2015 será o ano do desenvolvimento sustentável ou da estagflação climática?

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15 Janeiro 2015

"Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agregação de boas intenções, mas não tocam no essencial do processo de acumulação de capital, não tem mecanismos para interferir e reduzir o complexo militar global que gasta mais de um trilhão e meio de dólares por ano, não contém metas para reduzir as atividades antrópicas e nem para deter a depreciação do capital natural", escreve José Eustáquio Diniz Alves, doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE, em artigo publicado pelo portal EcoDebate, 14-01-2015.

Eis o artigo.

“Terra!
És o mais bonito dos planetas
Tão te maltratando por dinheiro
Tu que és a nave nossa irmã”
(O Sal da Terra, Beto Guedes)

O ano de 2015 será um momento decisivo para se definir a concepção do desenvolvimento sustentável e a mitigação do aquecimento global.

O consultor internacional Jeffery Sachs, em artigo otimista (09/12/2014), argumenta que eventos que vão ocorrer no atual ano trarão a maior oportunidade da nossa geração para mover o mundo em direção ao desenvolvimento sustentável. Ele cita três negociações de alto nível, entre julho e dezembro, que podem remodelar a agenda global: a) em julho de 2015, os líderes mundiais vão se reunir em Addis Abeba, na Etiópia, para traçar as reformas do sistema financeiro global; b) em setembro, as lideranças se reunirão na sede da ONU para aprovar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que devem orientar as políticas nacionais e globais até 2030; c) em dezembro, os líderes se reunirão em Paris para adotar um acordo global para conter o aquecimento global.

Para Sachs, o objetivo fundamental destas Cúpulas é colocar o mundo no curso do desenvolvimento inclusivo e sustentável. O que, para ele, significa um modelo de crescimento que gera padrões de vida decentes; beneficia a sociedade através da distribuição de renda; e protege o ambiente natural.

Porém, existem várias indicações de que o sistema financeiro internacional vai continuar concentrador de renda e seguirá controlado pelos interesses do Norte Global. Há críticos que mostram que o desenvolvimento sustentável não passa de uma maquiagem verde para um modelo de acumulação de capital que degrada o meio ambiente e diversos analistas consideram que ao invés de um acordo climático para reduzir significativamente as emissões de gases de efeito estufa (GEE), o que poderemos ter é uma estagflação climática.

De fato a reforma do Fundo Monetário Internacional (FMI) não sai do papel e a onda de valorização do preço das commodities que favoreceu o Sul Global parece ter chegado ao fim, o que vai prejudicar o crescimento dos “países emergentes” e pode encerrar o processo de convergência da renda entre os países ricos e pobres. O bloco dos BRICS (acrônimo criado no âmbito do banco Goldman Sachs) pode se desintegrar com a crise do Brasil, da Rússia e da África do Sul. Os BRICS estão cada vez mais dependentes da China.

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) são uma agregação de boas intenções, mas não tocam no essencial do processo de acumulação de capital, não tem mecanismos para interferir e reduzir o complexo militar global que gasta mais de um trilhão e meio de dólares por ano, não contém metas para reduzir as atividades antrópicas e nem para deter a depreciação do capital natural. As alternativas propostas pelos ODS continuam dependentes do “crescimento econômico sustentado” para resolver os problemas de emprego, educação, saúde e redução da pobreza. Mas o desenvolvimento tem sido o principal vetor da degradação ambiental e não será com mais crescimento econômico que o meio ambiente será protegido e o fluxo metabólico entrópico será revertido.

Na 20ª Conferência das Partes da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – COP20 – que aconteceu entre os dias 01 e 12 de dezembro de 2014, em Lima, Peru, os resultados foram fracos e mais uma vez não se chegou a um compromisso para reduzir as emissões de GEE e manter o aquecimento global no limite dos dois graus. O Fundo Verde de 100 bilhões de dólares anuais ainda não saiu do papel. A Concentração de CO2 na atmosfera já ultrapassou 400 partes por milhão e continua a aumentar.

Como a América Latina e o Brasil estão demonstrando, as emissões continuam mesmo com baixo crescimento econômico. Isto é o que Carlos Rittl (18/12/2014), do Observatório do Clima, chama de “estagflação climática”: “A intenção desse conceito é chamar a atenção para a disparidade de um aumento significativo das emissões e o baixo crescimento econômico”.

O quadro global não é bom. No Brasil, em especial, o ano de 2015 pode ser acompanhado não só de estagflação climática, mas também da estagflação econômica, com aumento do desemprego e da pobreza. As recentes manifestações de rua são o prelúdio de uma ano movimentado. O mito do desenvolvimento sustentável pode mostrar a sua verdadeira face.

Referências:

SACHS, Jeffrey D. The Year of Sustainable Development, Project Syndicate, 09/12/2014

RITTL , Carlos. Nos últimos anos o Brasil virou as costas para o meio ambiente, IHU, 18/12/2014

 

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