Breves do Facebook

Foto: Pixabay

17 Novembro 2021

 

Cesar Benjamin
 

As veias do Brasil.

 

Marcos Schmidt em Grupo de Divulgação de Estudos: Ciências e Afins

 

As veias do Brasil: arco-íris das bacias hidrográficas do território nacional

O impressionante mapa colorido como o arco-íris mostra o padrão de rede dos caminhos feitos por cada corpo hídrico brasileiro, registrados em todos os 27 Estados utilizando bases públicas de dados.

O maior conjunto identificado em azul é a Bacia do Rio Amazonas, na região norte do país. Representadas em outras cores, podemos ver as outras oito bacias que compõe a hidrografia brasileira, a partir das quais a Agência Nacional de Águas (ANA) entende a gestão e regulação dos recursos hídricos no Brasil, criando as bases para leis e demais regulações pertinente à todos.

Este mapa foi elaborado por Bruno Pinheiro, pesquisador de Gestão em Políticas Públicas na USP, que dedica parte de seu tempo realizando mapeamentos sob novas perspectivas. O trabalho que inspirou essa iniciativa está publicado no website Grasshopper Geography, desenvolvido por Robert Szucs, plataforma que reune mapas de bacias hidrográficas de diferentes partes do mundo, representadas nestas mesas cores vibrantes.

Para produzir este tipo de imagens o pesquisador utilizou como recurso o software open-source QGIS e a base de dados utilizada é a disponibilizada pelo site HidroWeb da ANA no formato shapefile (.shp), especificamente os shapes Hidrografia 1:1.000.000 (2010) do catálogo disponível.

Grupo de Divulgação de Estudos: Ciências e Afins.

(É um ato gentil manter os créditos do grupo no texto, assim como foi a gentileza da pesquisa disponibilizada. Obrigado!!).

 

 (Foto: Bruno Pinheiro e Carlos Diego)

 

 

Domingos Roberto Todero

 

Idade de ouro das fraudes

Por Marcio Pochmann |14/11/21

Os bilionários improdutivos que vivem do rentismo

Em apenas dez anos, a economia brasileira desceu do posto de sexta maior do mundo, alcançado em 2011, para a décima terceira colocação no ranking projetado dos países para 2021. Com o decrescimento do PIB per capita na década passada acumulado em 4,7%, fica evidente o registro de que o país empobreceu, embora pouquíssimos e seletivos segmentos sociais privilegiados tenham continuado a enriquecer, sobretudo pela ascensão do sistema de pilhagem.

No ano de 2011, por exemplo, o Brasil tinha 30 pessoas com fortunas acima de um bilhão de dólares (5,5 bilhões de reais) segundo avaliação da revista Forbes, sendo que a metade delas declarou depender da herança familiar para alavancar seu patrimônio. Juntos, os 30 bilionários contabilizaram uma fortuna total estimada em US$ 131,4 bilhões, o que equivaleu a 5% do total do PIB brasileiro de 2011.

Dez anos depois, a mesma revista apontou a existência de 65 bilionários no Brasil, cujo valor total das fortunas alcançou a soma de US$ 223,3 bilhões, ou seja, 16% do PIB estimado para o ano de 2021. Enquanto o número de bilionários foi multiplicado por 2,2 vezes, o total das fortunas aumentou 70% e a participação relativa dos bilionários no PIB subiu 191% entre 2011 e 2021.

Para um país que demonstra não conseguir gerar riqueza nova, difundiu-se na borda da classe dominante a estética do dinheiro velho (Old Money), fundamentado no continuado processo de financeirização do estoque das fortunas derivadas de heranças. Acumuladas, em geral, no passado, por gerações que deixaram de existir, a linhagem atual dos enriquecidos se associa crescentemente à pilhagem do Estado como mecanismo necessário para prosseguir valorizando de forma fictícia o estoque da riqueza puída.

As reformas trabalhistas e previdenciárias, bem como a própria mudança constitucional para abrigar o teto de gastos públicos não financeiros, exemplificam o quanto a guerra de classes sociais se deslocou para o interior do fundo público. Diante da escassez de riqueza nova, a imposição de maior espaço fiscal transcorre através da pilhagem orçamentária em favor da ostentação da estética do dinheiro velho aos já muito ricos e novos enriquecidos no país.

Ao mesmo tempo, cresce de importância a cultura do “meu patrocínio primeiro” (Sugar Baby), rapidamente incorporada pela diversa classe dirigente que busca ascender, mais recentemente mobilizada por fraudes de toda natureza (titularidade acadêmica e curricular, negociatas e outros). Pelo impulso da ascensão social a qualquer preço, o país se transforma numa espécie de cercado a mercantilizar de tudo o que paira sob o sol, fazendo-o retroceder aos tempos da acumulação primitiva exercida pela pilhagem dos ativos nacionais e riquezas naturais.

É neste contexto de fortunas duvidosas e de origem controversa, em fomento por uma elite-ralé, que o lumpesinato brasileiro ganha maior dimensão, reproduzindo-se em marcha forçada. Ao contrário da classe trabalhadora que se encontra vinculada às atividades produtivas, ainda dispondo da possibilidade de representação sindical e de alguns direitos sociais e trabalhistas, o lumpesinato constitui segmento crescente da população que, descolado da geração do excedente econômico, busca sobreviver a qualquer custo possível atribuído pela captura de parte da renda de outros segmentos sociais (assalariados, autônomos e empresários).

A decomposição da sociedade brasileira, expressa pela expansão da lumpenização do mundo do trabalho, resulta da prosperidade do rentismo parasitário que converte a política nacional em mais um negócio no interior do curso geral de pilhagem nacional. O resultado tem sido a efetivação da barbárie social exposta mundialmente como vitrine de um país que acompanha docemente o rebaixamento de suas principais instituições públicas.

Numa economia em decadência como a brasileira, o encurtamento da riqueza coloca maior centralidade no Estado e, sobretudo, no seu fundo público. Por isso se dá o aparelhamento do setor estatal, crescentemente ocupado por representantes de hordas do lumpesinato que, a serviço da elite-ralé, operam o governo de plantão voltado aos seus apoiadores para atender o requisito de evitar a derrota na próxima eleição.

A desfiguração de órgãos públicos como os de controle que se domesticam para favorecer grupos dominantes também transcorre no legislativo que opera um orçamento de ficção, fingindo seguir regras, locupletando operadores de “rachadinhas”, de emendas obrigatórias e expropriação de funcionários públicos, entre outras modalidades do exercício da pilhagem. No poder público, a realidade do desmonte não tem sido diferente, com ministério travestido de balcão de negócios operados na compra de vacinas falsas e difusão de mentiras reproduzidas em plataformas e redes sociais que garantem dinheiro de publicidade e reconhecimento de seguidores.

Assim, a reprodução social assentada na delinquência mudou mais recentemente a dinâmica da política nacional. Daí o sucesso da extrema direita, que se viabiliza convertendo a política em mais um negócio rentável a consolidar a idade de ouro das fraudes no Brasil – que segue ladeira abaixo.

 

André Vallias

 

Dostoiévski antecipou ressentimento e hipersensibilidade do século 21

João Pereira Coutinho

1. Nos 200 anos do nascimento de Fiódor Dostoiévski, tirei da estante os livros do russo que me acompanharam na adolescência. Quais os títulos que estão no pódio?

Eu diria, por ordem decrescente, "Os Irmãos Karamázov", "Os Demônios" e "O Idiota". Mas, para ser honesto, o primeiro que verdadeiramente li — e que verdadeiramente me rachou a cabeça — foi "Memórias do Subsolo".

Reli-o agora, só para confirmar se o personagem central ainda me assombra como antigamente. Confirmo. Ali está o mais perfeito retrato da mentalidade ressentida que conheço — aquela mistura paradoxal de superioridade e inferioridade que leva o ressentido a ver no mundo e nos outros a repugnância que ele sente por si próprio.

Na adolescência, essas coisas ganham contornos literários, distantes, irreais. Mas, na meia idade, já foi possível experimentar o cardápio completo — em nós e nos outros.

Uma passagem, aliás, revela bem a intemporalidade de Dostoiévski: quando o narrador nos confessa sua hipersensibilidade, o prazer que sente quando o seu amor-próprio é ferido pelo princípio da realidade. Mais: ele procura a ofensa, ele busca a vileza como se o sentimento de humilhação validasse a sua vida sem sentido.

Sorri. Será preciso dizer que essa hipersensibilidade tomou conta do mundo?

Olho em volta. Tudo que vejo são ressentidos que se comprazem nas suas ofensas, reais ou imaginárias, como se não pudessem viver sem elas. Sem saber, Dostoiévski antecipava o clima moral do século 21.

Mas, antes do 21, há o século 20, claro. Também aqui o homem do subsolo é profético ao contestar a ideia iluminista de que o ser humano só comete ignomínias porque não conhece seus melhores interesses.

A esse otimismo delirante, o homem do subsolo responde com um pensamento simples e brutal: existe na destruição, e até na autodestruição, um prazer que os racionalistas são incapazes de aceitar.

E bastam esses caprichos sanguinários e absurdos para que todos os sistemas humanistas se desfaçam em pó.

2. O mundo se divide em dois tipos de pessoas: as que gostam dos filmes de Wes Anderson e as que não gostam.

As segundas sentem que o diretor não é propriamente um diretor; é um adulto manipulando seus brinquedos em cenários propositadamente artesanais. As histórias, essas, "não têm sentido" —são mera coleção de esquetes, com diálogos que soam em duas escalas musicais distintas.

Os primeiros, entre os quais me incluo, gostariam de visitar aquele mundo, vestindo calças de bombazina (amarelas), blazers de veludo (verde) —e uma fita de jogador de tênis na cabeça. Por mim, andaria de barco com Steve Zissou, não me importaria de jantar na casa dos Tenenbaums e passaria umas férias no Grande Hotel Budapeste.

Embora, aqui entre nós, o meu sonho fosse mesmo escrever para The French Dispatch, a revista editada em Ennui-sur-Blasé (que nome! Tédio-sobre-Apatia!), e que vai para as bancas, perdão, para os cinemas do Brasil na próxima quinta.

O filme começa com uma triste notícia: a morte do diretor da revista, o lendário Arthur Howitzer, Jr. (Bill Murray, quem mais?). Com a morte, a revista publicará o seu último número (e o obituário de Arthur, naturalmente). Mas, antes de o pano descer, haverá tempo para folhearmos a revista e as suas seções principais.

Tudo começa com as notícias sobre Ennui-sur-Blasé (compiladas por Herbsaint Sazerac, ou seja, um hilariante Owen Wilson). Segue-se um longo ensaio sobre o pintor Moses Rosenthaler (Benicio del Toro), um demente do manicômio local que se tornou uma estrela da arte moderna.

Depois, haverá também tempo para os existencialistas revolucionários da cidade (uma espécie de reprise do Maio de 68 em que as lutas entre os estudantes e o poder político se resolvem jogando xadrez).

E tudo termina com o crítico gastronômico Roebuck Wright (Jeffrey Wright) envolvido num sequestro com comida envenenada. Sim, The French Dispatch mimetiza a estrutura da revista New Yorker, sobretudo quando liderada por Harold Ross e William Shawn.

(Hoje, a revista sucumbiu à sensibilidade "woke" de uma forma tão extrema que teria matado de infarto todos os comensais da mesa redonda do hotel Algonquin).

O tom, esse, é uma homenagem ao trio mais divino que o jornalismo americano foi capaz de produzir: os humoristas Robert Benchley, James Thurber e S.J. Perelman, que pairam sobre cada fotograma com suas histórias surreais e risadas insanas.

Quem disse que a nostalgia, a matéria-prima de Wes Anderson, usava sempre cara séria?

João Pereira Coutinho

Escritor, doutor em ciência política pela Universidade Católica Portuguesa. | FSP 15.11.2021

 

Faustino Teixeira

 

Altman. Muito séria essa questão do distanciamento de certo núcleo da esquerda com respeito ao novo regime climático. Uma esquerda que não entendeu ainda a sério a questão da Amazônia. Não há como hierarquizar a questão da desigualdade social com respeito ao novo regime climático. Não são assuntos distintos e que devem ser tratados separadamente. Em verdade, diz Eliane, "não tem nada superior à emergência climática, ela atravessa tudo". Isso é o que precisamos saber com urgência.

 

 

Marta Gustave Coubert Bellini

 

 

 

Marta Gustave Coubert Bellini

 

 

 

Marta Gustave Coubert Bellini

 

 

 

Faustino Teixeira

 

"Conforme dados do Pew Research Center, centro de pesquisas em demografia e dados de religião, cerca de 84% da população mundial professa alguma religião. O estudo "O Futuro das Religiões no Mundo: projeções 2010-2050" indica ainda o crescimento de fiéis —serão 2,92 bilhões de cristãos (católicos e protestantes, em maioria) em 2050 (contra os 2,17 bilhões em 2010), sem contar que o número de muçulmanos dobrará, alcançando 2,76 bilhões (em vez do 1,6 bilhão que havia em 2010)". Isabel Gnaccarini | FSP, 17/11/21