07 Abril 2022
Aproximando-se da visita papal em julho, os bispos católicos da República Democrática do Congo exigiram dos padres que têm filhos para que procurem a laicização e cuidem de suas famílias.
A reportagem é de Lucie Sarr, publicada por La Croix, 06-04-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Desde o começo do ano, uma dúzia de padres católicos na RD Congo foram demitidos do seu estado clerical por razões que nunca ficaram claras.
Os releases de imprensa anunciando a demissão atraíram a atenção justamente por seus vieses evasivos.
No mais recente, no final de março, a Diocese de Tshumbe, no centro do país, disse que havia demitido três padres sem dar qualquer razão. As perguntas foram recebidas com um muro de silêncio.
Agora está sendo revelado que a Conferência Episcopal do Congo - CENCO recentemente publicou um documento interno de 19 páginas, datado de 04 de março, que pede para os padres que têm filhos largarem o sacerdócio para cuidar das crianças.
O documento, intitulado “Na Escola de Jesus Cristo: por uma vida sacerdotal autêntica”, visa “romper o silêncio” sobre esta dolorosa questão.
Os bispos, que revisaram o texto durante sua assembleia plenária de março, ainda não divulgaram o documento fora dos círculos clericais.
Os bispos congoleses expressam pesar no texto, “observando” que os padres “não levam uma vida sacerdotal autêntica”.
Eles enfatizam “a incompatibilidade da responsabilidade da paternidade com o ministério e a vida sacerdotal no sistema católico romano” e insistem na necessidade de esses padres adotarem “um comportamento responsável em relação aos filhos nascidos de uma mulher e um padre”.
Eles exigem dos padres para que “cuidem completamente das crianças e solicitem ao Santo Padre uma dispensa das obrigações sacerdotais”.
Caso o padre em questão não esteja disposto a fazê-lo, o documento pede ao bispo que “apresente o caso à Santa Sé para a pena máxima de demissão do estado clerical”.
Os bispos congoleses lembram que em muitos países do mundo existem associações para filhos de sacerdotes.
Elas “visam tirar do anonimato e ajudar psicologicamente as muitas pessoas nascidas de uma relação entre uma mulher e um padre”.
Os bispos insistem que agora é hora de fazer justiça às mulheres e crianças que são vítimas dessas situações e são obrigadas a viver na clandestinidade.
“Elas pedem reconhecimento e acompanhamento”, dizem os bispos em seu documento.
Essas crianças são consideradas “frutos do pecado” na sociedade congolesa.
“Não basta mais insistir e persuadir, essas atitudes dificultam a correção dos culpados e semeiam confusão e escândalo entre os fiéis”, insiste o documento.
É por isso que “o padre que gera filhos precisa tanto da misericórdia como da reprovação da Igreja”.
Os bispos congoleses também exaltam as virtudes do celibato e acreditam que “muitos padres” vivem fielmente seus compromissos sacerdotais, oferecendo um testemunho que edifica o povo de Deus.
Mas eles observam que o celibato é desafiado por vários fatores, incluindo “a inclinação ou impulsos instintivos que devem ser educados”.
Eles reconhecem que existe também “o movimento de liberdade sexual que está se globalizando e não deixa a Igreja intocada”, bem como o “peso cultural em certos ambientes, que não conhece nenhuma proibição no nível sexual e que exige limpeza”.
Finalmente, os bispos dizem que parte da culpa se deve à “pobreza material ou à miséria que não incentiva a prática das virtudes”.
O novo documento interno foi enviado a todos os padres das 48 dioceses da RD Congo em 4 de março, apenas um dia após o anúncio oficial de que o Papa Francisco visitaria o país de 2 a 5 de julho.
O momento foi apenas uma coincidência? Uma coisa é certa: desde o início de seu pontificado, o Papa Francisco fez da luta contra todo tipo de abuso na Igreja uma de suas grandes batalhas.
Enquanto era arcebispo de Buenos Aires, já se manifestou sobre o assunto em uma entrevista em livro com o rabino Abraham Skorka, intitulado “Sobre o céu e a terra”.
“Se um padre vem a mim e diz que engravidou uma mulher, eu gradualmente o ajudo a entender que a lei natural tem precedência sobre seus direitos como padre”, explicou.
“Como resultado, ele tem que deixar o ministério e assumir a responsabilidade pela criança, mesmo que decida não se casar com a mulher”, disse o futuro papa. “Porque se ele tem o direito de ter uma mãe, a criança também tem o direito de ter um pai com rosto”.
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Congo. Bispos exigem laicização dos padres com filhos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU