16 Abril 2012
Uma equação envolvendo a situação brasileira de pleno emprego e a tradição gaúcha de acolher imigrantes resulta em refugiados estrangeiros que encontram no Estado a tão esperada terra de oportunidades. Todos os adultos entre os 232 refugiados que vivem no Rio Grande do Sul estão trabalhando, segundo a Associação Antônio Vieira (Asav), organização não-governamental que atua nos reassentamentos locais.
A reportagem é de Léo Gerchmann e publicada pelo jornal Zero Hora, 16-04-2012.
O tema estará na pauta de evento que ocorre na Capital, hoje e amanhã, coordenado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) e pelo Ministério do Trabalho. A oficina terá como tema emprego e renda para refugiados no Brasil.
De acordo com dados do Comitê Nacional para Refugiados (Conare), o Brasil abriga 4,5 mil refugiados, de 77 nacionalidades diferentes. No Rio Grande do Sul, vivem cerca de 232 refugiados, a maioria de origem colombiana e palestina. Essa população é atendida pela Asav em 13 diferentes municípios gaúchos.
– Todos os refugiados adultos estão trabalhando e as crianças estudando. É uma situação de pleno emprego desse contingente no Estado. Muitos deles até escolhem trabalho. Isso se deve à gana deles e ao momento de pleno emprego no país – diz Karin Wapechowski, coordenadora do projeto gaúcho de reassentamento.
Os refugiados que vivem no Rio Grande do Sul são beneficiados pelo Programa de Reassentamento Solidário, do governo federal, com apoio do Acnur e da Asav. Trata-se de pessoas que não se integraram no primeiro país de refúgio. Cerca de 10% dos refugiados no Brasil estão nessas condições, e mais da metade reside em cidades gaúchas.
O Acnur trata de aperfeiçoar seus métodos. Estabeleceu a parceria com a Asav e resolveu problemas que levaram, anos atrás, refugiados a retornarem insatisfeitos para suas terras de origem. Há cuidados especiais em prometer com clareza o que pode e cumprir o que promete.
O foco da oficina é identificar oportunidades de emprego e mecanismos de aperfeiçoamento nessa meta, que favoreçam qualificação profissional, microcrédito e acesso ao mercado de trabalho com sustentabilidade.
Nas duas oficinas anteriores (uma em São Paulo e outra no Rio), foi criado o Programa de Apoio para a Recolocação de Refugiados (Parr), um banco de dados com currículos de refugiados disponibilizados para empresas interessadas em contratar estrangeiros.
O colombiano Julio Bolaños, 38 anos, é gerente do bar Estação Bangalô, em Bento Gonçalves, na Serra. Ex-policial na Colômbia, passou a ser perseguido pelas guerrilhas após o fracassado processo de paz do final dos anos 1990. Refugiou-se com a família no Equador e, depois, foi reassentado no Brasil. No Bangalô, chama a atenção dos clientes por entender de bebidas (ele é um sommelier). Chegou a ser instrutor de enologia no Senac.
– Tenho três filhos, a menina nasceu aqui. Não cogito voltar – diz.
Trabalhando no comércio, como atacadista, o iraquiano Sabah Tawfiq, 32 anos, também está adaptado. Há cinco anos, Tawfiq chegou ao Estado. Ele vive em Esteio. Casou-se com a gaúcha Hélida Letícia, 27 anos, e tem um filho gaúcho, Adão Kahleb, de um ano e nove meses.
– Forneço roupas para os primos – conta, referindo-se a varejistas árabes na Região Metropolitana.
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RS emprega refugiados - Instituto Humanitas Unisinos - IHU