25 anos depois do massacre dos jesuítas

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17 Novembro 2014

"Havia sangue por toda parte. Dom Rivera y Damas, arcebispo de San Salvador, pronunciou uma oração fúnebre. Depois, se virou para mim, que estava ao seu lado, e me disse: 'Foram os mesmos assassinos de Dom Romero'." No dia 16 de novembro, exatamente há 25 anos desde aquela manhã de 16 de novembro de 1989, quando um jovem jesuíta invadiu a casa do arcebispo para anunciar o massacre dos seis irmãos que dirigiam a Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas (UCA).

A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada no jornal Avvenire, 16-11-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Naquele novembro, Dom Rivera y Damas tomava café da manhã com o seu auxiliar, Gregorio Rosa Chávez. Foi este último que contou ao jornal Avvenire, não sem comoção, a corrida frenética para a prestigiosa universidade.

"Chegando ao jardim, vimos os corpos espalhados pelo chão": Ignacio Ellacuría, reitor, teólogo e filósofo, Ignacio Martín Baró, vice-reitor e psicólogo, Segundo Montes, sociólogo, Amando López, Juan Ramón Moreno, Joaquín López y López, todos os três teólogos.

Exceto o padre López y López, os outros eram espanhóis de nascimento e salvadorenhos por opção. "Eu conhecia o Pe. Ellacuría desde que eu tinha 15 anos: ele tinha sido meu professor de ciências sociais no seminário. Foi o primeiro de quem eu ouvi a palavra 'ecologia'. Em 1977, quando eu voltei para El Salvador depois dos estudos em Louvain, nós nos reencontramos: ambos colaborávamos com o então novo arcebispo, Óscar Arnulfo Romero", conta Rosa Chávez, bispo auxiliar de San Salvador.

"O Pe. Ellacuría me transmitiu o interesse pela realidade em que vivíamos, cuja compreensão é um dever evangélico para se tornar fermento e luz da história. Com cada um dos 'seis da UCA', eu aprendi alguma coisa: com o Pe. Moreno, a profundidade na direção espiritual, com o Pe. López y López, o amor pela educação popular, dos outros, o rigor intelectual e a paixão pela busca autêntica."

Junto com os seus cadáveres, naquela manhã, por uma cruel coincidência, também havia os da cozinheira, Julia Elba Ramos, e a filha de 16 anos, Celina. Poucas horas antes, as duas tinham batido na porta da universidade para escapar dos esquadrões da morte, que, na época da guerra civil, dilaceravam San Salvador. Elas não podiam imaginar que eles as perseguiriam até dentro da "casa" dos jesuítas. Não era a primeira vez que a máquina repressiva salvadorenha violava descaradamente igrejas e conventos, que os pastores eram trucidados junto com os seus rebanhos.

Por outro lado, teria sido "muito triste se os sacerdotes não tivessem compartilhado o destino de perseguição do seu próprio povo", dizia Romero. Ele foi o exemplo mais emblemático da Igreja encarnada no martírio de El Salvador: uma bala dilacerou o coração enquanto ele celebrava a missa na capela do Hospitalito, no dia 24 de março de 1980.

O massacre da UCA fez com que o país caísse no mesmo pesadelo. Dilacerante, por mais anunciado que fosse. Os nomes do Pe. Ellacuría e dos outros religiosos, assim como antes o de Dom Romero, estavam escritos no topo das listas de morte que os "falcões" do regime entregavam aos capangas. Aos seus olhos, jesuítas e arcebispo compartilhavam a "mesma culpa": a paixão, requintadamente evangélica, pelos "crucificados da história", segundo a expressão do Pe. Ellacuría.

Daí a sua opção pelos pobres, entendida não como escolha de classe, mas como fidelidade a Cristo e à sua Boa Nova. Por isso, dedicaram a vida. E, por isso, ofereceram-na conscientemente. Por isso – como disse o arcebispo Rivera y Damas –, os responsáveis eram os mesmos, mesmo que materialmente tenham atingido mãos diferentes.

Na UCA, por admissão do então presidente Cristiani, tinham atuado o batalhão Atlacatl do Exército. Nove militares foram processados, condenados e imediatamente liberados com várias artimanhas. Os mandantes, identificados depois da assinatura dos acordos de paz por uma comissão da ONU, nunca foram perseguidos.

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