12 Setembro 2013
Há, sobretudo, "a genialidade de um pastor capaz de apresentar a doutrina católica de um modo original para o homem do século XXI", afirma John L. Allen Jr., um dos mais atentos observadores dos sagrados palácios romanos. Dessa genialidade ele está ainda mais convencido depois da carta aos não-crentes.
A entrevista é de Marco Bardazzi e publicada pelo jornal La Stampa, 12-09-2013. A tradução é da IHU On-Line.
Ontem Allen leu a carta e a releu, sentado num aeroporto americano, enquanto esperava um vôo para Chicago. Entre as coisas que constata o vaticanista da CNN e do National Catholic Reporter é a fonte de inspiração do papa Francisco: o falecido cardeal Carlo Maria Martini.
Eis a entrevista.
Como entra aí o ex-arcebispo de Milão?
Vamos por ordem. Quando Francisco faz gestos como telefonar para pessoas desconhecidas ou responde às cartas, não está seguindo uma estratégia escrita em algum lugar escondido. É a sua personalidade. São gestos que faz genuinamente como fazia na Argentina. Mas, atenção: na Argentina fazia de tudo para estar longe dos refletores. Concedia pouquíssimas entrevistas. Se há um ano alguém andasse por Buenos Aires com a foto do cardeal Bergoglio, poucos o teriam reconhecido.
Não era uma estrela da mídia, mas como Papa demonstra que sabe usá-la muito bem. O que lhe parece?
Sim, sem dúvida, e aqui emerge outro aspecto que o caracteriza. Não é, seguramente, um ingênuo. É um jesuíta e como tal tem uma vocação missionária e a capacidade de compreender o mundo. Neste sentido, creio que o exemplo do cardeal Martini lhe é bem presente. Quando diz "quem sou eu para julgar um gay?", não faz mais que repetir o catecismo. Mas explicado para o homem de hoje. O mesmo vale para as reflexões sobre a consciência que que fez na carta a Eugenio Scalfari. Tudo perfeitamente aderente à ortodoxia católica, mas o movimento para escrever para um jornal e a um não-crente coloca tudo num contexto novo e original.
São opções que fez sozinho? Qual é o papel, neste momento, dos seus colaboradores mais próximos?
São iniciativas pessoais. Ele decide sozinho. Neste sentido, ele é muito diferente de Bento XVI que avaliava todas as propostas com as pessoas que lhe eram próximas e asssim decidia o que fazer.
Não é a única diferença entre os dois pontifices.
Não. Ratzinger falava uma linguagem sem dúvidas, mais adequadas aos trabalhos e era muito bom em reagir às provocações do mundo, mais do que em tomar iniciativas. Os eventos muitos vezes o constrangeram a jogar na defesa, enquanto Francisco vai ao ataque como João Paulo II.
Mas também neste caso, com diferenças, não?
Wojtyla era um papa vigoroso, que enfrentava o mundo: colocava as mãos sobre as costas e batia forte. Francisco, ao contrário, usa o método do carinho.
Que problemas Francisco cria para os seus colaboradores com o seu modo de comunicar?
De um certo ponto de vista, com ele é, sem dúvida, mais difícil lidar do que com Bento XVI, porque as pessoas que lhe são próximas não sabem o que pode acontecer. Por outro lado, creio que ele trouxe um alívio, porque nos últimos anos eles tiveram que, sobretudo, sempre reagir: vejamos os casos do bispo negacionisa Williamson ou do mordomo Paolo Gabriele. Agora, se devem reagir, é quase sempre às coisas positivas e a iniciativas tomadas pelo Papa.
Você não pensa que o alívio esteja ligado também ao fato que o Papa, agindo seguindo a sua cabeça, torna mais leve o peso das responsabilidades dos outros?
Sim, também existe este aspecto. Acho que isso é inegável. Todos sabem que este é um pontífice que age sozinho. Era assim que agia como arcebispo na Argentina. Isto representa um perigo: se algo der errado, sobre ele cairão todas as culpas.
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Francisco "age sempre sozinho e estimula que o sigam" - Instituto Humanitas Unisinos - IHU