De frente para as potências

Mais Lidos

  • Niceia 1.700 anos: um desafio. Artigo de Eduardo Hoornaert

    LER MAIS
  • A rocha que sangra: Francisco, a recusa à OTAN e a geopolítica da fragilidade (2013–2025). Artigo de Thiago Gama

    LER MAIS
  • Congresso arma pior retrocesso ambiental da história logo após COP30

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

23 Setembro 2011

"Dilma é a primeira voz a cobrar fiscalização da ONU também às potências nucleares", escreve Jânio de Freitas, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 23-09-2011.

Eis o artigo.

O discurso franco, direto e sólido com que Dilma Rousseff abriu a Assembleia Geral da ONU recebeu ontem, em pronunciamento seu na Reunião de Alto Nível Sobre Segurança Nuclear, uma continuação com as mesmas qualidades para uma cobrança sem precedente às potências nucleares. E particularmente importante por sua projeção sobre o futuro brasileiro.

Não há razão, como disse Dilma, para que as potências nucleares não sejam submetidas à fiscalização, por parte da comissão tecno-científica da ONU, a que os demais países estão sujeitos.

Lembrou o pronunciamento que, além de tal omissão conceder status especial àquelas potências no mundo, há notícia de que a combinação de cortes forçosos de gasto e alto custo de manutenção dos arsenais nucleares tem, como consequência, a insuficiência na manutenção de ogivas e depósitos.

Um perigo alarmante. Não só para os detentores dos arsenais. Para o mundo.

Dilma Rousseff é a primeira voz a cobrar a fiscalização também às potências, o que suscita a possibilidade de que sua atitude derive em um movimento incipiente dos países desnuclearizados, e ainda assim sob risco.

O limite de Dilma, porém, não é a fiscalização sem discriminações e privilégios de poder: "O desarmamento nuclear é fundamental para a segurança, pilar do Tratado de Não Proliferação cuja observância as potências devem ao mundo".

Desarmamento é a meta, portanto. Fundamental para a segurança, sim. Lembrar quais são as potências nucleares, no entanto, contrapõe-se à constatação seguinte: "É importante ter num horizonte previsível a eliminação completa e irreversível das armas nucleares".

Não há como contar com a concordância, para sequer esboçar um horizonte previsível, de Estados Unidos, França, Israel, Grã-Bretanha, Rússia, potências de ansiedade belicista, e ainda a China convicta da necessidade de prevenir-se para a reação do Ocidente neste século que se promete chinês.

No que respeita ao Brasil, o pronunciamento de Dilma Rousseff vale como certificação de que em seu governo não prosperará projeto que objetive um arsenal nuclear.

A menos que se faça sob segredo total, como se deu no governo Sarney, com a ação coligada, vinda desde a ditadura, de militares e cientistas de Brasil, Israel e África do Sul ainda do apartheid.

Nessa projeção implícita em seu pronunciamento, Dilma Rousseff distingue-se de Lula. Foram muitas e claras as demonstrações da fraqueza, industriosa ou por falta de convicções próprias, dadas por Lula em questões militares ou de militares.

Desde a complacência com desfeitas como as do então ministro-general Francisco Albuquerque (aquele que tomou lugares em avião lotado da TAM) a negócios precipitados e "projetos" do desmedido Nelson Jobim. Há mais um motivo para compreender-se a presença de Celso Amorim no Ministério da Defesa.