21 Junho 2013
A equiparação "crescimento social igual a crescimento da qualidade de vida" chegou ao absurdo. Um aumento no PIB não diz nada sobre a distribuição da riqueza dentro da sociedade.
A opinião é do pastor evangélico alemão Walter Lechner, de Frauenhain, um dos líderes da iniciativa cristã "Crescer de forma diferente" (Anders wachsen). O seu objetivo: a Igreja Evangélica na Alemanha deve assumir essas questões com uma ampla campanha pública.
O artigo foi publicado no sítio Publik-forum.de, 16-06-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
As duas grandes Igrejas da Alemanha trabalham em um novo documento social, chamado Sozialinitiative. No entanto, o documento está sendo escrito a portas fechadas. As altas hierarquias não parecem interessadas em envolver a base.
Ao mesmo tempo, existem nas Igrejas e em suas comunidades inúmeras iniciativas e conceitos corajosos, que indicam caminhos para uma sociedade justa e sustentável. Por isso, o Publik-Forum oferece na sua "Aktion Sozialwort 2013" um fórum para essas associações, organizações de base e indivíduos.
Eu acho que um documento social das Igrejas pode estar à altura da sua ação de orientação e de transformação social se reivindicar o abandono do conceito de crescimento econômico como finalidade social fundamental e se se comprometer fortemente com alternativas.
A equiparação "crescimento social igual a crescimento da qualidade de vida" chegou ao absurdo. Um aumento no PIB não diz nada sobre a distribuição da riqueza dentro da sociedade. O crescimento econômico na Alemanha hoje só serve para a fome de lucro dos grandes patrimônios financeiros, mas praticamente não acrescenta nada à maioria da população.
Ao contrário, o crescimento econômico é obtido às custas dos mais pobres. Isso é comprovado não só por catástrofes como recentemente o desabamento de uma fábrica com mais de mil mortes em Bangladesh, onde empresas de roupas ocidentais exploram sistematicamente as pessoas e aumentam o crescimento econômico nos nossos países através dos seus lucros. Milhões de alemães, que há anos sofrem por causa da consequente redistribuição de baixo para cima, vivem isso na pele.
É loucura apostar obstinadamente no crescimento econômico diante dos recursos escassos e da aceleração cada vez mais rápida das mudanças climáticas. Todos os anos, o Global Overshoot Day, isto é, o dia do calendário a partir do qual os recursos consumidos superam a capacidade da Terra de se regenerar, avança cada vez mais e, atualmente, chegou a agosto.
Todo crescimento do PIB arrasta necessariamente consigo uma crescente exploração abusiva de recursos naturais. Como podemos nós, alemães, que provocamos, em média, per capita, o quíntuplo (!) das emissões ainda toleráveis de dióxido de carbono, pensar seriamente que se pode obter mais ecologia com mais crescimento econômico? Uma dissociação absoluta entre crescimento econômico e crescente consumo de recursos não é possível!
Uma sociedade que, sem se autolimitar, constrói continuamente o aumento do bem-estar material e dele se torna totalmente dependente perdeu todo senso de limite e fez do excesso a medida de todas as coisas e o seu ídolo.
Uma Igreja que conhece a alternativa do Reino de Deus e está envolvida nessa escala deve recusar a obediência ao dogma do crescimento econômico que reivindica a falta de alternativas e deve iniciar um debate na sociedade por um projeto de uma sociedade "pós-crescimento".
A rejeição do crescimento econômico abre novas possibilidades de crescimento: na cultura, na fé, no tempo, no saber, nas relações, na criatividade, no voluntariado, na justiça, no cuidado com a criação. Em que queremos realmente crescer? Jesus diz: "Onde está o teu tesouro lá está o teu coração" (Mateus 6, 21).
"A economia precisa de alternativas para o crescimento". Desse pedido –, defendido por inúmeros importantes representantes das Igrejas, como Margot Kässmann, Katrin Göring-Eckardt, diversos bispos e bispas, pastores, padres e por mais de 3.000 assinantes de um abaixo-assinado (Petition an die EKD, disponível no sítio www.anderswachsen.de) –, nenhum documento social das Igrejas pode simplesmente passar pela frente, se quiser ser crível e influenciar em uma transformação social e ecológica da sociedade.
Qual é a finalidade da nossa sociedade? Como se define a qualidade de vida? Com qual medida podemos medir o desenvolvimento social? A Igreja, pela sua relação com Deus, tem algo importante a dizer sobre essas questões fundamentais da nossa existência. E deve fazê-lo.