28 Mai 2011
"Se há planetas gigantes livres, é provável que existam também muitos outros em órbitas distantes de suas estrelas-mãe", escreve Marcelo Gleiser, professor de física teórica no Dartmouth College, em Hanover (EUA), em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 29-05-2011.
Eis o artigo.
As manchetes desses dias estavam repletas de descobertas cósmicas espetaculares. Já que o mundo não acabou, podemos voltar ao nosso assunto mais usual, a exploração de como funciona a natureza, aprofundando nosso conhecimento sobre o Universo em que vivemos.
Hoje, escrevo sobre a descoberta de um grupo de astrônomos liderados por takahiro sumi, da Universidade de Osaka, no Japão. Após anos de observações, o grupo concluiu que existem cerca de 400 bilhões de planetas ciganos na nossa galáxia, circulando pelo espaço.
Esse número é duas vezes maior do que o de estrelas na Via Láctea.
Considerando planetas são objetos que orbitam estrelas, a descoberta é mesmo surpreendente.
Talvez um nome melhor seja planetas órfãos, já que se desgarraram de suas estrelas-mãe. É possível que tenham sido ejetados de seus sistemas solares devido à instabilidades na dinâmica de suas órbitas ou, menos provável, que tenham órbitas extremamente alongadas.
A descoberta sugere que nosso sistema solar, com quatro planetas gasosos gigantes a grandes distâncias do sol, não seja uma raridade.
Buscas por exoplanetas (que giram em torno de estrelas que não o sol) tendem a achar planetas grandes perto de suas estrelas. Num sistema planetário, o centro de massa não se encontra exatamente no centro da estrela devido à contribuição das massas dos planetas.
A situação é um pouco como a de duas crianças, uma bem gordinha e outra bem magrinha, numa gangorra: o ponto de equilíbrio é perto da gordinha,mas não nela. tanto a estrela quanto os planetas giram em torno do centro de massa e não do centro da estrela. Isso causa uma pequena variação na luz da estrela, quando observada a distância, o chamado efeito Doppler.
Baseados nessa variação, astrônomos podem calcular a massa e o número de planetas em órbita.
Quanto mais massivos e mais próximos da estrela estiverem os planetas, maior o efeito que causam e mais fácil a sua detecção.
Outra técnica, o método do trânsito, mede a diminuição da luz da estrela quando um planeta passa a sua frente. Aqui, também, quanto maior e mais próximo da estrela estiver o planeta, mais fácil a sua detecção. O satélite Kepler da nasa já detectou possivelmente 1.235 exoplanetas com este método. A nova descoberta utiliza um outro método, chamado de microlentes gravitacionais. Baseado na teoria da relatividade de Einstein, usa a curvatura do espaço causada por grandes concentrações de massa que distorce a luz que passa à sua volta.Quando um planeta passa em frente a uma fonte de luz, ele pode na maioria das vezes aumentá-la.
Foram detectadas dez aumentos desse tipo causados por planetas gigantes sem uma estrela-mãe, o que implica em centenas de bilhões de planetas órfãos.
Se existem tantos planetas gigantes livres, é provável que existam muito sem órbitas não tão próximas de suas estrelas. tal como Júpiter, saturno, Urano e netuno, esses gigantes protegem os planetas internos contra possíveis colisões com asteroides e cometas.
A nova descoberta sugere que, talvez, não sejamos os únicos seres a dar graças a vizinhos gigantes.
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Os planetas ciganos da galáxia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU