15 Março 2016
"O risco é que Francisco não consiga ser igualmente revolucionário na sua ação interna. Mesmo quando ele se lançou contra as 15 doenças da Cúria, ele permaneceu, por enquanto, como profeta", afirma o teólogo italiano Vito Mancuso, professor da Universidade de Pádua.
A reportagem é de Adriana Comaschi, publicada no jornal L'Unità, 14-04-2016. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Professor, qual foi a sua primeira impressão sobre esse papa?
Não poderia ter sido mais positiva. Lembro-me que eu estava ao vivo no telejornal TG3, veio a fumaça branca, e havia aquele boato sobre a eleição de Scola. Eu estava desconfortado, pensava que a Igreja deveria sair da Europa. Imagine o que significou ver esse homem que veio "do fim do mundo", que escolhe o nome de Francisco, que se declara bispo de Roma, em vez de Sumo Pontífice. Eu estava comovido.
Bergoglio é visto como um pontífice revolucionário. Você concorda?
É preciso distinguir entre um Papa Francisco que fala ao mundo, profeta, de um Papa Francisco pastor, governador, que fala à Igreja. Quanto ao primeiro, esse rótulo pode existir: é o único líder mundial que fala de justiça, de igualdade, de defesa dos direitos dos últimos, poderíamos dizer "de esquerda". Veja-se a sua encíclica Laudato si', que apresenta uma forte ligação entre duas almas, a ambiental e a social, com o conceito de ecologia integral. E depois há o seu testemunho pessoal, porque ele também é líder por aquilo que faz, e Bergoglio tem uma grande coerência, e não só nos últimos três anos, mas toda a sua vida demonstra isso.
E o Francisco "pastor"?
Não houve a mesma performance, mas essa não é uma opinião minha: o fato é que há muito descontentamento em alguns setores conservadores da Igreja, mesmo entre o clero jovem. O risco, então, é que ele não consiga ser igualmente revolucionário na sua ação interna. Mesmo quando ele se lançou contra as 15 doenças da Cúria, ele permaneceu, por enquanto, como profeta: ao contrário, eu gostaria que, às denúncias, se seguissem ações de governo mais incisivas, em suma, que ele estivesse mais atento a passos estruturais, nomeações e decisões. Um pontífice tem o direito e o dever de fazer isso, e também o poder necessário. Dou um exemplo: sobre leigos e mulheres, ele disse palavras muito bonitas de abertura. Se a Igreja Católica ainda não está madura para o sacerdócio das mulheres, que se comece, então, a discutir concretamente o diaconato feminino, do qual o Novo Testamento também fala.
No entanto, ele deve lidar com resistências muito fortes, você não acha?
Certamente, há uma fratura na Igreja entre aqueles que gostariam que ela permanecesse idêntica a si mesma e aqueles que aceitam a mudança. Basta pensar na distância definida ainda como "intransponível" pelo cardeal Kasper no Sínodo sobre a família entre a doutrina da Igreja e a práxis dos fiéis em matéria de ética sexual. Mas a força do seu pontificado também será medida na frente interna. E, se a pobreza é anunciada, a vida luxuosa de alguns cardeais deve mudar.
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"Um grande líder mundial. Mas agora precisa reformar a sua Igreja." Entrevista com Vito Mancuso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU