"Combate-se o fanatismo com o conhecimento", afirma Edgar Morin

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17 Novembro 2015

"Não, não estou nada de acordo com o presidente Hollande", diz Edgar Morin, logo ao descer do palco do Palacongressi de Rimini, na Itália. Ele devia falar de "O islamismo explicado aos nossos estudantes" a 5.000 professores que vieram de toda a Itália para o 10º Congresso sobre a "Qualidade da integração escolar e social", mas a noite de Paris mudou tudo, especialmente em escuridão.

A reportagem é de Mattia Feltri, publicada no jornal La Stampa, 16-11-2015. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

No entanto, ninguém se rende, cada um à sua maneira. A maneira de Morin tem a ver com a sua biografia do século XX e imersa no novo milênio, que, de forma muito breve, para aqueles que não a conhecem, assim se resume: 94 anos, nascido com o sobrenome Nahoum em Paris de família judaica, entrou na Resistência antinazista com o nome de batalha Morin, comunista que rompeu no imediato pós-guerra com o Partido Comunista Francês pelas suas críticas a Stalin. É conhecido como o filósofo da complexidade, tão convencido de que a vida é cheia de bordas e fendas, e não lisa e perfeito como uma esfera; para ele, isso vale ainda mais.

"Eu não estou de acordo com o presidente Hollande. O fanatismo é combatido com o conhecimento e com a imposição da paz, especialmente no Oriente Médio." Ele parou por alguns minutos para algumas perguntas e evidencia o seu aborrecimento com os tons militaristas levantados no Palácio do Eliseu e dos quais uma grande parte da França está cada vez mais ansiosa.

"Vocês, na Itália, mas também na Alemanha, combateram as Brigadas Vermelhas e os terroristas negros. Eu encontrei alguns deles, eram jovens que tinham chegado a compreender a loucura pela qual tinham sido arrastados, como se uma janela tivesse se aberto diante deles, inundando-os de luz. Ninguém nasce terrorista. Tem-se uma ideologia, uma fé, uma alucinação. Mas se livra disso e vê que é apenas horror pode ajudar os outros, ainda cegos".

Uma vezmais, Morin disse que a resposta ao fanatismo não é a doçura, mas o conhecimento. Precisamente, o conhecimento da complexidade. À plateia muda, consequentemente, ele oferece detalhes rápidos – talvez não completamente desconhecidos – sobre os parentescos estreitos entre as três religiões monoteístas, sobre Jesus, profeta dos muçulmanos, sobre o judaísmo encaixado em Maomé, sobre os séculos de convivência, de extenuante tolerância, de aberta hostilidade. Ele não quer dar uma lição de história, diz, "mas gostaria que ficasse clara a situação e que ela pode ser superada".

Ele é aplaudido com predisposição, as polêmicas por causa das conversas com Tariq Ramadan, que culminaram com o livro "O perigo das ideias," não tiveram acesso aqui. É apenas um longo prólogo para a solução altamente ambiciosa que Morin propõe em três pontos.

"Primeiro, para quem tem papéis educativos: não devemos ensinar religião, mas introduzir o conhecimento das religiões, porque a religião não é uma invenção da Cúria, como dizia Voltaire, mas, como dizia Marx, é o suspiro da criatura infeliz."

O segundo ponto tem a ver com o multiculturalismo: "A Itália, como a França e a Espanha, é uma nação multicultural. Na Itália, não existem apenas os filhos dos latinos, há os sicilianos que têm raízes árabes, há os piemonteses e os trentinos, povos que se integraram depois da unidade. No entanto, é uma integração ainda não concluída, que, no Norte, resiste a uma visão racista do Sul".

Não concluída, mas a caminho, e nada impede mais integrações, diz, contanto que a escola saiba contar uma história universal, e não partidária, e, portanto, inclusiva.

O terceiro ponto é provavelmente o mais difícil de abraçar, é "a imposição da paz", expressão tão paradoxal, tão estridente diante dessas horas de sangue: o que foi "o sonho de Lawrence da Arábia, uma grande confederação do Oriente Médio, com liberdade de culto e liberdade étnica. Lamento que a França reivindique um papel guerreiro. Gostaria que ela tivesse um papel de conciliadora". Se ela tivesse a força, se todos a tivéssemos, diz, avançaria uma nova visão que tiraria água do terrorismo islâmico, o dissecaria, salvaria a humanidade já terrivelmente ameaçada "pela degradação das biosferas e pela especulação financeira".

Cultivemos, diz, uma alternativa "ao Deus que, ao ser invocado, cometeram-se mais mortes do que com as armas nucleares".

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