundial, algo em torno de 1,74 bilhão de dólares, ou seja, 3,3 milhões de dólares por minuto.

Qual é o estado da luta contra o ebola?

A Organização Mundial da Saúde declarou que as vacinas para os países mais afetados estarão disponíveis a partir do primeiro semestre de 2015. Segundo a Unicef, 2014 foi um ano devastador para as crianças, com um milhão de menores expostos a conflitos armados, ao ebola e a diferentes formas de tortura. A agência para a infância das Nações Unidas destacou que este ano nasceram novas ameaças muito graves para a saúde e o bem-estar das crianças, em particular a epidemia de ebola em Guiné, Libéria e Serra Leoa, que deixou milhares de crianças órfãs e cerca de cinco milhões que tiveram que abandonar a escola. Quinze milhões de crianças estão envolvidas em conflitos violentos na República Centro-Africana, Iraque, Sudão do Sul, nos Territórios Palestinos, na Síria e Ucrânia, incluídos os deslocados e os que vivem como refugiados internos. Muitas crianças foram assassinadas enquanto estavam na escola ou enquanto dormiam, em suas camas; outras ficaram órfãs, foram torturadas, recrutadas ou mesmo vendidas como escravas. Nunca, na história recente, tantas crianças se viram expostas a tanta brutalidade.

Armas em vez de pesquisa médica?

Sim. É um rio inesgotável de dinheiro que se rouba dos pobres, do bem-estar social, dos países do Sul do mundo, da luta contra o ebola e outras doenças que reduzem drasticamente a esperança de vida nos países em desenvolvimento. A Itália não é nenhuma exceção: é o segundo maior produtor mundial de armas ligeiras e o 10º em armas pesadas. E agora quer comprar 90 caças F-35, que custarão 50 bilhões de euros, enquanto a crise coloca de joelhos milhões de italianos. O mundo só espera a paz. É necessário ouvir “o grito dos que choram, sofrem e morrem por causa da violência”, como disse o Papa Francisco.

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